sábado, 18 de agosto de 2012

Tragédias fazem pessoas redobrarem a crença em Deus

Tiroteios em cinema e em templo nos EUA despertam discussão religiosa
Publicado no Jornal OTEMPO em 18/08/2012

ELECTA DRAPER
The New York Times
FOTO: NATE CHUTE/ASSOCIATED PRESS
Esperança. Fiéis oram diante do templo no Wisconsin, nos Estados Unidos, onde um homem abriu fogo matando seis pessoas
Aurora, EUA. Para quase toda pessoa que acredita que Deus a protege nos momentos de maior aflição, há outra que se questiona se não é uma ilusão e até mesmo ofensivo pensar que Deus se ocupa, pessoalmente, de poupar a vida de um inocente, mas, não, a de outro.
Vítimas do atirador que matou 12 pessoas e feriu 58 em um cinema norte-americano no mês passado frequentemente falaram em fé, oração, do plano de Deus e seu papel nele. De acordo com especialistas, as tragédias agem sobre a fé, algumas vezes, eliminando-a mas, na maioria das vezes, aprofundando a crença da pessoa na figura divina.
Cerca de 55% dos norte-americanos acreditam em um Deus observador, enquanto 40% acreditam em um ente criador e mais afastado dos homens. Pierce O’Farrill, 28, evangélico e vítima da tragédia no cinema, afirmou ter percebido a entrada do atirador como "uma presença do mal". Mas ele declara que, "quando Deus chegou, ele parou de atirar".
Pessoas de fé raramente a perdem por causa de tragédias. Pastores, padres, rabinos, imãs, gurus e outros sacerdotes irão afirmar: em tempos de desespero, as pessoas se voltam para a fé com fervor renovado. Tom Sullivan, pai de Alex Sullivan, que morreu no ataque ao cinema, afirma que não tem ressentimentos com Deus pela morte do filho. "É preciso aproveitar a vida a cada dia", declara.
Esse raciocínio está na mesma linha da religião sikh, que também sofreu um ataque que resultou em muitas vítimas recentemente. "Nós aprendemos a aceitar a graça e a vontade divina, quer elas façam sentido ou não", afirma o estudioso Simran Jeet Singh, da Universidade de Columbia, adepto da religião. Ele passou o dia do atentado ansioso, aguardando notícias de familiares que frequentavam o templo.
O estudioso de religião da Universidade de Boston Stephen Prothero perguntou aos leitores do blog de religiosidade da rede CNN: "Onde estava Deus no ataque ao cinema de Aurora?". Em alguns dias, ele recebeu mais de 10 mil respostas, que ele classificou em sete categorias: 1) Não existe Deus; 2) Não culpe Deus, culpe o Diabo; 3) Não culpe Deus, culpe os homens (livre-arbítrio); 4) Deus estava por trás do massacre, e foi justo; 5) Deus estava presente no momento do massacre, mas com as vítimas, não com o autor; 6) Que Deus?; e 7) Quem sabe? É um mistério.
Os autores Paul Froese e Christoper Bader descobriram que, enquanto alguns fiéis no chamado Deus impositivo aceitam que ele permite ou, até mesmo, causa danos para nos punir ou educar, a maioria dos norte-americanos se recusa a crer que Deus seja o responsável pelo sofrimento humano.
"Eu não sei por que alguns se foram e outros foram poupados. As razões de Deus são desconhecidas para nós. Mas aqueles que O conhecem e têm uma relação com Ele, esses têm um futuro eterno", foi o que pregou o pastor da igreja de Aurora aos seus fiéis - muitos dos quais testemunharam o massacre.
Traduzido por Raquel Sodré
Livro analisa quatro divindades
No livro "America’s Four Gods", os autores Paul Froese e Christopher Bader defendem que a imagem que os norte-americanos têm do papel de Deus em uma tragédia ou catástrofe depende muito de em qual versão de divindade a pessoa acredita. E essas formas não cabem em uma denominação específica.
Os autores citam dados são da pesquisa "Pew Forum on Religion & Public Life", segundo a qual quase 85% dos norte-americanos acreditam em um Deus amoroso, e muitos veem Deus como "um pai protetor e carinhoso que nos convida a uma relação individual com Ele". Em sua maioria, acreditam também que Deus "se importa profundamente com a segurança da humanidade".
Por outro lado, há grandes variações no que diz respeito a quanto ele intervém e interage com o mundo. Em seu livro, Froese e Bader concluem que aqueles que acreditam que Deus está envolvido nos detalhes de sua vida abraçam um Deus autoritário (31%), que pode ser amoroso, mas, também, muito julgador. Muitos cristãos evangélicos estão nessa categoria, que acredita que seu Deus pode enviar uma tragédia ou uma catástrofe com objetivos didáticos ou punitivos. Alguns abraçam a visão de um Deus benevolente (24%), que nem sempre atende com justiça, mas está sempre envolvido. Aqueles que acreditam que Deus não interfere na vida terrena têm uma visão de um Deus distante (24%).
Cerca de 16% dos norte-americanos acreditam em um Deus crítico, que poderia julgar as almas depois da morte ou balancear as escalas cósmicas. (ED/NYT)

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