domingo, 21 de outubro de 2012

Por estética, garotas buscam cirurgia íntima na adolescência

Precoce
Médicos brasileiros alertam que é preciso esperar até a iniciação sexual
Publicado no Jornal OTEMPO em 21/10/2012

LITZA MATTOS
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Meninas de apenas 11 anos de idade já estão procurando ginecologistas, na Inglaterra, em busca de cirurgias íntimas. Em dez anos, o número de plásticas da vagina realizadas pelo Serviço Nacional de Saúde britânico (SNS) aumentou cinco vezes, conforme estudo publicado na "Revista Internacional de Obstetrícia e Ginecologia". Trinta por cento das mulheres entrevistadas disseram que a insatisfação com a aparência surgiu entre os 11 e os 15 anos de idade.
O boom de cirurgias plásticas vaginais em meninas por motivos estéticos preocupa. No Brasil, segundo especialistas, esse procedimento não é recomendado antes da iniciação sexual. A estudante Camila (nome fictício), 25, conta que sentia vergonha em relação ao seu corpo desde os 12 anos. "Os pequenos lábios vaginais eram maiores do que os grandes lábios e eu ficava incomodada pelo aspecto estético. Não achava bonito e tinha vergonha de trocar de roupa na frente de outras pessoas", conta.
Camila seguiu a orientação da ginecologista, que a alertou que o procedimento só poderia ser realizado quando ela tivesse 18 anos ou mais. Aos 22 anos, a estudante passou pela ninfoplastia - redução do tamanho dos pequenos lábios vaginais. "Se soubesse que não doía e que seria tão simples, teria feito assim que completei os 18 anos, mas, na época, não tinha namorado e isso, com certeza, influencia muito", conta satisfeita com o resultado.
"A partir do momento em que a jovem inicia as relações sexuais e isso passa a ser um problema, deve ser procurado um profissional", orienta o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica - regional Minas Gerais (SBPC-MG), o cirurgião plástico Cláudio Salum Castro.
No Brasil, o perfil dessas pacientes é formado principalmente por mulheres entre 20 e 40 anos de idade. Julio Walter Vedovato, cirurgião plástico em Porto Alegre, diz perceber um crescimento na procura pelas cirurgias íntimas de, aproximadamente, 50% nos últimos três anos. Ele afirma que, atualmente, chega a fazer em torno de três a quatro cirurgias desse tipo a cada semana.
No último relatório da SBCP, divulgado em 2009, a cirurgia íntima nem aparecia nas estatísticas. Segundo o diretor geral da associação, Carlos Alberto Komatsu, um novo levantamento já está sendo produzido e pode detectar a demanda.
CUIDADOS. Os principais procedimentos estéticos ligados à vulva vão desde a reconstituição do hímen até a lipoaspiração do chamado Monte de Vênus, localizado na parte superior e externa da vagina.
O cirurgião plástico Frederico Vasconcelos conta que os riscos da cirurgia são muito baixos, mas os cuidados devem ser tomados para evitar uma cicatrização irregular, principalmente no pós-operatório. "É necessário ficar 30 dias sem relações sexuais, fazer compressas de água ou soro gelados e usar roupas mais largas", diz.
Fetiche. Algumas mulheres têm procurado esses procedimentos como uma forma de "apimentar" o relacionamento. A atriz Ângela Bismarchi já passou por 13 cirurgias plásticas, sendo três delas íntimas: duas para a reconstituição do hímen e uma ninfoplastia.
"Eu fiz a primeira em 2009, como uma forma de presentear meu marido, como um fetiche mesmo. Eu recomendo para outras mulheres porque muitas delas têm vergonha e isso pode contribuir com a auto-estima", afirma.
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Vale-plástica traz discussão sobre precocidade
Cupons de cirurgia plástica no valor de R$ 21 mil foram o presente escolhido pela britânica Sarah Burge, 51, para o aniversário de 8 anos da sua filha Poppy. A ex-enfermeira, que já fez mais de cem procedimentos estéticos, declarou à imprensa britânica que está ‘investindo’ no futuro da filha, que poderá fazer as cirurgias quando completar 18 anos.

