A
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 300, proposta em 2008, estipula
a criação de um piso nacional para policiais civis e militares. No ano
em que foi escrita, ela apenas equiparava o salário da Polícia Militar
em todo o País ao recebido pela categoria no Distrito Federal.
O
dispositivo estava praticamente esquecido e parado na pauta de votação
da Câmara dos Deputados. Entretanto, o assunto ressurgiu após a série de
greves da polícia em todo o País, no mês de fevereiro, que teve como
objetivo reivindicar salários maiores. Agora, policiais civis e
militares pedem a aprovação da PEC em segundo turno, pois em primeiro
foi aprovada em 2010.
Na
sexta-feira, agentes da Polícia Civil, após assembleia geral realizada
na Capital, aprovaram uma paralisação de dois dias, que deve ocorrer
nesta quarta e quinta-feira. A decisão foi uma forma de repúdio à nova
proposta de reajuste salarial apresentada pelo governo do Estado. Em
entrevista ao Jornal do Comércio, o deputado Arnaldo Faria de Sá
(PTB-SP), autor da PEC 300, relata os problemas pelos quais a emenda
está passando para poder ser aprovada e a importância da pressão dos
trabalhadores.
Jornal do Comércio - Como era o projeto inicial da PEC 300?
Arnaldo
Faria de Sá - O projeto inicial, de 2008, tinha o objetivo de equiparar
o salário dos polícias de todos os estados ao dos policiais do Distrito
Federal.
JC - Como se encontra o texto da PEC atualmente?
Faria
de Sá - Após as modificações feitas no projeto aprovado, a PEC 300 hoje
não equipara ao salário de Brasília, mas cria um piso básico nacional
para todos os policias militares, civis e bombeiros, de R$ 3.500,00.
Essa proposta já foi aprovada em primeiro turno no Congresso Nacional;
falta apenas o segundo turno. Quando aconteceu esta aprovação, com a PEC
nestas normas, ficou estabelecido que a segunda votação ocorreria
depois das eleições de 2010, para não causar interferências. Passada a
eleição, os governadores da Bahia, de Minas Gerais, de São Paulo, do Rio
de Janeiro e do Rio Grande do Sul começaram a trabalhar contra a
emenda.
JC - Quais são as pressões que a PEC 300 vem enfrentado?
Faria
de Sá - Os governadores têm feito muita pressão contrária. Foi criada
uma comissão especial na Câmara dos Deputados para estudar o impacto da
PEC em nível nacional. Dos 27 estados, apenas sete responderam o que
representaria o pagamento para a sua receita. Os outros não responderam
porque alegam que existiria um impacto muito maior do que existirá. Se
mostrassem, iriam revelar que estão superestimando o tamanho do
problema. O governo federal não tem feito pressões contrárias
abertamente.
JC - Então o senhor acredita que todos os estados têm condições de pagar os R$ 3.500,00?
Faria
de Sá - Os estados de menor poder econômico, como Sergipe e Goiás, já
pagam perto deste valor. A verdade é que as autoridades desta área
preferem ver a segurança pública deficiente para poder vender segurança
privada.
JC
- A União fez um cálculo no ano passado, afirmando que o pagamento
deste piso ocasionaria um impacto de R$ 46 bilhões para o País. O senhor
concorda com este cálculo?
Faria
de Sá - Mentira, não passa de R$ 20 bilhões no País todo. Eles querem
falar estes números astronômicos para inviabilizar a aprovação. Primeiro
diziam que a PEC 300 era inconstitucional, mas já se definiu matéria
análoga a isto, no caso do piso nacional para profissionais da educação,
que é constitucional. Acabou esta desculpa da inconstitucionalidade e
agora começou a desculpa da inviabilidade econômica.
JC
- O piso pago aqui no Rio Grande do Sul é o segundo pior do Brasil.
Seria um salto altíssimo a implantação do piso nacional. Isto é viável?
Faria
de Sá - Os piores salários são realmente do Rio Grande do Sul e do Rio
de Janeiro. Independentemente de passar para R$ 3.500,00, o que tem que
acabar é um brigadiano, em início de carreira, receber R$ 1.500,00 de
salário mensal. Isso é uma vergonha.
JC - Qual é sua opinião sobre as recentes greves, na Bahia e no Rio de Janeiro, reivindicando a implantação do piso nacional?
Faria
de Sá - Gostaria de cumprimentar todos os policiais, que poderiam se
omitir aceitando esses salários irrisórios. Eles assumiram que precisam
melhorar os seus salários e, a partir disto, garantir o seu futuro e a
sua aposentadoria. Na verdade, tanto no Rio de Janeiro quanto em
Salvador, a proximidade do Carnaval foi o grande apelo. Daqui a pouco
todo o Brasil estará correndo risco, pois o apelo será a Copa do Mundo.
Os governos estaduais e federal precisam passar a ter responsabilidade e
tratar a segurança pública como um direito do cidadão e não ficar
brincando de fazer segurança pública. Fonte: Jornal do Comércio
Fonte: Site do Capitão Assumção
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