Prefeitos eleitos no ano passado em Minas começam seu mandato em dificuldade, por causa da situação financeira encontrada, como revelou este jornal. Os repórteres descobriram cidades que há semanas estão sem recolhimento de lixo, outras cujos funcionários se encontram com os salários atrasados. E aquelas que estão devendo à Previdência Social porque a prefeitura não repassou o percentual subtraído dos salários dos servidores.
E o problema, que abrange ainda falta de assistência médica, serviços paralisados e outras mazelas, não afeta apenas aqueles “burgos podres sem alma cívica” definidos em 1982 por Tancredo Neves, durante sua campanha para o governo de Minas. Ele se referia aos municípios pobres, controlados tradicionalmente por grupos políticos que não têm qualquer compromisso com os interesses públicos. Até municípios ricos e politizados, como Ipatinga, estão enfrentando esses problemas.
Em Santa Luzia, na região metropolitana, moradores reclamam que o lixo não é recolhido desde o começo de dezembro. Em protesto, lixo foi jogado por aqueles mais revoltados na porta da prefeitura.
Mesmo Juiz de Fora, onde o prefeito Custódio Mattos, do PSDB, ao passar o cargo para o sucessor Bruno Siqueira, do PMDB, alardeava que deixava R$ 300 milhões garantidos para obras, a transição não parece normal. O novo prefeito exonerou mais de 500 funcionários comissionados – ou seja, que trabalhavam sem ter feito concurso público, geralmente nos melhores cargos – para conter despesas. E anunciou que haverá novos cortes, pois não há recursos para executar o orçamento previsto para este ano em mais de R$ 1,4 bilhão.
A maioria dos prefeitos que se vê em má situação no fim do mandato culpa os governos do Estado ou da União, pelos problemas. Realmente, houve a partir de meados de 2012 uma redução dos impostos repassados aos municípios, em razão de incentivos fiscais concedidos às empresas na tentativa de reanimar a economia. Mas o que mais houve, de fato, foi imprevidência dos prefeitos e escolhas equivocadas na aplicação dos impostos recolhidos.
Fazem muita falta em Minas políticos da estirpe de Milton Campos. Como lembrou, segunda-feira (8), o articulista Dídimo Paiva, o ex-governador e ex-ministro da Justiça recusou o convite para ser ministro do Supremo Tribunal Federal porque não queria se aposentar compulsoriamente aos 70 anos, seis meses depois da posse, e receber pelo resto da vida a aposentadoria de ministro.