sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Recém-habilitados e pedestres lideram acidentes na Grande BH

Dados da PM Rodoviária na capital mostram que motoristas com até cinco anos de carteira são os que mais se acidentam. Anel Rodoviário é a via mais traiçoeira

Guilherme Paranaiba -Estado de minas
Publicação: 31/08/2012 06:00 Atualização: 31/08/2012 06:33


Rodovia que corta BH tem 26 quilômetros, mas registrou 1,9 mil desastres em sete meses, quase o mesmo total de 1.034 quilômetros de outras estradas (fotos: pAULO fILGUEIRAS/EM/D.A Press)
Rodovia que corta BH tem 26 quilômetros, mas registrou 1,9 mil desastres em sete meses, quase o mesmo total de 1.034 quilômetros de outras estradas
Quase quatro acidentes, em média, para cada quilômetro de estrada; 4.075 desastres em 36 trechos de vias; 8.109 motoristas envolvidos, 4.043 deles apenas no Anel Rodoviário de Belo Horizonte. Os números, capazes de meter medo no mais experiente dos condutores, se referem apenas aos primeiros sete meses deste ano, nos 1.060 quilômetros de rodovias policiadas pelo Batalhão de Polícia Militar Rodoviária (BPMRv) com sede na capital, especialmente na região metropolitana. Em meio a eles, a inexperiência de quem dirige surge como importante fator de risco: entre seis grupos classificados de acordo com o tempo de habilitação, acidentados com até cinco anos de carteira lideram, representando quase 30% do total.
No Anel Rodoviário da capital essa situação se mantém, porém o trânsito pesado de uma rodovia que corta a metópole torna o perigo muito maior. De janeiro a julho ocorreram 1,9 mil acidentes em 26 quilômetros – média de nove por dia –, quase o mesmo que todos os demais 35 trechos, que somam 1.034 quilômetros. O resultado é o medo espalhado entre aqueles que têm menos tempo de habilitação e preferem evitar o local, que virou uma grande avenida com tráfego pesado e todos os ingredientes capazes de dar origem a tragédias .
Segundo o BPMRv, pouco mais de 4 mil condutores se envolveram nos 1,9 mil acidentes do Anel Rodoviário até 31 de julho. Ao analisar o tempo de carteira, é possível observar uma redução no envolvimento em ocorrências à medida que aumenta a prática dos condutores.  Em 2011, quando ocorreram cerca de 3 mil acidentes na via, a variação seguiu o mesmo padrão: a liderança é ocupada pelos condutores com pouca experiência, e quanto mais tempo têm de carteira menos os motoristas se envolvem em desastres.



O estudante Rodrigo Mendes Franco Belga, de 18 anos, tem carteira desde o mês passado. Poderia passar pelo Anel Rodoviário para fazer o trajeto entre sua casa, no Bairro Santa Amélia, Região da Pampulha, e a casa da namorada, no Palmares, Nordeste de BH, gastando menos tempo. Porém, por medo de acidentes, prefere evitar a rodovia e gastar mais tempo passando pela Avenida Bernardo Vasconcelos. Ele diz que encara a via somente se não tiver opção. “Meu tio já foi atingido por um caminhão e por pouco não aconteceu o pior. Também há trechos com péssima visibilidade e sinalização ruim, o que piora ainda mais a situação. Se tenho outro caminho, qual o motivo de arriscar?”

Para o mestre em engenharia de transportes pelo Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro (IME) Paulo Rogério Monteiro, as principais causas dos acidentes – falta de atenção e não manter a distância de segurança – são ações mais comuns entre condutores com menos experiência ao volante, principalmente em uma via como o Anel Rodoviário. “Menos tempo de carteira significa menos capacidade para prever ou identificar uma ação arriscada e menos tempo para reagir”, diz Paulo Rogério. Outro fator apontado por ele como relevante é a preparação precária dos motoristas. “Ninguém aprende a dirigir na autoescola. Você sai de lá com uma máquina na mão e um pé que não está calibrado. As pessoas não são preparadas para conduzir um carro em rodovias, a 80km/h. A realidade dos bairros onde são ministradas as aulas e exames é bem diferente. Os motoristas aprendem depois, na marra”, completa o especialista.

Flagrante
Percorrendo o Anel Rodoviário, a equipe do Estado de Minas flagrou um acidente entre um ônibus do transporte municipal de Belo Horizonte e um carro de passeio. Segundo os dois condutores, ambos seguiam na rodovia no sentido Vitória na altura do Bairro São Francisco, Região da Pampulha. Depois de passar pelo viaduto sobre a Avenida Antônio Carlos, o motorista Paulo Cezar Amaral Souza, de 30, há seis anos habilitado, que dirigia um Fiat Palio, reduziu a velocidade por causa de outro carro à sua frente, que diminuiu para entrar à direita. Já o motorista do ônibus, de 23 anos, que não quis se identificar, não conseguiu parar o veículo e bateu na traseira do Palio. Habilitado há quatro anos, ele informou ter dois anos de experiência como motorista profissional.

“Ele não manteve a distância de segurança, que deveria ser ainda maior pelo fato de conduzir um ônibus, que é mais pesado. É claro que todos estão sujeitos a sofrer acidentes no Anel Rodoviário, mas os erros são mais comuns para aqueles que têm menos experiência e são mais novos”, afirma o dono do Palio, que se preocupa com as condições da rodovia. “Aqui temos carros, caminhões, motos e ônibus, tudo em grande quantidade. Aqueles com menos tempo de carteira costumam ‘voar’, achando que estão em uma rodovia de verdade. O resultado são as batidas”, diz ele.

Apesar de concordar que a falta de experiência é um fator de risco em uma estrada como o Anel Rodoviário, o tenente Geraldo Donizete, que comanda o policiamento no trecho, acredita que o fato de motoristas com até cinco anos de carteira se envolverem mais em acidentes  pode ser explicado também por outra razão. “Hoje é possível perceber que os automóveis são predominantes no Anel Rodoviário. E, normalmente, as pessoas que estão dirigindo os carros são mais novas. Por isso, acabam se envolvendo em mais ocorrências”, acredita o militar.

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