Delegado
que investigou morte de Eliza Samudio vê indícios de ação cometida por
profissional de segurança na execução do primo do jogador
O assassino de Sérgio Rosa Sales, o Camelo, primo do goleiro Bruno Fernandes, apagou uma peça importante do quebra-cabeça que a Justiça precisa montar para condenar os acusados de matar a jovem Eliza Samudio.
A partir do depoimento de Sales a polícia mineira teve provas
testemunhais de que o crime ocorreu – numa fase em que todos principais
envolvidos se recusavam a falar. Os investigadores ligados ao caso não
têm dúvida de que o rapaz foi eliminado por sua ligação com o caso
Bruno, e detectaram um sinal importante logo nas primeiras horas após o
crime: características de uma ação planejada e executada por um
policial.
Sales foi perseguido e alvejado por seis
tiros, em plena luz do dia, na presença de várias testemunhas. O autor
do crime agiu tranquilamente, com tempo de perseguir a vítima em uma
moto por três quarteirões do bairro Marilândia, na região de Venda Nova,
em Belo Horizonte. Com frieza, o assassino estacionou a motocicleta e
descarregou um revólver calibre 38, com tempo para recarregar a arma. Ao
todo, o desenrolar da ação teve menos de 30 minutos.
O ex-chefe do Departamento de Homicídios
e Proteção à Pessoa (DHPP) de BH, delegado Edson Moreira, comandou as
investigações sobre a morte de Eliza. Ele confirmou ao site de VEJA que o
assassinato de Sales tem característica de queima de arquivo, e que as
habilidades do autor do crime descritas pelas testemunhas sejam de uma
pessoa com experiência na atividade policial. “Pode ser um homem da
ativa ou alguém já afastado, ou mesmo aposentado. Mas a forma como o
criminoso agiu nos leva sem dúvida a pensar em uma pessoa com técnica e
treinamento, preparada para não perder seu alvo e agir com
tranquilidade, em uma situação de apreensão”, disse Moreira.
Segundo o delegado, o autor dos disparos
não se intimidou com as pessoas nas ruas e tomou uma série de cuidados:
agiu sozinho, não tirou o capacete e recolheu todos os cartuchos,
evitando, assim, que arma usada no crime seja identificada.
As investigações sobre a morte de Eliza
revelaram que o grupo do goleiro Bruno recorreu a um ex-policial –
Marcos Aparecido dos Santos, o Bola – para levar à frente o planto de
matar a jovem. Bola, que já respondeu por outros crimes em Minas Gerais,
é apontado como o executor de Eliza e acusado de ocultar o corpo.
Ainda de acordo com Moreira, tudo leva a
crer que o criminoso que agiu na manha de terça-feira para matar o
primo do goleiro tenha feito um levantamento meticuloso dos hábitos de
Sales e também sobre a movimentação do bairro. “Com certeza essa pessoa
sabia o horário da vítima sair de casa e para onde ela iria.
Provavelmente, sabia até do horário do patrulhamento da Polícia Militar
em Minaslândia. Será difícil identificá-lo, mas não é impossível”,
afirmou Moreira.
O delegado Breno Pardini esteve no local
com uma equipe da Divisão de Crimes Contra a Vida (DCcV) e informou que
todos os passos de Sérgio serão levantados. “Vamos averiguar a vida
pregressa da vítima e refazer seus últimos passos. Tentar descobrir onde
ele esteve e com quem”. O delegado confirmou a possibilidade de o jovem
ter sido morto em uma queima de arquivo, mas disse que outras linhas de
investigações não serão descartadas.
Os investigadores descobriram que Sérgio
se envolveu em uma confusão recentemente com um morador do bairro
Minaslândia. Na confusão, Sérgio teria dado um tapa no rosto do rapaz.
Sérgio Rosa Sales era um dos réus no
processo de desaparecimento de Eliza Samudio e iria a julgamento pela
acusação de homicídio triplamente qualificado, sequestro, cárcere
privado e ocultação de cadáver. Os mesmos crimes foram atribuídos ao
goleiro Bruno e a Luiz Henrique Romão, o Macarrão, que continuam presos.
Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, também aguarda na prisão para ir a
júri popular, acusado de homicídio triplamente qualificado e ocultação
de cadáver.
Bruno Fernandes
Entenda o caso:
Sales ficou preso na Penitenciária Dutra
Ladeira, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo
Horizonte, e foi solto no dia 11 de agosto de 2011. Por ter contribuído
com as investigações da Polícia Civil, o primo do Bruno acabou recebendo
o benefício da liberdade provisória. Mesmo sendo peça-chave da trama
macabra de grande repercussão nacional, não tinha qualquer tipo de
proteção, o que foi bastante questionado ontem pelas pessoas que
acompanham o caso.
O delegado Edson Moreira disse que, pelo
fato de Sales já ter sido ameaçado por parte dos envolvidos, durante as
audiências de instrução e julgamento do processo sobre a morte de Eliza
Samudio, era obrigação de o Estado oferecer proteção ao rapaz,
independentemente, de qualquer solicitação.
Sérgio Rosa Sales foi morto por volta
das 7h30, dessa quarta-feira, no quintal de uma casa, na esquina da Rua
Aracitaba. O pai dele, o porteiro Carlos Alberto Sales, contou à Polícia
Militar que o filho havia levantado cedo, saiu para ir à padaria,
depois iria para o trabalho. Seria o primeiro dia do serviço como pintor
em um supermercado no bairro.
À PM, testemunhas disseram que o autor
dos disparos estava em uma moto vermelha e usava um capacete rosa. O
suspeito ficou de tocaia na esquina da Rua Abadia dos Dourados, onde
Sales vivia com os familiares. Assim que o rapaz passou pelo homem na
moto, foi chamado de estuprador. Os moradores que assistiram o crime
contaram aos militares da 18ª Companhia do 13º BPM que Sérgio disse ao
suspeito que ele o estava confundindo com outra pessoa. O criminoso,
então, respondeu que estava falando com o homem certo e começou a
atirar, acertando as costas da vítima.
As testemunhas disseram que Sales, mesmo
baleado, começou a correr. Desceu as ruas gritando por socorro e ainda
tentou se esconder no quintal da casa de amigos. Ele foi perseguido pelo
assassino, que chegou a estacionar a moto, desembarcar, caminhar na
direção dele, carregar a arma e atirar várias vezes. Os tiros acertaram o
ombro, rosto, mão direita, braço, peito e barriga da vítima, que morreu
na hora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário