"Alteri ne facias quod tibi fieri non vis" Não faças aos outros o que não queres que te façam
sábado, 10 de julho de 2010
Marcas do GRE na "casa de matar"
Um lugar ermo, no meio de uma mata e conhecido como "casa de matar". O sítio de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de matar Eliza Samudio, talvez seja o ponto de partida para investigações de um histórico de crimes macabros cometidos por um grupo de extermínio. Além de Bola, entre os criminosos, estariam homens da tropa de elite da Polícia Civil.
As denúncias de que o sítio era usado como centro de treinamento do Grupo de Resposta Especiais (GRE) foram confirmadas pela reportagem de O TEMPO que, ontem, entrou na propriedade no bairro Coqueirais, em Esmeraldas. Também há denúncias de que, no local, tenham ocorrido cerca de 50 assassinatos.
No terreno do ex-policial civil, exonerado há 18 anos, há uma série de indícios que tornam o lugar, no mínimo, suspeito. Um contêiner com a logomarca da Polícia Civil e da antiga Secretaria de Segurança Pública está fechado com cadeados.
Por uma pequena janela, foi possível observar estruturas de madeira, que parecem servir como camas. Há vários manequins usados como alvos para a prática de tiro. Alguns, ainda não utilizados.
Dois veículos sem placas e repletos de marcas de tiros integram o cenário. Em um barranco, a sigla GRE foi desenhada na terra. A profundidade da marca chama a atenção, assim como uma cabeça de boi pendurada em um pedaço de madeira.
Mais à frente, vários pneus estão dispostos - como paredes - para formar cômodos improvisados.
O caminho do sítio que adentra a mata é todo de areia fofa, marcado por muitas pegadas - o que dá a entender que o local foi frequentado recentemente.
Bola é acusado de matar a ex-namorada do goleiro Bruno com requintes de crueldade. Os métodos seriam os mesmos usados contra outras vítimas, conforme denúncias feitas à reportagem por um agente da Polícia Civil: primeiro a pessoa era esquartejada, depois queimada dentro de pneus. Restos que sobravam eram dados para cachorros.
Explicações. Na quinta-feira, a assessoria da Polícia Civil havia negado que o sítio de Bola tenha sido usado para treinamento do GRE. No entanto, ontem, após reportagem publicada por O TEMPO, a corporação voltou atrás.
Em nota, a polícia informou que o "sítio alugado por Bola foi usado para treinamento de policiais do GRE em 2008 e meados de 2009, por meio de cessão gratuita. O espaço deixou de ser utilizado quando a Corregedoria Geral de Polícia recebeu uma denúncia, em 2009, de que um crime havia ocorrido no local no ano anterior. O caso está sendo investigado."
Mas, segundo os vizinhos, o local continua movimentado. Moradores afirmam que costumam ouvir tiros vindos do sítio. O último barulho teria ocorrido há 15 dias. As testemunhas também revelaram a presença constante de policiais no local. O sítio de Bola também seria palco de festas nos fins de semana.
O ex-policial tem uma vida marcada por confusões. Ele foi acusado por furto, extorsão, formação de quadrilha e por porte ilegal de armas.
Perguntas que precisam ser respondidas pela polícia - O que objetos da Polícia Civil faziam no sítio? - Por que o GRE usou o sítio de um policial exonerado e com ficha criminal para treinamento? - Por quais motivos o local ainda abrigava grande quantidade de munição? - Qual a relação de Bola com agentes os do GRE? - Qual o andamento das investigações da Polícia Civil sobre a atuação de um suposto grupo de extermínio? - Por que Bola, que é amigo de policiais, foi o único dos detidos a usar um capuz para esconder o rosto ao chegar na delegacia na quinta-feira?
