Por *Paulo Sarudy Marques de Souza
Foi
em 2004 que começou meu sonho de ser policial federal. Estava
terminando o curso de Administração e, apesar de trabalhar na área há
quatro anos, não tirava da cabeça essa meta, que se tornaria prioridade
de vida.
Naquele
tempo, a Polícia Federal estava em alta. Toda semana o noticiário
mostrava uma grande operação, geralmente com a prisão de dezenas de
investigados. Como a maioria da população, que não conhece os bastidores
do órgão, sentia orgulho e muito respeito pela Polícia Federal.
Naquele
ano, pedi demissão do emprego na iniciativa privada e passei a me
dedicar dez horas por dia aos estudos, no intuito de realizar o tão
almejado sonho, que logo viria a se concretizar. Fui aprovado no cargo
de agente de Policia Federal, graças a Deus!
Durante
o curso de formação profissional, na Academia Nacional de Polícia
(ANP), em Brasília passei quatro meses e meio estudando e aprendendo a
técnicas e procedimentos do chamado “FBI brasileiro”. Mais tarde
descobri que essa analogia, feita com frequência pela mídia, é
equivocada.
Acreditei
que um dia poderia fazer a diferença para o País, que seria respeitado
pela sociedade e pelos governantes, em razão do meu trabalho, dedicação,
sacrifício, qualificação, conhecimentos acadêmicos e experiência
profissional, adquiridos em minha carreira.
Em
2006, tomei posse numa superintendência na Região Norte, para onde me
mudei, junto com a esposa, que compartilhava o mesmo sonho e acabou por
se tornar escrivã de Polícia Federal. Como tantos colegas, abdiquei de
horas de convivência com a família, de lazer e de sono. Enfim, “dei o
sangue”, como se diz na gíria policial, em prol da PF e da sociedade.
Em
poucos meses, no choque com a realidade, o sonho começou a ruir.
Deparamo-nos com a realidade que a maioria da população desconhece: que
não podemos fazer a diferença, como esperávamos. Que a maior parte do
nosso trabalho não iria dar em nada!
Atualmente,
somos subutilizados como profissionais. Sequer temos atribuições e
remuneração condizentes com o nível superior dos cargos, consagrado por
lei desde 1996 e reconhecido pelo Ministério do Planejamento.
Como
assim? O “FBI brasileiro” não reconhece seus bravos servidores
policiais?”, poderia questionar alguém que só conhece a PF por sua
televisivas operações. A resposta é simples: “NÃO!”
Tudo
indica que o “sistema” não tem interesse em fortalecer e reconhecer a
importância da categoria de escrivães, papiloscopistas e agentes da
Polícia Federal.
Há
mais de mil dias, os policiais federais estão negociando com o governo,
através do Ministério da Justiça, Ministério do Planejamento e da
própria Secretaria da Presidência da República e até agora foram
“cozinhados em banho-maria”, sem nada de concreto ou perspectiva de
mudanças, em curto, médio ou longo prazo.
A
mídia, aparentemente comprada pelo atual “sistema”, limitou-se a
divulgar a versão dos supostos transtornos da greve dos policiais
federais, ocorrida no ano passado, a maior e mais longa de todos os
tempos. Os jornais se esqueceram de informar à sociedade a verdadeira
razão da greve, muito além de reivindicações salariais: o pedido de
“SOCORRO”, por mais eficiência na prestação dos serviços de segurança
pública.
Através
de vários estudos já foi demonstrada a notória ineficiência do arcaico
modelo de investigação criminal no Brasil, que tem por base o inquérito
policial. Essa peça só existe no Brasil e, segundo os dados, não se
presta a apurar autoria e materialidade de 95% dos crimes.
Soluções
de aperfeiçoamento desse modelo já foram apresentadas e aparentemente
engavetadas pelos dirigentes da PF, que alegam outras prioridades.
Os
policiais federais estão batendo em todas as portas de gabinetes de
autoridades políticas e expondo a situação em audiências públicas. Pelas
ruas, gritaram e continuam gritando por SOCORRO. Até hoje, alguns
parlamentares e formadores de opinião engrossaram o nosso coro. Mas até
agora NADA!
Os
índices de violência e criminalidade no Brasil aumentam
vertiginosamente, enquanto milhares de inquéritos estão parados, sem
solução e a população clama por justiça, por mudanças. Familiares de
vítimas choram e sofrem na expectativa de soluções da polícia e NADA!
Quem será a próxima vítima? Eu? Você? Seu filho? Seu amigo?
Início
de 2013, como a maioria dos EPA´s, estou revivendo o antigo sonho,
agora pesadelo. Desencantado, desmotivado, decepcionado e triste, em
constatar que a Polícia Federal está morrendo lentamente e seus
dirigentes e os governantes nada fazem para mudar essa situação.
Estou
frustrado por descobrir que meu sonho de me tornar agente de Polícia
Federal e contribuir para a mudança do País não passou de utopia. No
jargão popular, é como “dar murro em ponta de faca”. De sentir que meu
orgulho de ser federal (como na letra do hino da PF) está acabando, está
morrendo...
Quem vai sentir as consequências não são apenas os policiais federais, mas todos nós, cidadãos!
Como
a esperança é a última que morre, principalmente num país como o
Brasil, onde a morte tem a violência e o descaso como aliados, resta
torcer para que a sociedade organizada se junte a nós, no grito de “SOS
Polícia Federal”.
*Paulo Sarudy Marques de Souza é Agente de Polícia Federal bacharel em Administração. Fonte: Agência Fenapef
Postado por Marcio Gerente (Administrador da Saga)
FONTE: http://www.sagapolicial.com
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