sexta-feira, 20 de julho de 2012

Ainda que deixe o poder, Assad deve ser perseguido até a morte

publicado em 20/07/2012 às 05h30:

Atentado no seio da cúpula governamental expõe fragilidade na segurança do líder
Fábio Cervone, colunista do R7
Rebelde pisa na foto de AssadAP Photo/Shaam News Neetwork via AP video
Rebelde sírio pisoteia imagem do ditador Bashar al Assad, na fronteira do país com a Turquia
O regime do ditador sírio Bashar al Assad ainda não conseguiu explicar como os rebeldes conseguiram colocar uma bomba durante uma reunião das autoridades de segurança mais importantes do país. O atentado de quarta-feira (18), que escancarou a fragilidade do governo, indica que está cada vez mais próxima a queda do ditador. Só resta a dúvida sobre como Assad vai sair de cena: ele pode lutar até a morte ou deixar o poder. Mas se abandonar o cargo, Assad deverá ser perseguido pelas atrocidades cometidas nesses meses de confrontos.
O ataque de quarta-feira revelou a incapacidade do governo em defender seus mais altos membros dos atentados rebeldes. O homem-bomba em um prédio governamental de Damasco matou o ministro da Defesa sírio, Daoud Rajha, o general e cunhado de Assad, Asef Shauqat, além de outros membros do alto escalão do Estado.
Após o ataque, dois tabloides britânicos, Daily Mail e The Sun, divulgaram que devido ao clima de insegurança, a esposa de Assad, Asma — e irmã do general morto —, teria deixado a Síria para se refugiar na Rússia.
Conheça os terríveis centros de tortura de Assad, presidente da Síria
Depois de mais de 16 meses de conflito, pelo menos 17 mil pessoas morreram, segundo a oposição, além de milhares de feridos e mutilados se amontoarem nos hospitais sírios. Cidades foram aniquiladas e centenas de famílias estão se refugiando nos países vizinhos.
O cenário indica que os insurgentes, formados principalmente pelo grupo ELS (Exército Livre da Síria), não estão mais dispostos a negociar, após fracassadas tentativas de diálogo mediadas pelo emissário das Nações Unidas, Kofi Annan.

Além disso, Assad não vem se mostrando disposto a desenterrar a alternativa de um acordo, já que diariamente realiza bombardeios contra civis, além dos deliberados massacres, como em Houla, Hama e no povoado de Tremseh.
Este cenário catastrófico, que antecede a queda de mais um ditador do mundo árabe, deixa Assad no meio de uma encruzilhada: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Assad provavelmente não deve dormir tranquilo ao relembrar a trajetória de seus ex-companheiros de poder que já sucumbiram desde o início da chamada Primavera Árabe, em dezembro de 2010.
Nesta quinta-feira (19), o ex-ditador da Tunísia, Ben Ali, o primeiro dos líderes afetados pela onda de revoltas, foi condenado à prisão perpétua.
Hosni Mubarak, que governou o Egito por mais de 30 anos e recebeu a mesma sentença no mês passado, padece com graves problemas cardíacos desde que deixou o governo.
Já Muammar Gaddafi, ex-ditador da Líbia, é provavelmente aquele que mais sofreu com a queda. Ele foi morto violentamente, no dia 20 de outubro de 2011, por rebeldes que, descontrolados, não mostraram o menor respeito ao ex-líder. Imagens do corpo de Gaddafi sendo zombado, e até violado, estão sob investigação internacional.
Se escolher não lutar até a morte e decidir abandonar o poder, Assad poderá se refugiar em algum país aliado, como Rússia, China ou Irã. Porém, os russos declararam que não deverão receber o líder. Já a China e o Irã ainda não se manifestaram sobre o assunto.
Mas ainda que Assad deixe o país, as histórias mais recentes mostram que, cedo ou tarde, ele poderá ser julgado pelos crimes que cometeu no poder, o que, para alguém que viveu tanto tempo na elite internacional, é praticamente inaceitável.
Alguns ex-ditadores da história enfrentaram este dilema: Benito Mussolini foi um dos casos. Após a sumária execução do fascista italiano, o povo enfurecido fez questão de expor seu corpo em praça pública, uma imagem que circulou o mundo. Adolf Hitler, temendo o mesmo fim, suicidou-se com a companheira Eva Braun — ambos tiveram os corpos cremados para evitar que se transformassem troféus de guerra.
Histórias recentes também destacam o sucesso dos tribunais internacionais que prenderam e julgaram crimes cometidos contra a humanidade. A cúpula do ex-líder iugoslavo, Slobodan Milosevic, foi perseguida e muitos estão cumprindo pena. O próprio Milosevic morreu encarcerado por seus crimes como governante. Ex-líderes africanos frequentemente são enviados à corte internacional e acabam presos pelos seus abusos de poder.
Por isso, Bashar al Assad tem poucas e intragáveis opções pela frente: morrer em combate e correr o risco de ter o corpo violado como um troféu; negociar uma rendição com a oposição e ser julgado por um tribunal sírio; ou conseguir refúgio em algum país aliado, mas com o risco de, cedo ou tarde, ser levado ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda, e ser julgado sob os olhos do ocidente.

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