quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Avenida Afonso Pena é recordista em atropelamentos em BH

Dados revelam resultados da batalha diária entre motoristas e pedestres nos principais corredores de tráfego de BH

Gustavo Werneck -
Pedro Ferreira -Estado de Minas
Publicação: 13/09/2012 06:00 Atualização: 13/09/2012 07:02

Um dia no centro: faixas invadidas, corridas entre os carros, travessia com celular e até um cadeirante driblando o risco da afonso pena ( SIDNEY LOPES/EM/D.A PRESS)
Um dia no centro: faixas invadidas, corridas entre os carros, travessia com celular e até um cadeirante driblando o risco da afonso pena
Na guerra do trânsito em Belo Horizonte, quem anda a pé precisa se proteger de forma redobrada em alguns dos principais campos de batalha. E o que oferece maiores riscos à vida, não por acaso, é a principal referência de tráfego no Centro da capital. Segundo levantamento da BHTrans baseado em dados de 2011, 13,4% das vítimas de acidentes nos principais corredores de tráfego de BH são pedestres. Mas na Avenida Afonso Pena, o índice de atropelamentos salta para 36%, tendo vitimado 141 pessoas durante o ano. Embora não seja o corredor de trânsito com maiores taxas de desastres na capital – o campeão é a Avenida Cristiano Machado –, a Afonso Pena tem índice de atropelados três vezes superior ao da média das 10 maiores artérias em circulação de veículos de BH.

Os técnicos da BHTrans afirmam que a Afonso Pena tem um volume de pedestres maior do que qualquer outra via da cidade – somente na Praça Sete, no Centro, são 400 mil/dia. Segundo a empresa municipal, desde junho de 2007 é realizada em vários pontos da cidade a ação educativa permanente “Na faixa eu vou”, para estimular o respeito à travessia. A meta é contribuir para uma mudança de comportamento do motorista, fazendo-o entender que quem se desloca a pé deve ser respeitado, mesmo onde não há semáforo.
Mas o impacto da ação está longe de ser suficiente. “O trânsito em Belo Horizonte é uma guerra velada, não declarada. Há uma disputa pelo espaço urbano e cada um tem as suas armas. Os automóveis trafegam com sua ‘armadura’ em alta velocidade, e os pedestres agem da pior forma, que é atravessando em qualquer lugar, sem respeitar faixas e sinalização. Cada lado acha que seu desrespeito é menor do que o do outro”, diz o mestre em transporte e professor da PUC Minas Paulo Rogério de Silva, que afirma não se surpreender com os dados da BHTrans.

Já o coordenador do Núcleo de Transportes (Nucletrans) da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), professor Ronaldo Guimarães Gouvêa, defende, para a Avenida Afonso Pena, a redução da velocidade máxima permitida, de 60 km/h para 40 km/h, além de radares e redutores de velocidade. Ele considera incompatível o movimento de veículos, dezenas de milhares por dia, com a segurança dos pedestres. “A Afonso Pena tem características muito particulares, pois tem 50 metros de largura e é a principal via da região central. Não é uma questão de restringir o automóvel, mas de controlar a velocidade”, defende.
 ( SIDNEY LOPES/EM/D.A PRESS)  Para o especialista, a educação no trânsito na capital é muito atrasada. “Em outras cidades, como Brasília (DF), há um grande respeito pelo pedestre. Em municípios do interior de Minas, como Carangola e Manhuaçu, na Zona da Mata, os motoristas também respeitam quem se desloca a pé.” Na avaliação do professor, além das campanhas educativas, torna-se importante fortalecer a fiscalização e o policiamento.
Violência nas ruas
Correndo entre os carros em movimento, a auxiliar de serviços gerais Maria Luíza Mel, de 45 anos, quase foi atropelada na tarde de ontem, ao atravessar a Afonso Pena na esquina com Rua São Paulo, no Centro da capital. “Tenho perícia médica e já estou atrasada”, disse Maria Luíza, na tentativa de justificar a pressa. Ela ficou presa no meio da travessia e só não se acidentou porque alguns motorista pararam para deixá-la passar. A carioca, que mora há pouco tempo em Belo Horizonte, pôs a vida em risco ao cruzar a avenida que mais registrou atropelamentos no ano passado.
No cruzamento da Afonso Pena com São Paulo, cortado também pela Rua Tupinambás, o movimento é frenético. Mas os veículos que partem de todos os lados não intimidam pedestres apressados, que desafiam o perigo. A maioria dos que estão a pé não espera o sinal verde para a travessia. O resultado são cenas que se repetem com frequência assustadora. Na manhã de ontem, um homem usando muletas quase foi arremessado por um carro, em um dos vários episódios que resultam, a todo momento, em barulho de freadas bruscas e de buzinas.

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