15/06/2012 06h48
- Atualizado em
15/06/2012 10h53
Briga judicial entre irmãs vai decidir se pai será congelado ou sepultado.
Filha mais nova já gastou R$ 95 mil para manter corpo preservado em gelo.
Luiz Felippe e Ligia em foto tirada num quiosque na
Praia do Arpoador, no Rio (Foto: Arquivo Pessoal)
Praia do Arpoador, no Rio (Foto: Arquivo Pessoal)
O sonho de ressuscitar o pai, que morreu no começo deste ano, está
causando uma disputa judicial entre três irmãs. Luiz Felippe Dias de
Andrade Monteiro, engenheiro da Força Aérea Brasileira (FAB), faleceu em
22 de fevereiro, em plena Quarta-feira de Cinzas. A filha mais nova
dele, Ligia Cristina Mello Monteiro, do segundo casamento de Luiz
Felippe, começou então uma saga para tentar congelar o corpo do pai com s
da técnica conhecida como “criogenia”, que utiliza nitrogênio liquido
para resfriar e preservar o corpo. Segundo ela, o congelamento era um
desejo expresso pelo pai antes de morrer. Como o pai, Ligia acredita
que, com o avanço da ciência, será possível trazê-lo de volta à vida em
algumas décadas.
“Já pensou ter a oportunidade de, daqui a 30 ou 40 anos, poder rever
meu pai?”, indaga Ligia. “Não tem provas de que isso pode acontecer, mas
é um sonho”, complementa. Entretanto, as outras duas irmãs, Carmen
Sílvia Monteiro Trois e Denise Nazaré Bastos Monteiro, do primeiro
casamento, não concordaram com o congelamento, que seria realizado por
uma empresa da cidade de Detroit, nos Estados Unidos. Elas entraram com
um processo contra Ligia, exigindo o sepultamento de Luiz Felippe no
jazigo da família, em um cemitério de Canoas (RS), onde vivem. “As irmãs
que moram no Sul falaram que o congelamento do pai era um absurdo”,
conta Rodrigo Marinho Crespo, advogado delas.
Crespo explica que, segundo as irmãs mais velhas, “nunca o pai
manifestou qualquer vontade” em ser congelado. O advogado ressalta não
haver “qualquer prova, em momento algum, que esse senhor queria ser
congelado nos EUA”. “As próprias irmãs declararam que, se soubessem
desse desejo, fariam o congelamento. Mas elas não tinham qualquer
conhecimento disso”, acrescenta.
O advogado, então, pediu e conseguiu uma liminar, na própria
Quarta-feira de Cinzas, que impedia que o corpo fosse levado para os
EUA. Desde então, já há mais de três meses, Ligia arca com as despesas
para manter o corpo do pai preservado. “Por dia, pago R$ 500 para a
funerária e compro R$ 360 de gelo seco. Já gastei minhas economias da
vida toda”, conta ela. Ao todo, já foram gastos quase R$ 95 mil.
Relacionamento entre irmãs era pequeno
Ligia explica que, após a separação do pai da primeira esposa, houve um distanciamento entre ele e as filhas do primeiro casamento. Por isso, afirma que as irmãs não sabiam do desejo de o pai ser congelado. “Ele se separou da mãe delas há 34 anos e conheceu minha mãe. Logo depois eu nasci. Minha mãe faleceu de câncer quando eu tinha 7 anos, e continuei morando com meu pai”, recorda a irmã mais nova. “Com 19 anos, fui conhecer a Carmen e, mais tarde, a Denise. Nosso contato era muito pequeno, mínimo, quase zero. A gente nunca se deu bem”, acrescenta.
Ligia explica que, após a separação do pai da primeira esposa, houve um distanciamento entre ele e as filhas do primeiro casamento. Por isso, afirma que as irmãs não sabiam do desejo de o pai ser congelado. “Ele se separou da mãe delas há 34 anos e conheceu minha mãe. Logo depois eu nasci. Minha mãe faleceu de câncer quando eu tinha 7 anos, e continuei morando com meu pai”, recorda a irmã mais nova. “Com 19 anos, fui conhecer a Carmen e, mais tarde, a Denise. Nosso contato era muito pequeno, mínimo, quase zero. A gente nunca se deu bem”, acrescenta.
Entretanto, Ligia afirma que, em 2009, mandou um e-mail para as irmãs
do Sul, pedindo a opinião delas sobre a possibilidade de o corpo do pai
ser submetido a uma criogenia. “Reenviei esse e-mail a minhas irmãs para
comprovar minha boa fé”, conta ela. “Tenho esse email guardado até
hoje”, complementa.
O advogado das irmãs mais velhas comenta que elas não entendem a
postura de Ligia. “A gente se pergunta: por que essa insistência?”,
conta Crespo. “Eu achava que ninguém ia ser contra. Elas foram contra o
congelamento por uma revanche contra mim, por briguinha boa”, acredita
Ligia. “Na ação, elas ainda estão pedindo danos morais. Ou seja: ainda
querem lucrar com essa história”, critica Ligia.
Na última quarta-feira (13), desembargadores decidiram, em segunda
instância, permitir que o corpo de Luiz Felippe possa ser embarcado para
os EUA, conforme revelou a coluna de Ancelmo Gois, no Globo.
Mas Rodrigo Crespo já avisou que vai recorrer da decisão e criticou a
decisão: “Deveria ter sido observado que, por maioria, duas herdeiras
preferem o sepultamento do pai.”
Do outro lado, Ligia comemora a decisão, e avisa vai fazer de tudo para
que a vontade do pai seja realizada. “Cheguei a abrir mão da minha
parte na herança e deixar para minhas irmãs. Isso está nos autos. Estou
muito positiva, porque os desembargadores foram muito sensatos. Meu pai
vai ser o primeiro homem congelado da América do Sul. Pode ser até que
esse caso venha a suscitar outros”, conclui ela.
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