quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Aula de inglês atrai 80 prostitutas em BH. Vocabulário segue onda masoquista


Sandra Kiefer - Estado de Minas
Publicação: 09/01/2013 06:00 Atualização: 09/01/2013 07:00

Recém-chegada à atividade, Bruna não abre mão do dicionário (Leandro Couri/EM/D.A Press)
Recém-chegada à atividade, Bruna não abre mão do dicionário


To whip é chicotear, na tradução simples do inglês para o português. Na onda do maior best-seller dos últimos tempos, Cinquenta tons de cinza, este é um dos termos obrigatórios a ser ensinados no curso básico de inglês para prostitutas, com vistas à Copa do Mundo de 2014, previsto para começar em fevereiro na sede da Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig). Apesar de já contar com 80 candidatas inscritas, a data ainda não é certa em função da seleção de professores, que devem estar preparados para adaptar ao idioma tupiniquim todos os tipos de fetiches, segundo explica Cida Vieira, presidente da entidade, que está localizada na Rua Guaicurus, 268, ao lado do Hotel Brilhante, um dos pontos de maior rotatividade de clientes do Centro de Belo Horizonte, região onde está sendo erguido o maior hotel voltado para o Mundial do ano que vem.

Para dar aula na Aprosmig, o(a) professor(a) deve estar preparado(a) para oferecer um pequeno dicionário dos termos em voga entre as meninas da Guaicurus, tais como pedolatria (loucura por pés), banho de neve (pingar vela sobre o corpo do cliente) e variações de submissão. “A modalidade de escravo é muito requisitada. Os clientes pedem que a gente pise no pescoço deles e eles adoram”, conta Cida Vieira, que ainda não leu a trilogia famosa. “Não tive tempo, mas já me contaram do que se trata”, diz ela, que oferece o programa com fetiche a R$ 150, cinco vezes mais em relação ao trivial de R$ 30, com duração de 20 minutos.
 “Só sei falar money, good morning e good evening em inglês. Vou ser uma das alunas do curso”, admite a presidente da entidade, vacilando na pronúncia do boa-noite. Para Cida Vieira, assim como todos os setores da economia estão se movimentando para a Copa do Mundo de 2014, não poderia ser diferente com as profissionais do sexo. “O inglês é importante não só para a Copa, mas também para a vida. Todos os dias atendemos aqui italianos. Também já recebi canadenses. Na nossa profissão, o diálogo é essencial”, conta.

“Quem tem boca vai a Roma”, reza o antigo ditado. E vai também à Espanha, Estados Unidos, Austrália e Portugal. “Permita-me unas copas?”, arrisca um portunhol a loura Patrícia, de 47 anos, natural do Rio Grande do Sul, mas que trabalha na Guaicurus desde os 18. Já conheceu parte do mundo com o dinheiro arrecadado nos programas e sabe “se virar” em diversas línguas. “Sei falar bem o português de Portugal, porque morei dois anos por lá. Arrebentei ganhando R$ 100 mil em um bingo e fui ficando.

Novata

Do alto de sua experiência, Patrícia pretende se aposentar no ano da Copa no Brasil. “Vai ser muita encheção de saco, vai dar muita polícia”, questiona. Já a colega Bruna, de 18 anos, está entusiasmada com os novos mundos que podem se abrir com a chegada do Mundial. “Os estrangeiros devem ser mais educados que os brasileiros, devem tratar a gente melhor”, confessa a menina, que ainda não completou um mês na nova carreira. Com segundo grau completo, ela conta que gosta de estudar e tem facilidade de aprender. Entrou nesta vida porque tem duas filhas para sustentar, uma de 2 anos e outra de 8 meses. “Meu sonho é conhecer um japonês e me apaixonar”, revela.

Velha de guerra, Daniela já se inscreveu no curso de inglês oferecido pela entidade de classe. Com os cabelos longos e negros, pele cor de canela, ela se comunica por meio da internet com um irmão na Itália, um amigo nos EUA e quatro amigos virtuais na Turquia. De certa forma, sabe trocar palavras em turco, que vai traduzindo pela ferramenta de tradução do Google. Ti voglio bene, comprova ela, tímida, mostrando na prática o que disse a ela recentemente a sobrinha de 2 anos, que mora na Itália.

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