segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Selvageria supera a paixão no clássico no Independência

Arredores do Independência se transformam em campo de guerra horas antes do clássico. Torcedores não se intimidam com a polícia, que teve muito trabalho para conter os ânimos

Alfredo Durães
Ivan Drummond - Estado de Minas
Publicação: 27/08/2012 07:28 Atualização: 27/08/2012 07:35

Tumulto na entrada do estádio, na Rua Pitangui, logo após a chegada do ônibus do Galo   ((Sidney Lopes/EM/D.A Press))
Tumulto na entrada do estádio, na Rua Pitangui, logo após a chegada do ônibus do Galo
 
Dia de clássico entre Atlético e Cruzeiro é dia de tensão. Com torcida única, entretanto, o que se esperava era que a ordem reinasse nos arredores do Estádio Independência, no Bairro Horto, Região Leste de Belo Horizonte. Mas não foi isso o que ocorreu. Na chegada do ônibus do Atlético, a Rua Pitangui se transformou em um verdadeiro campo de batalha, tendo de um lado a Polícia Militar e, de outro, a torcida cruzeirense.
A situação foi provocada por um torcedor, não identificado, que atirou uma lata de cerveja, cheia, acertando um policial. Em seguida, foram atiradas outras latas e houve, então, a reação dos militares, que agiram em legítima defesa. Eram 17h30. Minutos antes, na chegada do ônibus do Cruzeiro, a expectativa era de que pudesse ocorrer também algum problema, pois na véspera houve um protesto contra a diretoria e o time na Toca da Raposa II. Mas não houve manifestações. Pelo contrário: o torcedor celeste cantou e gritou os nomes dos jogadores, em especial do goleiro Fábio.
Muita gente saiu machucada. Os policiais, que se defendiam de agressões, agiram com veemência e adotaram uma tática de ataque, corpo a corpo, distribuindo cassetetadas. A multidão de torcedores, que parecia vir em ondas para o estádio, se dispersou, provocando um grande corre-corre. A polícia usou spray de pimenta e bombas de efeito moral. No entanto, foram confrontados com bombas do tipo garrafão, que estouravam por todos os lados e feriram torcedores inocentes, que tentavam apenas chegar à arquibancada.
O comandante do Batalhão de Eventos da PM, tenente-coronel Cícero Cunha, explicou que, quando se tem um estádio numa área urbana mais restrita, o perigo para o torcedor é muito maior que em áreas mais abertas, como no Mineirão. ''Aqui, temos uma área confinada. Quando ocorre um conflito numa área aberta, as pessoas correm e se dispersam por todos os lados, onde encontram espaços vazios. Mas aqui a situação é outra, pois não há área de escape e no corre-corre muita gente pode ser pisoteada.''
Vigilância especial
A PM também manteve vigilância especial em três estações do metrô: Eldorado, Santa Tereza e Vilarinho, palcos de confrontos em jogos passados. Um torcedor foi detido depois de quebrar uma janela de um vagão, após o jogo, na Estação Vilarinho. Outro momento de tensão ocorreu logo depois da partida entre torcedores do Cruzeiro, ainda dentro do estádio. Integrantes da Pavilhão Independente e os rivais da Máfia Azul se confrontaram e foram separados pelos policiais. As briga entre as duas facções têm sido frequentes nos jogos do time celeste pelo fato de a Pavilhão ser uma dissidência da Máfia Azul. Mais de mil militares de vários batalhões trabalharam dentro e fora do estádio.
Prisões
De acordo com balanço parcial divulgado pela Polícia Militar ontem à noite, 21 torcedores foram presos, dos quais quatro por agressões que resultaram em lesões corporais. Cinco torcedores atleticanos foram detidos, acusados, a princípio, de disparo de arma de fogo. Porém, apurou-se que eles usaram fogos de artifício para intimidar um grupo de 50 cruzeirenses que se concentrava na Avenida Abílio Machado, no Alípio de Melo, Região Noroeste da capital. Os cinco foram presos pelo furto de ingressos dos torcedores rivais que aguardavam o ônibus para ir ao estádio. As demais detenções foram por motivos diversos, como jogar copos de água no campo. Entre a tarde e a noite, a PM registrou alguns homicídios na Grande BH, quatro deles em Contagem, mas não houve qualquer confirmação de que estariam ligados a briga de torcedores. (com Landercy Hemerson)
Análise da notícia
Torcida única, problemas iguais
Cláudio Arreguy
A justificativa mais usada pelas autoridades policiais mineiras para não permitir duas torcidas no clássico Cruzeiro x Atlético em estádios do interior e, no Independência, é a preocupação com a segurança, a impossibilidade de controlar torcedores dos dois times em ruas estreitas e áreas residenciais. Ora, diante das ocorrências de ontem, com apedrejamento do ônibus da delegação atleticana, prisões em pontos diversos da cidade, objetos atirados no gramado, uma constatação se impõe: com torcida única – caso do jogo pela última rodada do primeiro turno do Campeonato Brasileiro, apenas com cruzeirenses no estádio –, tudo que a polícia teme ocorre do mesmo jeito. Como evitar isso nos próximos jogos? Com campanha educativa, rigor na fiscalização, principalmente das torcidas organizadas, e forte aparato de segurança. Do contrário, chegaremos ao lamentável ponto em que Galo e Raposa entrarão em campo com estádio vazio, sem nenhuma testemunha, a não ser a imprensa.

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