segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Nem estudo é garantia de salário maior em Minas

Levantamento feito pelo Ministério do Trabalho para o EM mostra que distância de ganho inicial entre o profissional com ensino fundamental e o com médio é a menor em cinco anos

Paula Takahashi -Estado de Minas
Publicação: 12/11/2012 06:55 Atualização: 12/11/2012 07:29

A corretora de imóveis Marta Costa tem vencimento equivalente ao de profissional graduado apesar de ter apenas o ensino médio completo  (Jair Amaral/EM/D.A Press)
A corretora de imóveis Marta Costa tem vencimento equivalente ao de profissional graduado apesar de ter apenas o ensino médio completo

Estudar mais para ganhar salários melhores sempre foi a premissa de qualquer profissional. Mas esta já deixou de ser uma regra, pelo menos entre cargos de baixa qualificação que estão com a demanda em alta, enquanto a oferta de mão de obra não avança na mesma proporção. O resultado: ficar três anos a mais na escola para conclusão do ensino médio em Minas Gerais garante ganho inicial de R$ 26 a mais se comparado com o salário de quem ingressa no mercado de trabalho com o ensino fundamental completo. No país, a diferença é de R$ 41,66.
Levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) realizado a pedido do Estado de Minas revela que a distância entre os salários iniciais de profissionais com ensino médio e fundamental completos é a menor dos últimos cinco anos no estado. Durante este período, a diferença de proventos sempre girou na casa dos R$ 30 – alcançando pico de R$ 36 em 2010. A justificativa está na valorização dos salários de admissão daqueles com menos anos de estudo. Para ensino fundamental, a alta entre 2007 e 2012 foi de 63,1%, enquanto para o médio ficou em 59,5%. Entre os analfabetos, a alta foi de 68,6%, ficando em 43,5% entre os graduados, menor variação entre todas as escolaridades.

