terça-feira, 19 de junho de 2012

Denúncias da Ditadura de 64: da participação da imprensa à fabricação de inimigos.


Cláudio Guerra, ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) publicou recentemente um livro chamado “Memórias de uma Guerra Suja”, onde admite ter matado pessoas a serviço do regime militar, e ter presenciado torturas e práticas criminosas das mais diversas naturezas – de incineração de cadáveres de mortos em tortura até execuções. Curiosamente, os relatos do ex-agente tiveram pouca repercussão na grande mídia, que mais destacaram supostas contradições nos relatos do “matador” – que se diz estimulado por sua religiosidade para assumir os erros cometidos – do que os fatos tenebrosos que se dispusera a falar.
Cláudio Guerra foi entrevistado por Alberto Dines, do Observatório da Imprensa, e falou sobre aspectos do Regime precisam ser bastante refletidos sobre os policiais de hoje, e pela sociedade como um todo. A entrevista, que você vê logo abaixo, deve ter pelo menos quatro pontos destacados:
1. A Ideologia como forma de convencimento e manipulação daqueles que servem ao Regime, visando induzi-los a práticas como a tortura e a execução: entre os “dois lados” (governo e comunistas), apenas um deve viver;
2. A Fabricação de Ininimigos como forma de manutenção e perpetuação do poder: enquanto os “inimigos” existirem, continua sendo necessário que o Regime de exceção se mantenha instalado;
3. Os interesses de civis, empresários e setores da sociedade dominante que, embora não atuassem armados, incentivavam a repressão e financiavam o Regime;
4. A participação da imprensa, que, para além da sempre alegada censura, tinha membros que chancelavam a “Revolução de 64″, vivendo nos bastidores do poder militar – Cláudio Guerra cita certo envolvimento da Globo e da Folha de São Paulo.
Abaixo, a entrevista, que os policiais brasileiros devem assistir pensando no quanto são vulneráveis a mecanismos semelhantes nos dias de hoje, no contexto de outro tipo de repressão:



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