03/07/2012 18h05
- Atualizado em
03/07/2012 18h13
Confusão ocorreu em 21 de junho, no Complexo da Papuda, em Brasília.
Bicheiro afirma que foi ameaçado; G1 procurou defesa e aguarda resposta.
Termo circunstanciado da Polícia Federal encaminhado ao Supremo
Tribunal Federal (STF) na última sexta-feira (29) indica que o bicheiro
Carlinhos Cachoeira ameaçou um agente penitenciário e ofereceu suborno
de R$ 200 a outros presos da Papuda, em Brasília, para que eles
confirmassem a versão do bicheiro em uma discussão ocorrida há cerca de duas semanas.
Um termo circunstanciado é o registro de uma infração de menor
potencial ofensivo. No caso em questão, a infração seria a
desobediência, cuja pena é de até seis meses de detenção e multa, e
desacato, com detenção de até dois anos ou multa, a um servidor público
por parte do bicheiro.
A confusão aconteceu no dia 21 de junho, após discussão sobre a
programação a que os presos assistiam. Conforme o documento da PF,
Cachoeira reclamou do programa, que considerou muito violento, e pediu
para o aparelho ser desligado. A discussão entre os presos fez com que
três agentes penitenciários interferissem.
Cachoeira está preso desde 29 de fevereiro, acusado na Operação Monte
Carlo de utilizar policiais, políticos e empresários em uma rede para
explorar o jogo ilegal.
Um dos agentes afirmou que, ao ordenar procedimento de segurança ("que o
preso fique em silêncio, com as mãos para trás, aguardando o comando
dos agentes"), Carlinhos Cachoeira o teria ameaçado.
“Quem você pensa que é para me tratar assim? Vou usar toda minha
influência para levá-lo à Corregedoria e à Justiça. O Márcio (Thomaz
Bastos, advogado e ex-ministro da Justiça) vai vir agora à tarde e isso
não vai ficar assim”, relatou que ouviu como resposta o servidor do
Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
Trecho do termo que relata o incidente envolvendo Cachoeira na Papuda (Foto: Reprodução)
O G1 tentou contato com Márcio Thomaz Bastos e com a
advogada Dora Cavalcanti, que defendem Cachoeira, mas não obteve
resposta até a publicação desta reportagem. Após a discussão, a defesa
disse ao G1 que o contraventor passaria por uma avaliação psiquiátrica.
"Ele não passou bem. O psiquiatra vai avaliar o que aconteceu. A briga
foi por conta de um canal de televisão, uma questão irrelevante. A
questão é que ele não estaria bem do ponto de vista psicológico, como
uma descompensação", disse Dora Cavalcanti.
No documento, Carlos Cachoeira disse que o agente gritou e apontou o
dedo para ele. O preso disse que foi ameaçado de responder por desacato.
O bicheiro confirmou que disse ao agente que entraria com uma
reclamação contra ele na Corregedoria por considerar que teve seus
direitos desrespeitados.
Trecho do termo em que Cachoeira dá a sua versão para o ocorrido (Foto: Reprodução)
Ao menos três presos envolvidos na discussão disseram que foram
chamados de “bandidos” pelo bicheiro e relataram ter ouvido palavras de
baixo calão. Após a saída dos agentes, Carlos Cachoeira teria dito:
“fiquem aí sozinhos, eu tô indo embora mesmo.”
Um dos presos declarou no termo circunstanciado que recebeu a oferta de
suborno de R$ 200 do bicheiro para testemunhar contra os agentes
penitenciários. Cachoeira “acha que tem dinheiro, então tem poder”,
disse em depoimento. Outro preso confirmou que o bicheiro ofereceu
dinheiro para que eles ficassem contra os agentes, "mas [Cachoeira] não
falou em valores".
Trecho do termo em que outro preso diz que Cachoeira ofereceu suborno de R$ 200 (Foto: Reprodução)
O termo circunstanciado foi anexado ao pedido de liberdade que a defesa
de Carlos Cachoeira protocolou no STF no dia 27 de junho. A solicitação
foi negada pelo ministro Joaquim Barbosa. A defesa recorreu da decisão.
Em carta de encaminhamento do termo, o delegado da PF que assinou o
documento afirma que o episódio "pode configurar grave transgressão
disciplinar".
Motivo da discórdia
No documento, testemunhas e o próprio bicheiro confirmam que a discussão começou por conta de um programa na televisão que abordava violência. Em sua versão, o bicheiro disse que chamou os agentes por causa do atrito que estava ocorrendo entre os presos em decorrência da programação da TV. Ele falou que não concordava em assistir a canais que passam violência na hora do almoço, pois "tais programas não elevam a alma do preso."
No documento, testemunhas e o próprio bicheiro confirmam que a discussão começou por conta de um programa na televisão que abordava violência. Em sua versão, o bicheiro disse que chamou os agentes por causa do atrito que estava ocorrendo entre os presos em decorrência da programação da TV. Ele falou que não concordava em assistir a canais que passam violência na hora do almoço, pois "tais programas não elevam a alma do preso."
Encaminhamento do termo ao ministro do Supremo Joaquim Barbosa (Foto: Reprodução)
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