terça-feira, 21 de agosto de 2012

Os Cães Ladram e a Caravana Passa

 Um sábio ditado árabe, bem das minhas origens, das quais me orgulho, diz que não importa o latido dos cães, não importa o barulho que façam, a caravana segue o seu caminho, apesar deles… existe uma estrela a ser seguida, um pensamento a ser preservado, e nada vai impedir que a caravana siga o seu rumo…mesmo que pare por alguns momentos, mesmo que alguns cães se julguem alimentados pegando os restos que caíram durante a passagem, a caravana segue o seu rumo, mais fortalecida, mais coesa, deixando cada vez mais longe o barulho dos cães esfomeados. Uma caravana é feita de gestos, de sonhos, de atitudes, de longas vivências, de cumplicidades, de sentimentos fortes, de amizade, de amor e de desejos. Ela segue o seu caminho, totalmente indiferente ao ganido de cães enlouquecidos, atrás de alguma cadela no cio…
-Sandra Nasrallah, em O Recanto das Letras, 2005



A sabedoria popular é muito maior do que se julga. Por isto, antigos ditados e dizeres permanecem sempre atuais, já que representam o simbolismo do comportamento humano.
Nossa cultura, por ser uma enorme salada de culturas diferentes, nos privilegia e nos permite utilizar e compreender dizeres não forjados em nosso território.
Falemos então de um antigo dizer árabe: “os cães ladram e a caravana passa”.
Observe a maravilha de contradição existente no meio da afirmação. O estacionário e o evolutivo. Sabe-se que seguir adiante é da constituição das caravanas, tal qual ladrar é da constituição dos cães. Aliás, os cães apenas ladram para avisar a seus donos a aproximação de algo que não faz parte de seu habitat convencional, ou quando desejam fazer festa para algum conhecido.Também é de sua constituição manterem-se próximos aos locais onde vivem, como se fossem limitados por um círculo invisível. No primeiro caso, não importa que a caravana tenha boas notícias, nem remédios importantes, basta que não seja daquele local. No segundo, o latido é diferente, mas é latido. Mas se ambos agem de acordo com suas constituições o que há de excepcional na expressão? Exatamente o sentido de um permanecer estacionado e do outro seguir sempre em direção ao seu destino.
Assim são algumas pessoas. Fixam-se em suas posições. Não buscam. Não ousam. Não largam seus velhos hábitos. Ladram para tudo que lhes pareça não fazer parte de seu meio.
Aqui vale também uma reflexão sobre dois termos. Apesar de “hábitos” e “costumes” terem significado semelhante, quando precedidos pelo adjetivo “velho”, assumem posições diferenciadas. “Velho costume” representa a parte da cultura que permanece viva na memória popular. É ativo e coletivo. “Velho hábito”, não. É aquilo que está enraizado no indivíduo. É muito pessoal. É mania mesmo!

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