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Em expansão pelo Brasil, as armas de choque
elétrico --a mais comum, a do tipo Taser --podem provocar a morte não
apenas de cardíacos, mas de qualquer pessoa que seja atingida mais de
uma vez. O alerta é de médicos consultados pelo UOL,
segundo os quais as chances de letalidade são ainda maiores se os
choques forem disparados contra pessoas sob efeito de drogas ou de
álcool.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia divulgou nota após as recentes
mortes de brasileiros abordados com o Taser, na Austrália e em Porto
Alegre (RS), na qual critica as pesquisas que comprovam a suposta
segurança da arma. Segundo a entidade, a maior parte desses estudos é
bancada pelo próprio fabricante da arma ou por profissionais ligados ao
fabricante.
“Quem usa essa arma tem que saber que ela pode matar. Só nos Estados
Unidos, onde foi criada na década de 60, foram cerca de 500 mortes”,
alerta o diretor do Centro de Treinamento em Emergências da Socesp
(Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), Agnaldo Píspico.
De acordo com o especialista, o choque do Taser gera uma descarga de
baixa amplitude que causa uma contratura muscular e faz com que o
abordado caia. “A ação é no sistema nervoso central e pode interferir na
musculatura respiratória --quando é disparado uma única vez, a pausa
[respiratória] é curta. Se for repetido, pode acarretar danos maiores,
interferir no ritmo cardíaco, causar uma arritmia e levar a pessoa à
morte”, disse.
Mas o médico faz um alerta: se a pessoa atingida pela descarga
estiver sob efeito de álcool ou drogas, retornar ao ritmo cardíaco pode
ser ainda mais difícil. “Porque o álcool tem efeito depressor; a
cocaína, estimulante. Com o choque, a condição de irritabilidade do
coração dessa pessoa pode desencadear arritmia --e o mais absurdo é que
os estudos não foram feitos em vítimas que consumiam drogas”.
O tamanho do tórax e o peso da vítima também podem ser determinantes
em uma atuação desastrosa com o Taser, já que, explica o médico, essas
são condições que vão influenciar o caminho percorrido pelo choque.
Médico: não sei se é pior levar tiro ou choque de Taser
O médico Sergio Seibel, membro do Cradot (Centro de Referência de
Álcool, Tabaco e Outras Drogas), da Secretaria Estadual de Saúde de SP,
também foi enfático ao apontar os riscos de morte para pessoas sob
efeito de drogas ou em situação de alcoolismo agudo.
“Cocaína e crack são drogas que agem como fortes estimulantes
cardíacos. Se ambas podem, sozinhas, provocar riscos como infarto do
miocárdio, arritmias e até AVCs [acidente vascular cerebral],
estimuladas por um choque elétrico o risco de letalidade é muito maior”,
definiu.
Seibel também questiona a qualidade do debate entre as autoridades de
segurança e setores médicos sobre os riscos de uma arma já usada em
praticamente todo o território nacional.
“Essa é uma política de segurança, mas que, acredito, deveria
abranger discussões em várias áreas --sobretudo a médica. Isso não está
acontecendo e deveria ser revisto, já que os estudos sobre essa arma
ainda são muito restritos”, disse Seibel, que comparou: “Se me
perguntassem hoje se seria pior eu receber um tiro de bala ou levar um
choque de pistola Taser, juro que não saberia o que responder”.
Fonte: Do UOL, em São Paulo
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