segunda-feira, 18 de junho de 2012

Arsenal de armas que não protegem



Toda a nação vem acompanhando o drama da família fundadora da Yoki Alimentos, uma das maiores do setor no país, vendida recentemente por R$ 1,75 bilhão. O herdeiro, Marcos Matsunaga, de 41 anos, foi morto dentro do apartamento de cobertura de um prédio de luxo na capital paulista.
Ele montara dentro de casa um verdadeiro arsenal. Trinta armas de vários calibres, entre elas submetralhadora, fuzis e pistolas, e cerca de 10 mil projéteis. Uma das armas, uma pistola calibre 380, ele dera de presente à mulher Elize, uma ex-prostituta formada em Direito com quem se casara há dois anos. Tinham uma filha de um ano. A arma era para proteção de mãe e filha. Fora guardada na gaveta de um móvel numa sala. As outras se espalhavam pelo imóvel. Com elas praticamente à mão, o empresário se sentia seguro para a eventualidade de um arrastão, que vem se tornando corriqueiro em prédios de apartamentos no Brasil.
Na noite de 19 de maio, o casal brigou por causa de ciúmes da mulher. No calor da discussão, o marido deu-lhe uma bofetada. Ela foi à gaveta, pegou a pistola e apontou para a cabeça dele. O empresário riu. Conhecia Elize desde 2004 e não acreditou que ela teria coragem de atirar. Errou. Depois de levar um tiro na cabeça, já agonizante, a mulher arrancou-lhe os braços com uma faca e o degolou. Depois cortou o corpo em pedaços, para jogá-los numa mata, onde foram encontrados dias depois pela polícia.
Esse enredo, narrado por Elize e pelo inquérito policial, parece o roteiro de um filme de segunda categoria que os brasileiros se acostumaram a assistir na televisão. Mas o drama é real. E poderá se repetir, sabendo-se que colecionadores brasileiros mantêm em casa aproximadamente 150 mil armas poderosas, inclusive as usadas pelas polícias militares, cujo arsenal é apenas o dobro desse número.
Essas armas, a exemplo daquelas de Marcos Matsunaga, seriam compradas legalmente por colecionadores, atiradores esportivos e caçadores registrados, para uso próprio. As do empresário morto, avaliadas em cerca de R$ 250 mil pela polícia, eram todas legais. Depois da sua morte, foram levadas, "para segurança da família", conforme explicou o delegado responsável pelo caso. Ficarão armazenadas no Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa.
É onde deveriam estar todas aquelas 150 mil armas. As famílias ficariam mais seguras assim. Não é possível supor, depois desse drama da família Matsunaga, que todas as armas de colecionadores estejam guardadas de forma segura, como determina a lei. Quem não guarda suas armas com cuidado comete crime. Mas pode também, como vimos aqui, pagar o descuido com a própria vida.
Que a tragédia dos Magsunagas se transforme num libelo suficientemente forte para enfraquecer o lobby da indústria de armamentos neste país.
Haverá muito tempo para pensar nessa questão. O Ministério Público encaminha nesta semana à Justiça denúncia contra Elize por homicídio doloso triplamente qualificado. Não há prazo previsto para o julgamento.


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