sábado, 23 de junho de 2012

O retorno dos fantasmas da ditadura na América Latina

Do Hoje em Dia
Ilustração: Google images 


A história se repete como uma farsa, e nem sempre divertida. A farsa pode terminar em tragédia, como já se viu várias vezes na história latino-americana. Convém refletir sobre isso, neste momento. Em meio à conferência para o desenvolvimento sustentável – a Rio+20, que terminou na sexta-feira (22), no Rio de Janeiro – dois episódios ocorridos em países vizinhos despertaram antigos fantasmas que no passado assombraram os que, perto ou abaixo da linha do Equador, lutavam por avanços sociais e pela verdadeira democracia neste continente.
Na quinta-feira (21), a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, abandonou às pressas a conferência da ONU para voltar a seu país, ameaçado de paralisação por uma greve de caminhoneiros. Sua atitude de quase pânico se justifica. A presidente sustenta um embate diplomático internacional com a Inglaterra e seus aliados, por causa das ilhas Malvinas. E enfrenta, internamente, forte resistência de setores poderosos que no passado derrubaram Perón e apoiaram a última ditadura militar que castigou por anos a população argentina. Depois da greve de caminhoneiros que há 39 anos, com apoio da CIA, paralisou o Chile e abriu caminho para a ditadura do general Augusto Pinochet, não há presidente democraticamente eleito no continente que não entre em pânico diante de uma greve dessas.
Ainda na noite de quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, viajou ao Paraguai, à frente de uma comissão de chanceleres da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), para observar de perto os fatos que ameaçam o mandato de outro presidente eleito, Fernando Lugo, e buscar, conforme Dilma Rousseff, “uma solução menos traumática”.
Depois de dominar politicamente o Paraguai por décadas, inclusive durante a ditadura do general Alfredo Stroessner, que governou o país de 1954 a 1989, o Partido Colorado foi derrotado por Lugo em abril de 2008. Mas essa derrota não pôs fim aos 61 anos no poder, pois o partido elegeu ampla maioria de congressistas e conseguiu barrar todas as reformas econômicas e sociais propostas por Lugo. Alinhado com os Estados Unidos, o Congresso também impediu a inclusão da Venezuela no Mercosul, defendida por Brasil, Argentina e Uruguai.
O Brasil é sócio do Paraguai na Binacional Itaipu, o que reforça seu interesse – e o da Organização dos Estados Americanos, com exceção talvez dos Estados Unidos – de evitar golpes de Estado. Entre eles, os parlamentares.

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