segunda-feira, 9 de julho de 2012

Campanha eleitoral em Minas é feita de extremos. Enquanto nas pequenas cidades o corpo a corpo e o cafezinho são até mais eficientes que as redes sociais, nas maiores, eleger um prefeito requer muito dinheiro e equipes gigantescas

Bertha Maakaroun -Estado de Minas
Publicação: 09/07/2012 07:00 Atualização: 09/07/2012 08:22


Minas são muitas, também nas eleições municipais. Entre as sete grandes cidades com segundo turno e as 571 com até 10 mil eleitores, o hiato entre campanhas não se restringe ao salto dos milhares aos milhões despendidos nas disputas pelo poder local. Bem longe das redes sociais, nos pequenos municípios a política ainda se faz fundamentalmente na interação olho a olho, no cafezinho de casa em casa e na retórica entre velhos conhecidos, que procura buscar na confiança a promessa de um bom governo. Em quase todas, cinco ou seis famílias formam o tronco original da população, o que torna quase todos os habitantes parentes entre si. Candidatos, no geral, são dois, representantes de grupos que tradicionalmente polarizam a briga pelo voto. Nesses rincões com pouca atividade econômica, receitas próprias insignificantes e administrações ainda extremamente dependentes de transferências constitucionais, sobretudo do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), a política mobiliza a população. Na falta do acesso à propaganda gratuita de rádio e de televisão, novas formas de comunicação se integram às campanhas tradicionais – do tipo “carros- televisão”, com vídeos de divulgação sobre os candidatos –, fazendo com que as estimativas de custos, que antes giravam em torno de R$ 20 mil, saltem para R$ 100 mil, a R$ 200 mil e a até R$ 300 mil.
Para além do crescimento galopante dos custos de campanhas nas cidades pequenas, que pode chegar a até 1.400% em relação aos de 2008, as despesas estão, obviamente, longe dos milhões previstos nas cidades com dois turnos, em que são empregados todos os recursos midiáticos e de estrutura tradicional, do planejamento do lado visível da campanha às estratégias do “submundo”. O custo médio estimado de uma campanha competitiva em Betim, Contagem, Juiz de Fora, Uberlândia, Uberaba e Montes Claros será em torno de R$ 15 milhões, sete vezes mais daquele informado à Justiça Eleitoral em 2008.
Em Belo Horizonte, as despesas da candidatura vitoriosa de Marcio Lacerda (PSB) alcançaram no último pleito, entre os gastos do candidato e do comitê de campanha, cerca de R$ 30 milhões. Para esta eleição majoritária, em que os candidatos a prefeito também “carregam” boa parte dos custos de campanha das chapas proporcionais, vencer a Prefeitura de Belo Horizonte continuará muito caro. Na sexta-feira, Lacerda registrou no Tribunal Regional Eleitoral que pretende gastar R$ 35 milhões, enquanto seu principal adversário, Patrus Ananias (PT), R$ 20 milhões.