Um levantamento encomendado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC), em 2009, mostrou que, no país, a preocupação estética também tem sido precoce. Dos 629 mil procedimentos cirúrgicos estéticos feitos entre 2007 e 2008, 8% - aproximadamente 50 mil - foram realizados em crianças e adolescentes de até 18 anos. Nos dois anos, foi feita uma média de 68 plásticas em menores por dia no país.
A advogada Anna Cristina de Carvalho, 23, fez cirurgia plástica no nariz quando tinha apenas 15 anos. Inspirada pelo primo, que havia sido submetido ao procedimento, ela também encorajou a irmã mais nova a fazer a mesma cirurgia, também aos 15 anos. "Isso me incomodava muito. Cheguei a sofrer bullying na escola, tinha vergonha de conversar com as pessoas mais novas e tirar foto. Conversei com a minha mãe, e ela aprovou somente depois da orientação do médico. Apesar de ter feito exclusivamente pela estética, a cirurgia mudou a minha vida", garante a advogada.
Avaliação. O pediatra Leonardo Falci Mourão, professor de pediatria Faculdade de Medicina do UNI-BH e presidente do Comitê de Cuidados Primários da Sociedade Mineira de Pediatria, contraindica qualquer procedimento cirúrgico ou estético para crianças e adolescentes.
"Alguns pais se envolvem em situações de competitividade, mas todo procedimento tem seu risco. O culto ao corpo é muito grande, e a estética tem predominado e chegado ao ponto de alguns adolescentes estarem colocando em risco a saúde", explica.
A British Association of Aesthetic Plastic Surgeons (associação britânica de cirurgiões plásticos) orienta que se aplique uma avaliação psicológica nos pacientes que desejam fazer cirurgias plásticas. Mas, apesar da recomendação, menos de 35% das clínicas aplicaram os testes psicológicos de rotina, segundo estudo recente feito pela associação. (LM)
Aniversário festejado em Spa
Passar uma tarde desfrutando de procedimentos relaxantes e estéticos - como massagens e escalda-pés - é a nova mania das meninas a partir dos 6 anos de idade para comemorar o aniversário ou a formatura da escola.
De olho nas oportunidades de mercado, o Soul Zen Spa, localizado em Belo Horizonte, passou a oferecer, neste ano, dois pacotes direcionados para esse público.
A fisioterapeuta e consultora do spa, Roseli Peluzo, explica que a procura ainda é moderada, e por causa disso, o estabelecimento diversificou os serviços.
No programa Spa Tutti-frutti, as meninas podem fazer massagem relaxante aromatizada, manicure, pedicure e maquiagem leve, além de terem à sua disposição uma mesa de guloseimas.
Os meninos também podem participar do Spa Suspiro de Chocolate, que conta com relaxamento dos pés com toalhas quentes, degustação de milk shake de chocolate e massagem relaxante aromatizada.
"Os procedimentos levam cerca de duas a três horas e são feitos por três ou quatro garotas juntas. Nas unhas, é feita apenas a pintura, sem a retirada das cutículas. Já a maquiagem vai de acordo com a escolha dos pais", explica Roseli. Segundo ela, não há riscos. "Geralmente, usamos apenas um brilho labial. Além disso, as massagens são feitas com uma pressão mais leve, e os produtos utilizados são neutros e antialérgicos", garante.
Toda a decoração do espaço é preparada para receber as clientes. "Os pais trazem as meninas, mas não participam. Ao chegarem, elas recebem um colar havaiano e se divertem bastante, conversam e relaxam", diz.
Os preços variam entre R$ 150 e R$ 185 por criança, e os procedimentos são feitos com agendamento antecipado. (LM)

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