As armas de fogo não são apenas instrumentos de defesa: são também
símbolo de poder, gerando uma espécie de fetiche principalmente entre os
homens, culturalmente mais afeitos à agressividade. Se um objeto com
potencial letal imediato é capaz de despertar tanta sedução nas pessoas,
para aqueles que são obrigados a utilizá-los, ou, pelo menos, conviver
com eles, é preciso administrar este “relacionamento”, que pode chegar à
insensatez e à irracionalidade. Para isto, é indispensável que o trato
com a arma de fogo seja técnico, estudado e treinado.
Há casos de policiais brasileiros que, por anos a fio, sequer dispararam
um tiro com a arma de fogo que, orgulhosamente, portam na cintura ou no
coldre. Além disso, não realizam manutenções e limpezas necessárias ao
equipamento que pode vir a falhar no momento em que mais necessitar.
Parece esquecer-se que a arma de fogo pode ser a garantia de sua vida em
determinadas circunstâncias, e não uma espécie de estandarte a ser
ostentado apaixonadamente.
Há quem confunda qualidade com quantidade: defendem o uso de fuzis,
explosivos, grossos calibres, ignorando a adequada utilização do
armamento, nas circunstâncias em que será empregado. A paixão pelo
símbolo faz desejar cada vez mais potência, que, no final das contas,
esta obsessão pode se transformar em tragédia, efeito colateral da
escolha impensada do equipamento. Se estamos em circunstâncias de
guerra, em que se admite a troca de fogo à vontade, sem o risco de
ferimento de inocentes, o armamento a ser utilizado é um. No caso de
patrulhamento urbano, a escolha é outra.
Nada impede, entretanto, que o policial conheça todos os tipos de
armamento disponíveis, inclusive aqueles que possuem baixo nível de
letalidade. É até desejável que os conhecimentos técnicos sobre armas
trancendam o dia-a-dia do trabalho policial, reduzindo as possibilidades
de utilização baseada no senso comum, que tende a ser desastrosa.
Paixão não combina com arma de fogo. Conhecimento, sim.
Fonte: Abordagem Policial (Danillo Ferreira)
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