Salário e poder são alvos de cobiça
As prefeituras são pobres, mas, mesmo assim, os cargos são muito cobiçados. De quando em vez, prefeitos bem avaliados ao fim do primeiro mandato conseguem reunir os grupos políticos numa candidatura única. Assim foi em Presidente Kubitschek, na Região Central de Minas, em José Gonçalves de Minas, no vales do Jequitinhonha/Mucuri, e em outros 24 rincões do estado em 2008. Mas esses são casos específicos, que se verificam dentro desses contextos particulares de reeleição. Em geral a disputa em cidades pequenas polariza entre dois candidatos. Assim foi em 467 municípios nas últimas eleições municipais.
Apesar de os municípios menores sofrerem com a concentração de receitas no governo federal e o acúmulo de responsabilidades, a cobiça pelo cargo de prefeito se dá, em parte, pelo salário de cerca de R$ 8 mil. É uma baita renda em cidades onde a economia movimenta em um ano inteiro menos de R$ 2 milhões. Além disso, há o poder. “Prefeito, seja de cidade grande ou pequena, é prefeito em qualquer lugar. Somos recebidos em todos os ministérios em Brasília”, afirma o prefeito Laurinho (PMDB), de Presidente Kubitschek. Ele conseguiu, na última eleição, reunir todas as forças políticas locais em torno de sua reeleição.
As estratégias de campanha são as tradicionais. “É na sola da bota”, diz Laurinho, que, na tentativa de emplacar o seu candidato, voltará a visitar as cerca de mil casas do centro urbano, explicar o que fez em seu governo, entregando em mãos o santinho de seu candidato. “A maior dificuldade de campanhas em cidades pequenas é que todo mundo é parente. Há na cidade quatro ou cinco sobrenomes. É complicado costurar tantos interesses”, afirma ele.
Se em 2008 Laurinho declarou à Justiça Eleitoral um gasto de R$ 20.961,34, agora, com um candidato adversário pela frente, as coisas serão diferentes. “Uma campanha de prefeito vai custar entre R$ 150 mil e R$ 200 mil. É material de propaganda, comício, aluguel de carro”, enumera ele, lembrando que, para suprir a falta da propaganda gratuita e acesso ao rádio e à televisão, surgem novas formas de abordagem, como os “carros-televisão”, que rodam a zona rural com os vídeos de apresentação dos candidatos.
A campanha política quebra a rotina das cidades, mobiliza dois grupos políticos, e o corpo a corpo seguido dos pedidos de voto é tarefa pessoal. Em Chiador, na Zona da Mata, o prefeito Itibirê Rodrigues dos Santos (PT) ilustra: “Lugar pequeno, não tem como inventar moda, pois conhecemos todo mundo. Vamos de casa em casa e tomamos café com todo mundo”.
A política em Chiador é acirrada, mas não tanto quanto em Gouveia, na Região Central, onde um prefeito nunca conseguiu ser reeleito, e a presença da Polícia Federal para garantir a tranquilidade dos pleitos tornou-se uma constante. “São sempre dois candidatos, um de cada grupo. O povo chama de PFL e PMDB, embora o PFL tenha se transformado em DEM e eu seja do PV”, explica o prefeito Geraldo de Fátima. Recursos são muito escassos. Setenta por cento do orçamento de Gouveia, de R$ 20 milhões, provêm das transferências constitucionais. A arrecadação própria é residual, até porque os eleitores do grupo adversário costumam não recolher o IPTU, na expectativa de que o seu candidato retome a prefeitura. Apesar disso, todos querem governar, até para não deixar o “inimigo” tomar o poder. “A campanha é tradicional, de casa em casa, com reuniões na zona rural. Mas, com tanta disputa, não custará menos de R$ 300 mil”, estima Geraldo.

 O LADO PERVERSO DA DISPUTA
Apesar de no geral a população das grandes cidades se envolver muito menos com a política, a competição pelas prefeituras chega a 10 ou mais candidatos. Os gastos explodem, não apenas com a faceta visível das campanhas – o programa eleitoral, os comícios, o material de divulgação das campanhas majoritárias e de vereadores e as equipes contratadas para abastecer as mídias sociais –, mas, sobretudo, com a propaganda negativa.
No “submundo” da política, há cabos eleitorais “ocultos”, contratados para frequentar táxis, ônibus e aglomerados para difamar candidatos em “depoimentos” pessoais que relatam fatos desabonadores. Nas redes sociais, as estratégias variam de ataques diretos, com equipes voltadas para abastecer “correntes”, a ataques indiretos, por meio de peças publicitárias postadas no YouTube sob a forma de vídeos humorísticos desqualificando o adversário. Além disso, há os já tradicionais candidatos “laranja”, em geral de legendas nanicas, que “vendem” o seu espaço de propaganda gratuita, atacando os adversários de quem pagar mais.

Se em Juiz de Fora, Uberlândia, Montes Claros, Uberaba, Betim e Contagem uma campanha competitiva não custará menos de R$ 15 milhões e empregará a mais sofisticada parafernália para conquistar prefeituras, em Belo Horizonte, os gastos chegarão a quase R$ 60 milhões – isso, considerando apenas o que foi informado oficialmente pelos principais candidatos.
Como é a campanha em MG
Nas pequenas cidades
» Corpo a corpo, de casa em casa, para um café e muita conversa
» Cartazes
» » Pequenos comícios
» Material de campanha para candidatos a vereador aliados
» Novos recursos do tipo “carros-televisão”


Nas grandes cidades
» Planejamento estratégico para a definição dos eixos estruturantes e conceito da retórica da campanha
» Equipe para a elaboração do programa de governo, segundo os eixos apontados pelo planejamento estratégico
» Equipe para vasculhar a vida dos adversários e embasar os ataques de campanha
» Equipe para atuar nas mídias sociais
» Equipe de comunicação para as mídias tradicionais
» Contratação de agências para a elaboração do programa eleitoral gratuito de rádio e de televisão
» Material de campanha majoritária: cartazes, santinhos e outros
» Cabos eleitorais e “torcidas” para a recepção de candidatos em debates e em eventos
 Ilustrações:https://www.google.com.br/search?q=campanha+ol%C3%ADtica&oe=utf-8&aq=t&rls=org.mozilla:pt-BR:official&client=firefox-a&um=1&ie=UTF-8&hl=pt-BR&tbm=isch&source=og&sa=N&tab=wi&ei=mSP7T6TrC4L48wTQ4MDIBg&biw=1366&bih=639&sei=wSP7T_TCGOb40gGOm7XyBg

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