Apesar da gravidade das denúncias que envolvem policiais de elite do Grupo de Resposta Especial (GRE), o inquérito encontra-se parado na corregedoria da Polícia Civil desde outubro do ano passado. Aproximadamente dez dos 22 agentes que faziam parte do GRE em 2009 são acusados de irregularidades, como compra fraudulenta de veículos, extorsão, ameaças de morte e ação em grupo de extermínio.
A reportagem de O TEMPO obteve detalhes sobre as denúncias. Em 5 de fevereiro do ano passado, dois integrantes do grupo foram surpreendidos por policiais militares em Contagem. Eles se preparavam para matar uma pessoa, mas fugiram e abandonaram o veículo em que estavam, um Fiat Uno Preto, que, segundo dados do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran/MG), até hoje está apreendido.
Segundo registro da polícia, o carro foi avistado parado em um ponto de tráfico de drogas no bairro Urca, divisa de Contagem com Belo Horizonte. No boletim consta que, ao ser abordado, o motorista do Uno teria fugido.
Ainda segundo a ocorrência, o condutor praticou "direção perigosa, contramão e subiu no meio-fio", até o bairro Confisco, na região da Pampulha, onde o motorista parou e conseguiu fugir. Não consta no registro militar o nome de nenhum proprietário de veículo, uma vez que o automóvel está financiado por um banco.
Segundo o site do Detran, o veículo possui registradas três multas: uma na capital e duas em Contagem, todas por excesso de velocidade. Somadas, as multas chegam a R$ 297,95. Todas as autuações foram tomadas entre os dias 4 e 17 de janeiro do ano passado.
Um dos integrantes do grupo de extermínio seria Gilson Costa, que foi transferido do GRE para o Departamento Estadual de Operações Especiais (Deoesp). Ele é vizinho de Bola, em Esmeraldas, região metropolitana de Belo Horizonte.
Os dois seriam amigos, tanto que, assim que soube que seria preso, Bola teria ligado para Gilson contando que iria se matar. Gilson, Bola e cerca de outros oito policiais do GRE estariam envolvidos no grupo de extermínio. O caso foi denunciado por Júlio Monteiro no ano passado, quando ainda era inspetor do GRE. A corregedoria da Polícia Civil abriu inquérito que encontra-se com o promotor Alexandre Campbell, mas não há informações claras sobre o andamento das investigações. A maioria dos policiais que eram do GRE até o ano passado foi transferida para outras delegacias da capital, inclusive Júlio Monteiro, que atua na Seccional Noroeste.
Comando teve cinco delegados A disputa pelo poder rachou o Grupo de Resposta Especial (GRE), considerado a tropa de elite da Polícia Civil. Desde a sua criação, pelo menos cinco delegados estiveram à frente da unidade. Atualmente, o grupo é comandada por Élcio Sá Bernardes, que não comenta sobre as denúncias. O GRE cresceu e acabou despertando o interesse de muitos policiais. Contudo, apenas 30 entre 10 mil homens conseguem fazer parte da corporação. Fuzis, submetralhadoras, espingardas calibre 12 e pistolas calibre 40 integram o armamento. São dez viaturas e um helicoptero. (TM)
Denúncias de compra fraudulenta de veículos, extorsão e até crimes de ameaças e ação de um grupo de extermínio mancharam a imagem do Grupo de Resposta Especial (GRE), criado em 2004 para ser uma espécie de tropa de elite da Polícia Civil de Minas.
As acusações estão sendo apuradas pela Corregedoria Geral da Polícia Civil. O Ministério Público acompanha as denúncias, a pedido da Comissão de Direitos Humanos.
Escolhidos a dedo, delegados, inspetores, subinspetores e agentes que integram o GRE têm issões de alto risco, que exigem treinamento especializado.
De acordo com a Polícia Civil, os únicos endereços utilizados para treinos do GRE ficam nos bairros Taquaril, na região Leste, e Gameleira, na parte Oeste da capital. Nesse último está localizada a Academia de Polícia do Estado de Minas Gerais (Acadepol). (TM)
es por ano.