segunda-feira, 11 de junho de 2012

Mulher avança em mercado de trabalho "masculino"

Avanço
Taxa de desemprego é maior entre elas, mas índices estão se equiparando
Publicado no Jornal OTEMPO

HELENICE LAGUARDIA
FOTO: ANGELO PETINAT
Maria José Lima já sofreu preconceito, mas deu a volta por cima
As mulheres ganham 36,1% menos que os homens na região metropolitana de Belo Horizonte, de acordo com a última Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) da Fundação João Pinheiro e Dieese, mas estão avançando no mercado de trabalho e conquistando lugar em atividades antes dominadas por homens. Apesar do preconceito resistente no mercado, já estão circulando por aí 579 mulheres taxistas e 53 motoristas de ônibus em Belo Horizonte, além de executivas de grandes empresas e comandantes de avião.
A coordenadora da PED pelo Dieese, Gabrielle Selani, disse que, em 2011, 1,02 milhão de mulheres estavam ocupadas no mercado de trabalho na região metropolitana de Belo Horizonte e 97 mil, desempregadas, o que significa uma taxa de desemprego feminino de 8,6%, acima dos 5,5% registrados entre os homens. "É uma característica estrutural do mercado. Existe ainda uma certa discriminação, por isso que o desemprego é maior para a mulher", disse.
Ela acredita que existe uma inserção crescente da mulher no mercado. "Vai ser um cenário melhor do que a minha mãe teve, e as minhas filhas terão oportunidades melhores do que as minhas. O mercado vem reduzindo as desigualdades, mas elas persistem e são significativas".
Um exemplo desse movimento é entre os taxistas. Segundo a BHTrans, do total de 10.822 taxistas em Belo Horizonte, 579 são mulheres. Maria José Lima, 50, faz parte desse universo. Com quatro filhos, taxista há seis anos, a ex-atendente de clínica médica viu as portas fechadas após tentar recolocação no mercado. "Aí veio a ideia de ser taxista e deu certo", contou Lima. Ela trabalha quatro dias da semana, ganha R$ 60 por dia e a única dificuldade que achou na profissão foi a falta de banheiros. "A gente faz amizade com o pessoal da loja, da farmácia para usar o banheiro".
Preconceito por ser taxista, Maria José Lima já sofreu e disse que é constrangedor. "Fui atender a uma empresa de trator, e eram quatro rapazes que iam para o aeroporto de Confins. Antes de entrar no carro, um deles disse ‘nossa, é mulher’. Depois, começaram a conversar comigo e, na hora de descer, disseram que tinham se surpreendido. Foi a maior gorjeta que eu ganhei na minha vida: R$ 100", contou.
A mesma sorte não teve a comandante Bethânia Porto Pinto, 36, que, no mês passado, teve que retirar um passageiro do avião depois que ouviu "piadinhas". A piloto, nascida em Belo Horizonte, diz que já tinha ouvido brincadeiras, mas foi a primeira vez que viu um passageiro alterado. "Já que ele não queria voar com mulher, eu optei para que ele saísse do voo". Há cerca de cem mulheres comandando aeronaves no país.

Elas mandam
Franquias. As mulheres já representam 48% entre os proprietários de unidades das mais de 2.000 redes de franquia existentes no país. Os dados são de estudo feito pela consultoria Rizzo Franchise.
FOTO: RONALDO SILVEIRA
Pulso forte. Tarsia Gonzalez é uma das diretoras de uma empresa de logística e se destaca no cargo
Credibilidade
Executiva de empresa nunca teve problemas
Diretora e sócia da Transpes, empresa de logística em Betim (região metropolitana de Belo Horizonte) que deve faturar R$ 350 milhões neste ano, Tarsia Gonzalez, 43, dois filhos, é uma das poucas mulheres numa área de perfil masculino. "A nossa empresa é familiar, com 16 anos já trabalhava nela. O meu pai é espanhol, e isso foi um grande diferencial para mim. Sempre fui estimulada ao trabalho", contou. O comando da Transpes é de Tarsia Gonzalez e mais dois irmãos, Sandro e Afonso.
Tarsia explica que essa oportunidade foi dada de uma forma igualitária. "Fui trilhando todos os caminhos. Comecei na área operacional, fazendo relatório de viagens com motoristas", lembrou ela, que estudou administração de empresas e psicologia. Hoje, a executiva comanda 800 funcionários, 10% deles mulheres.
Mas por que muitas mulheres ainda não estão no comando de empresas? Porque isso é cultural, responde Tarsia Gonzalez. "As mulheres buscam a profissionalização. Antes, não se preocupavam com isso. Acredito que, nos próximos 50 anos, isso vai mudar muito. As mulheres focam primeiro o lado maternal para, depois, subir em carreira", disse. (HL)

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