domingo, 30 de setembro de 2012

Jovens eleitores e o interesse pelas decisões políticas

30/09/2012 08:05 - Atualizado em 30/09/2012 08:05

Amanda Paixão - Do Portal HD
Sara dos Santos
Samuel Costa
A estudante Sara dos Santos, de 17 anos, se considera engajada politicamente

Se há exatos 20 anos a juventude brasileira demonstrava grande interesse pela política nacional e tomava as ruas do país a favor do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, hoje observa-se um certo distanciamento de boa parte dos jovens das decisões políticas.
Em Minas, considerado o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, eleitores com idade entre 16 e 17 anos, quando o voto é facultativo,representam apenas 1,91% de todo o eleitorado nestas eleições. Os números ainda revelam que, em comparação com o pleito de 1992,houve uma redução de 1,93% entre eleitores desta faixa etária.
Naquele ano, marcado por movimentos estudantis como os "caras-pintadas", havia 387.805 adolescentes com o título na mão, enquanto em 2012 são 287.893 jovens eleitores no Estado.
Os números deste ano também são baixos se comparados às eleições de 2008, quando esses jovens representavam 2,02% do total.
A estudante Ana Beatriz Martins, de 18 anos, não pretende votar nestas eleições. A jovem além de não ter o título de eleitor acredita que,
ultimamente, não está valendo a pena acompanhar política. "Entre os meus amigos ninguém fala sobre esse assunto e eu também não tenho muito interesse".
Assim como ela, Lucas Dayrel Cordeiro, 17, não tem título e pretende ficar sem o documento até a maioridade, quando será obrigatório. "Não tenho interesse e não gosto de política, muito menos acompanho. Se não fosse obrigado não iria votar, nem depois dos 18 anos". O adolescente faz parte de um time de futebol e conta que os colegas também já revelaram a falta de interesse em votar nestas eleições.
"Ninguém do time tem o título e eleição não é um tema discutido entre o pessoal da nossa idade. Com tanta notícia de corrupção a gente se pergunta: votar para quê? Os candidatos também não ajudam muito", diz o estudante. Na contramão da maioria, a estudante Sara dos Santos, se destaca. Com apenas 17 anos, ela se considera engajada politicamente e pretende participar da escolha do prefeito e dos vereadores de Belo Horizonte.

Confira o vídeo:
Segundo o professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade Federal de Minas Gerais, Manoel Leonardo Santos, o jovem
como qualquer outro cidadão constitui um público eleitor a ser perseguido. No entanto, falta um discurso mais focado e direcionado para tal faixa etária que compreende um eleitor com expectativas muito particulares. "Além de faltar política específicas, existe um problema no discurso político, até mesmo nas propagandas eleitorais, que não são atrativas para os jovens. A maioria consiste em um discurso pasteurizado", afirma Santos.
Na opinião do professor, o eleitor de modo geral tem uma certa desafeição com a política. Outro ponto a ser discutido é a maneira negativa como os meios de comunicação a retratam. "O que chega para o público, na maioria das vezes, são escândalos de corrupção, o interesse privado sobre o interesse público. Portanto, é natural que o jovem sinta esse sentimento de rejeição de forma mais dura",explica.
O uso de novos mecanismos, como as redes sociais, seria uma maneira de estreitar as relações com esse público. Conforme Santos, a taxa de utilização desses meios ainda é baixa entre os políticos. "Um levantamento recente mostrou que menos de 20% responde e-mails e uma porcentagem ainda muito baixa interage por meio do Facebook e do Twitter, por exemplo, canais formados principalmente por um público jovem", diz Santos.
Para ele, seria uma oportunidade de estreitar os laços com os eleitores que andam descrentes e quem sabe, despertar o interesses de muitos para este assunto. "Política ainda é um tema não dominado pela maioria. Se você perguntar as pessoas, grande parte não sabe como se dá a distribuição de cadeiras no sistema eleitoral, por exemplo. Menos de 30% saberia responder essa questão", explica. O primeiro passo para o despertar político, segundo o professor, é a família. O ideal é colocar o assunto em pauta, na conversa do dia a dia, no bate-papo na cozinha, mostrando aos jovens como a política afeta a vida de toda a comunidade.
Quanto ao engajamento e militância que era uma característica marcante dos jovens em décadas passadas, Santos acredita que na verdade isso não foi perdido e sim transformado. "Com a Internet tudo mudou. As formas de se relacionar, de comprar e também de protestar. Hoje ao invés dos jovens se mobilizarem e irem para às ruas como ocorreu no 'Fora Collor' ocorre o 'cyberativismo'. As pessoas cada vez mais utilizam a Internet para isso", afirma o professor.
Sobre os movimentos estudantis atuais, ele acredita que houve uma fragmentação."Esses movimentos agora são formados por várias associações. A União Nacional dos Estudantes (UNE) não é mais a única interlocutora dos estudantes com a sociedade. Em 1992, houve uma imensa mobilização da UNE e os jovens tiveram papel de protagonistas, se apresentando como fortes opositores ao governo de direita. Já hoje existe um alinhamento ideológico", comenta.
Caras-pintadas
Em agosto e setembro de 1992, jovens e estudantes brasileiros pintaram o rosto de verde e amarelo e organizaram passeatas pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, em um movimento denominado de "caras-pintadas".O primeiro presidente eleito pelo voto direto desde 1961 --quando Jânio Quadros saiu vencedor das urnas-- foi acusado pelo próprio irmão, Pedro Collor de Melo, de cumplicidade com seu tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, acusado de cometer crimes como enriquecimento ilícito, evasão de divisas e tráfico de influência.
 
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