Para os especialistas, o fenômeno está mais relacionado à conjuntura econômica do que propriamente ao número de anos dedicados à educação. “O salário mínimo vem ganhando ajustes reais expressivos nos últimos anos, o que impacta diretamente na remuneração de pessoas com menor qualificação. Enquanto isso, os aumentos para cargos maiores não ocorrem na mesma velocidade”, diz o coordenador do curso de recursos humanos da Newton Paiva, João de Avelar Andrade.
A disputa com a indústria fez com que comércio e serviço perdessem força de trabalho. “Com isso, profissionais sem qualificação começam a escassear e o salário a subir”, observa Otto Nogami, professor de economia do Insper. Mário Rodarte, professor de economia e demografia da UFMG e pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais (Cedeplar) reconhece que a falta de profissionais para ocupar determinadas funções está entre as principais causas do cenário “aparentemente estranho”. “Esse movimento tornou-se mais visível com o boom imobiliário que ampliou muito a demanda por mão de obra de menor escolaridade, num momento histórico em que esse perfil diminui sua participação na força de trabalho”, avalia Rodarte.
São mestres de obras que ganham mais que médicos, pedreiros com salários superiores a R$ 3 mil e uma série de outros cargos que ajudam a puxar a média salarial de escolaridades mais baixas. Também na onda da construção civil em alta, a corretora de imóveis da Morus Marta Costa tem ensino médio completo, mas com salário digno de gerente de grande empresa. “Se tivesse ensino superior, não sei se ganharia a mesma coisa”, conta. Isso não significa que ela queira desistir dos estudos. “Vou fazer um curso de especialização em gestão imobiliária para não ficar desatualizada”, planeja.
Superior desvaloriza
O salário de admissão para graduados ainda é duas vezes e meia superior se comparado ao de profissionais com ensino médio completo. A diferença, porém, já foi muito maior. Em 2008, chegou a 186,8%, percentual que vem caindo gradativamente de lá para cá. Para o professor titular do Departamento de Economia da PUC-RJ, José Márcio Camargo, a heterogeneidade dos profissionais com ensino superior completo dificulta o estabelecimento de salários padrões, como o que ocorre com o grupo menos escolarizado.
“Neste caso, o empresário tende a oferecer valores menores, já que não tem garantia e certeza da produtividade do funcionário. Para evitar erros e pagar salários maiores, oferece remuneração de entrada reduzida”, avalia. O que não significa que o cenário se manterá. “Se fizermos uma pesquisa mais ‘pente-fino’, na esfera de cada posto de trabalho, notamos que o trabalhador qualificado tende a ganhar expressivamente mais que seu colega de atividade que executa a mesma tarefa”, pondera Rodarte.
Cargos mais bem remunerados
Gerente de contratos da construção pesada, superintendente de shopping e gerente de geologia com foco em mineração são alguns dos cargos executivos mais bem remunerados em Minas Gerais. Os dados são da pesquisa de remuneração da Michael Page, um dos maiores players em recrutamento especializado. Na comparação com estados como Rio de Janeiro e São Paulo, Minas Gerais desponta com os melhores salários para esses profissionais. Enquanto em São Paulo e no Rio de Janeiro um gerente de contratos recebe até R$ 30 mil, em Minas o salário pode passar de R$ 35 mil.
O mesmo acontece com o gerente de geologia de mina, que recebe até R$ 20 mil, e o superintendente de shopping, que recebe até R$ 30 mil. Os bons salários são justificados pela demanda dos próprios setores por profissionais especializados nessas áreas. De acordo com o diretor da Michael Page em Belo Horizonte, Rafael Chagas, o crescimento do salário para os gerentes de contratos, por exemplo, ocorre em função do aquecimento da construção pesada. “O mercado ficou parado por duas décadas e de oito anos para cá estamos vendo esse segmento crescer de novo e com ele o salário”, explica.
Ainda de acordo com Chagas, o surgimento de contratos em áreas pouco desenvolvidas e o acúmulo de responsabilidades para esses profissionais também justificam os altos salários da função. “Além de trabalharem em locais complicados, com contratos de difícil performance e num ambiente de muita pressão, a atuação do gerente de contrato de obras pesadas se assemelha muito ao papel de um CEO de uma empresa de grande porte”, diz.
Tão raro como a mão de obra para gerente de contratos é o geólogo sênior especializado em mineração, que em Minas tem salário que vai de R$ 15 mil a R$ 20 mil, segundo a pesquisa. O profissional, que antes sofria com uma desvalorização em função da realização de atividades técnicas e de campo, agora precisa de conhecimento de mercado para receber salários mais atrativos. “Esse profissional tem que ser bom tecnicamente, mas também entender do negócio, da exploração, do planejamento”, considera Chagas.
Conhecimento Também se destacam no estudo, que analisou outros cinco cargos executivos em Minas e no Brasil, os superintendentes de shopping, com salários que vão de R$ 20 mil a R$ 30 mil. Responsáveis por orquestrar todas as operações de um empreendimento, esses profissionais precisam ser completos, assegura o consultor da área de marketing e vendas da Michael Page, Frederico Torres. “Nesse setor as remunerações são tão agressivas quanto as metas e, por isso, esse profissional precisa ser completo e a busca se torna mais criteriosa”, avalia Torres. “É necessário que esse profissional tenha conhecimentos em operações financeiras, mas também em gestão de pessoas e foco em resultados”, completa.
Entre as outras remunerações analisadas em Minas, estão a do diretor de planejamento tributário, que em Minas recebe de R$ 18 mil a 25 mil, engenheiro de minas sênior, de R$ 15 mil a R$ 20 mil, gerente de RI, de R$ 17 mil a R$ 20 mil, gerente de vendas com foco em TI e Telecom de R$ 15 mil a R$ 20 mil e gerente de marketing on-line de R$ 12 mil a R$ 17 mil. Para 2013, Chagas espera que o mercado em Minas contrate ainda mais.

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