segunda-feira, 25 de junho de 2012

Imigrantes europeus chegam a BH fugindo da crise e dispostos a trabalhar. Experientes e versáteis, são rapidamente absorvidos em ocupações como as de garçom e manobrista

Paula Takahashi -Estado de Minas

Carolina Mansur
Publicação: 25/06/2012 06:31 Atualização: 25/06/2012 06:35



Antonio Romano e Giorgio Urbani logo que conseguiram a carteira de trabalho, procuraram emprego
Antonio Romano e Giorgio Urbani logo que conseguiram a carteira de trabalho, procuraram emprego  ((Marcos Vieira/EM/D.A Press))Começou por projetos na área de petróleo e gás, passando pela engenharia, se alastrou por cargos menos nobres da construção civil e agora dá os primeiros passos no setor de serviços, mais precisamente no mercado de bares e restaurantes de Belo Horizonte. A evolução da entrada de profissionais estrangeiros no país já atinge os considerados subempregos, como os cargos de garçom e até manobrista. Quem vem de fora aproveita a união com brasileiras para buscar oportunidades que atualmente não estão disponíveis na terra natal. O fenômeno une a fome com a vontade de comer. De um lado, profissionais qualificados, bilíngues, com experiência na área e entendedores de vinho e gastronomia; de outro, empresários desesperados para completar o quadro, especialmente de garçons, hoje disputados a tapa.
Foi o casamento entre esses dois cenários que levou o proprietário do restaurante L’Astigiano, Paolo Resmini, a contratar os garçons italianos Giorgio Urbani e Antonio Romano este ano. “Eles bateram na nossa porta à procura de emprego e foram contratados”, conta Resmini. “Sem contar que eles contribuem de uma forma inequívoca para trazer um pedaço da Itália para o restaurante, especializado na cozinha do país. Os clientes sentem prazer em frequentar um ambiente mais genuíno”, acrescenta.
A formação dos profissionais, que têm experiência em diversos restaurantes mundo afora, foi outro ponto a favor, deixando a dificuldade com o português em segundo plano. Tanto Giorgio quanto Antonio são casados com belo-horizontinas e, logo que conseguiram a carteira de trabalho, foram em busca da vaga. “Selecionei os restaurantes italianos e fui atrás. Em uma semana fui contratado”, garante Antonio. Para Giorgio, que foi contratado como gerente, o Brasil é atualmente o país das oportunidades, fator que sempre considera ao sair de um lugar para outro. “Já trabalhei na Irlanda, Estados Unidos e Austrália e, hoje, moro no Brasil por isso. Corro atrás do boom econômico e, nesse ponto, o Brasil está bombando”, fala sorridente.
O proprietário do restaurante e casa de shows espanhola Soleá Tablao Flamenco, Reginaldo Jimenez, reconhece o perfil dos estrangeiros que desembarcam por aqui. “Os profissionais que buscam trabalho são arrojados e sempre vão onde o dinheiro está. Nesse caso, a bola da vez é o Brasil, que receberá nos próximos anos dois grandes eventos”, afirma, citando a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas em 2016.
É dos Piigs (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) – países que estão no olho do furacão da crise europeia – que vêm os principais candidatos a emprego. Entre eles o português Ricardo Manoel Mota Martins, de 42 anos, que desembarcou no país em outubro do ano passado com a esposa brasileira e o filho para tentar a vida por aqui. Em Lisboa, para sustentar a família, chegou a trabalhar durante o dia como forneiro de uma padaria e à noite como garçom de um restaurante.
“Como as coisas foram ficando difíceis por causa da crise, resolvemos vir tentar encontrar emprego aqui”, lembra. Em menos de um mês, Martins recebeu duas ofertas de trabalho. “No Cocana Beer, onde trabalho, teria a função de garçom, mas eles viram que com minha experiência poderia atuar como gerente”, conta.
Demanda
Reginaldo Jimenez conta que pelo menos uma vez por semana é procurado pelos próprios clientes, que são de outras nacionalidades, e por profissionais que querem trabalhar no estabelecimento. “Já recebi espanhóis, italianos e uma francesa. Eles estão em busca de aventura no país e aceitam o trabalho de garçom”, explica. Os pedidos de emprego também vêm por e-mails e pelas redes sociais.
Na Associação dos Garçons e Profissionais Similares de Minas Gerais (AGPS-MG) o movimento também é recente. “Nos últimos dois meses, recebemos pessoas de outros países interessados em se colocar no mercado”, conta o presidente Carlos Fernando da Silva. Para ele, a concorrência é positiva, desde que os efetivados sejam da área. “Estão chegando pessoas com nível mais elevado, de países como Espanha e Portugal, já que o mercado de lá está fechado”, observa.
O diretor-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel-MG), Lucas Pêgo, reconhece que o movimento de contratação de estrangeiros, e até mesmo profissionais de outros estados, é crescente. “Belo Horizonte está sofrendo uma escassez de mão de obra terrível. O maior indicador disso são as placas de anúncio nas portas dos bares e restaurantes. Por isso criam-se outras alternativas”, afirma Pêgo.

Legalidade
Documentos
» Registro Nacional de Estrangeiro (RNE) ou protocolo entregue pela Polícia Federal
» Cadastro da Pessoa Física (CPF) obtido por meio do preenchimento de um formulário disponível nas agências dos Correios, Banco do Brasil ou da Caixa Econômica Federal
» Com esses documentos, os imigrantes podem solicitar a Carteira de Trabalho emitida pelas Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego ou gerências e agências regionais do Trabalho e Emprego

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