sexta-feira, 6 de julho de 2012

Explosão de caixas eletrônicos está a cargo de criminosos de outros estados

Polícia mineira admite que ladrões de São Paulo e Goiás são responsáveis por parte da onda de ataques a caixas no estado, que teve novo capítulo nessa quinta-feira em Prata, no Triângulo. Segundo delegado, muitos dos 30 presos este ano pelo crime são paulistas

Paula Sarapu - Estado de Minas
Publicação: 06/07/2012 06:00 Atualização: 06/07/2012 06:35


A Polícia Civil de Minas já sabe que bandidos de São Paulo e Goiás aproveitam o efetivo menor de segurança em cidades pequenas e se envolvem em cada vez mais ataques a caixas eletrônicos no estado. As investigações indicam que goianos e paulistas agem sobretudo no Triângulo Mineiro, região com mais casos do crime este ano, e que a maioria dos assaltantes é provavelmente ligada a uma organização criminosa de São Paulo. A forma de ação desses ladrões, aponta a polícia, se assemelha à do grupo conhecido nos últimos anos como “novo cangaço” – bandos que atacam bancos e carros-fortes em cidades menores.
Desde janeiro, 154 caixas de autoatendimento foram atacados com explosivos e outras ferramentas. O caso mais recente ocorreu na madrugada de ontem: em Prata, no Triângulo, três homens encapuzados renderam um funcionário da fábrica de lápis Faber Castell em casa, o levaram para a empresa até chegar a um caixa eletrônico e em seguida explodiram o equipamento. Foi o sexto caso apenas este mês. A polícia ainda não sabe se os ladrões que agiram em Prata são de São Paulo, mas admite que muitos dos 30 criminosos presos este ano por ataques a caixas são paulistas. “É uma boa parte”, disse o delegado Márcio Nabak, chefe do Departamento de Investigações de Crimes contra o Patrimônio.
A ação de criminosos de outros estados em cidades do interior de Minas preocupa tanto a polícia quanto o Ministério Público. Segundo o delegado Márcio Nabak, já há contatos com a polícia paulista para tentar identificar ladrões. “No Triângulo, boa parte dos presos vem de fora, de São Paulo. Já estamos trocando informações com a polícia de lá”, informou. Para o coordenador da Promotoria de Combate ao Crime Organizado do MP de Minas, André Estêvão Ubaldino Pereira, o interior se tornou “alvo interessante” para quadrilhas. “A interiorização do serviço bancário, com ampliação do número de caixas de autoatendimento, a falta de efetivo e a circunstância de Minas ser um estado minerador podem facilitar esse tipo de situação”, avaliou o promotor. Por causa da mineração, muitas empresas no estado precisam usar dinamite.
Um inspetor do Departamento de Operações Especiais (Deoesp) que participa da força-tarefa criada pelo estado vê semelhanças entre a ação dos grupos atuais com a do chamado “novo cangaço”, com uma vantagem para os que atacam caixas: o risco menor de reação violenta. “A diferença desses bandidos com o ‘novo cangaço’ é que o grupo de roubo a banco precisava de armas de grosso calibre, por causa do risco de resistência, uma vez que assaltava durante o dia. Nos ataques aos caixas eletrônicos, percebemos que o pico ocorre entre 3h e 5h, horário em que o policiamento é bem menor e quase não há testemunhas”, disse o policial, que aponta ainda “falha na vigilância de mineradoras e pedreiras, o que permite que material explosivo circule por aí”.

Falta de cuidado Segundo a polícia mineira, investigações indicaram que parte da dinamite usada pelos bandidos no estado pertencia a empresas que compram explosivos legalmente. Uma das principais metas da força-tarefa será evitar que esse material circule com facilidade. A polícia garante que funcionários de mineradoras e pedreiras serão investigados para que se saiba se estão envolvidos nos desvios.

O trabalho não será fácil. Desde o início da onda de ataques e explosões a caixas eletrônicos, a Polícia Civil acompanhou o Exército em duas fiscalizações, nos municípios de Contagem, na Grande BH, e em Nova Era, na Região Central. As vistorias foram feitas no final de maio e no início de junho, e ambas as mineradoras tiveram seus paióis lacrados por falta de cuidado com o material explosivo. “Percebemos que falta interesse das empresas e cuidado e atenção com o material explosivo que elas compram para uso no dia a dia”, disse o delegado Márcio Nabak.

A Secretaria de Estado de Defesa Social informou ontem que, entre janeiro e maio, 61 ataques a caixas eletrônicos foram consumados – ou seja, os ladrões conseguiram levar o dinheiro. Nesse mesmo período, em 2011, 45 ações foram consumadas, o que representa um aumento de 35,5%. No primeiro trimestre deste ano, o número de ataques registrou aumento de 115%, em comparação com o mesmo período de 2011, passando de 34 para 73 casos.


Dinamite abandonada

A Polícia Civil de Governador Valadares vai abrir inquérito para investigar a origem de 104 bananas de dinamite encontradas na quarta-feira em Mathias Lobato, no Vale do Rio Doce. Segundo a PM, o material foi encontrado por acaso em um matagal na zona rural da cidade, enquanto três trabalhadores limpavam uma área em volta de uma cerca. Inicialmente, um dos funcionários se deparou com 29 objetos semelhantes a dinamites, segundo os militares que foram até a Fazenda Correnteza, em Chonim de Baixo, distrito de Mathias Lobato. Já em Bom Jesus da Penha, no Sul de Minas, três homens foram presos à tarde suspeitos de praticar o chamado golpe do sapatinho, quando os bandidos sequestram familiares de bancários para poder levar dinheiro de bancos. Eles sequestraram a família de uma gerente bancária em Conceição da Aparecida, também na Região Sul do estado, e fugiram levando dinheiro retirado da agência do Banco do Brasil da cidade. Os reféns foram liberados.


Palavra de especialista

Marcus Vinícius da Cruz, Fundação João Pinheiro


Novo crime exige novas respostas

“Vai levar algum tempo para a polícia dar uma resposta, porque precisa estar na rua para investigar e buscar o fio da meada de como esse crime se articula. Esta é uma modalidade nova. A polícia precisa criar expertise, descobrir se há uma rota comum, uma sistematização desses ataques. Precisa saber, por exemplo, se os caixas de determinado banco são mais escolhidos porque um tipo de explosivo colocado em lugar específico naquela máquina consegue pegar o dinheiro sem manchar as notas. De fato, os criminosos procuram cidades menores, onde o aparato de segurança é mais voltado para a vivência tranquila. As minas e pedreiras, até então, também não precisavam se preocupar com segurança patrimonial, porque os depósitos já estavam protegidos, longe do cotidiano de trabalho na mina. Se a situação mudou, as autoridades constituídas, responsáveis pelo sistema, precisam dar nova orientação. E os bancos também devem avaliar a melhor forma de oferecer o serviço, talvez com câmeras no caixa e no entorno.”
Um ano violento

154
foram os ataques a caixas eletrônicos, incluindo com uso de dinamite, registrados este ano em Minas

61

é o total de ataques a caixas, até maio, nos quais ladrões levaram dinheiro – alta de 35% em relação a 2011

30

foram as prisões em Minas este ano por ataques a caixas. Boa parte dos presos, diz a polícia, são de outros estados

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