sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Duplicação da 381 ignora 45 km

Dnit confirma que faltam estudos de impacto ambiental e arqueológicos
Publicado no Jornal OTEMPO em 03/08/2012

JOHNATAN CASTRO
FOTO: ANGELO PETTINATI - 1.7.2012
Óbitos. No trecho de Belo Horizonte a Valadares da 381, 72 pessoas morreram no primeiro semestre deste ano; cruzes indicam as tragédias
A novela que envolve a duplicação da BR-381 ainda vai render inúmeros capítulos. Apesar das promessas feitas pela presidente Dilma Rousseff e pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), nos meses de junho e julho, indicando a conclusão dos projetos executivos das obras, uma parte importante das intervenções ficará de fora da licitação para a duplicação, confirmada pelo órgão para acontecer a partir do mês que vem.
Segundo o Dnit, estarão na concorrência os lotes de um a oito, que correspondem ao trecho entre Belo Horizonte e Governador Valadares. Ainda não estão prontos os projetos executivos dos lotes nove e dez, que se referem a uma variante de 45 km que será construída entre São Gonçalo do Rio Abaixo e Nova Era, na região Central do Estado, como o próprio departamento admite. Os estudos de impacto ambiental e arqueológicos desse novo trecho, de acordo com o Dnit, ainda nem começaram.
O traçado, como explicou o especialista em trânsito e presidente da ONG SOS Rodovias, José Aparecido Ribeiro, é justamente o apelidado de "Rodovia da Morte": um trecho sinuoso e extremamente perigoso. "Em cerca de 100 km, são 215 curvas. E curvas fora dos padrões de segurança, que facilitam as colisões frontais", afirmou.
Conforme dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em 2011 morreram 121 pessoas no trecho entre a capital e Governador Valadares, em 2.460 acidentes. No primeiro semestre deste ano, já foram 1.241 colisões e 72 mortes, o que corresponde a 59,5% de todos os óbitos do ano passado, no mesmo trecho.
Serviço completo. Sem a construção da variante, que tem o objetivo de desviar a BR-381 da cidade de João Monlevade, no Vale do Aço, as intervenções abarcariam somente a duplicação do atual traçado, que possui 311 km. Para Ribeiro, isso não é suficiente. "Somente duplicar a rodovia não evita acidentes, apenas muda a categoria das mortes. Esse trecho tem que ser reconstruído. Pela intensidade do tráfego e pela topografia, ele exige menos curvas e inclinações", disse.
Já o engenheiro civil e mestre na área de transportes Silvestre de Andrade confirma que a duplicação faz os motoristas transitarem em maior velocidade, aumentando o número de acidentes envolvendo saídas de pistas e colisões com outros objetos. "Os caminhões de hoje são de até nove eixos e 70 t.
Os projetos viários têm que prever tudo isso", concluiu.
Prefeituras não conhecem obra, mas a aprovam
Mesmo sem terem recebido qualquer tipo de aviso oficial sobre a construção da variante de 45 km, as prefeituras de Nova Era e São Gonçalo do Rio Abaixo, na região Central de Minas, acreditam que a construção da via, que terá acesso pelos dois municípios, traria segurança aos motoristas e, ao mesmo tempo, um enorme progresso para a região.

"É algo extremamente necessário, tanto pelas vidas que deixariam de ser ceifadas quanto pelo desenvolvimento que traria para a região", disse o secretário de desenvolvimento econômico de São Gonçalo do Rio Abaixo, João Vitor Dias.

A cidade ainda possui um patrimônio histórico e arqueológico deixado por escravos e imigrantes ingleses e alemães que viveram no século XVIII, como casarões e antigos moinhos, que poderiam ser atingidos pela nova estrada. "Temos todo esse patrimônio mapeado e uma grande preocupação com isso".

Em Nova Era, a chefe de gabinete Tânia Costa Lage também confessou desconhecer o projeto, mas admite que a via será bem-vinda.

O engenheiro civil e mestre na área de transportes Silvestre de Andrade reforça a importância da variante. "A estrada gera acessibilidade. Com a variante, você teria um novo vetor de desenvolvimento", disse. (JHC)

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