Caso as organizações policiais brasileiras fossem submetidas a uma
auditoria privada que analisasse os gastos com pessoal – da formação ao
salário – em função das atividades exercidas pelos profissionais,
encontrariam muitos desacertos. É que, por um lado, há gente assumindo
atribuições que exacerbam suas competências e recompensas, enquanto
outros precisam abdicar de sua função hierárquica para desempenhar
tarefas que exigem menos responsabilidade.
Em algumas polícias civis, por exemplo, não é raro que, na falta de
um delegado, por motivos vários, um escrivão ou mesmo um agente assuma a
função daquela autoridade, lavrando autos de prisão onde o doutor
contribui apenas com sua assinatura no documento. Nas polícias
militares, há oficiais que, em vez de gerenciar o policiamento que lhe
deveria ser atribuído, acaba sendo empregado como comandante de
guarnição/viatura, até por ausência de policiamento para gerenciar – em
uma cidade em que o policiamento se resume a duas viaturas, por exemplo,
como se falar em gerenciamento?
O contrário também ocorre: há delegados de polícia que, por falta de
efetivo em sua delegacia, acabam atuando de maneira múltipla, se
improvisando no papel de auxiliar de si próprio: é a velha estória do
time que cobra o escanteio e cabeceia. Há, também, policiais militares
que, embora devessem trabalhar apenas auxiliando seu superior
hierárquico, acabam tornando-se protagonistas no seu setor, autorizados
pela omissão do seu chefe.
Dificilmente uma empresa minimamente rigorosa em sua gestão,
preocupada com suas despesas, sobreviveria deste modo. Uma sapataria que
contrata um gerente, dando-lhe formação e salário diferenciado, e o
emprega como vendedor, está subutilizando seu capital, do mesmo modo que
existem implicações trabalhistas e motivacionais quando se dá
atribuição não correspondente à faixa hierárquica de um funcionário,
como no caso do vendedor que atua como gerente.
É claro que a modernidade tem prezado por profissionais dinâmicos,
com múltiplas competências e flexíveis em seu ambiente de trabalho. Mas,
nas polícias, o improviso tem virado regra, o plano B destituiu o plano
A de sua precedência, e o que deveria ser eventualidade tornou-se
cotidiano.
Fonte: http://abordagempolicial.com/2012/03/oficiais-viram-pracas-escrivaes-viram-delegados/
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