sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Quando o sonho de ser PF vira pesadelo


  Por *Paulo Sarudy Marques de Souza
Foi em 2004 que começou meu sonho de ser policial federal. Estava terminando o curso de Administração e, apesar de trabalhar na área há quatro anos, não tirava da cabeça essa meta, que se tornaria prioridade de vida.
Naquele tempo, a Polícia Federal estava em alta. Toda semana o noticiário mostrava uma grande operação, geralmente com a prisão de dezenas de investigados. Como a maioria da população, que não conhece os bastidores do órgão, sentia orgulho e muito respeito pela Polícia Federal.

Naquele ano, pedi demissão do emprego na iniciativa privada e passei a me dedicar dez horas por dia aos estudos, no intuito de realizar o tão almejado sonho, que logo viria a se concretizar. Fui aprovado no cargo de agente de Policia Federal, graças a Deus!
Durante o curso de formação profissional, na Academia Nacional de Polícia (ANP), em Brasília passei quatro meses e meio estudando e aprendendo a técnicas e procedimentos do chamado “FBI brasileiro”. Mais tarde descobri que essa analogia, feita com frequência pela mídia, é equivocada.
Acreditei que um dia poderia fazer a diferença para o País, que seria respeitado pela sociedade e pelos governantes, em razão do meu trabalho, dedicação, sacrifício, qualificação, conhecimentos acadêmicos e experiência profissional, adquiridos em minha carreira.
Em 2006, tomei posse numa superintendência na Região Norte, para onde me mudei, junto com a esposa, que compartilhava o mesmo sonho e acabou por se tornar escrivã de Polícia Federal. Como tantos colegas, abdiquei de horas de convivência com a família, de lazer e de sono. Enfim, “dei o sangue”, como se diz na gíria policial, em prol da PF e da sociedade.
Em poucos meses, no choque com a realidade, o sonho começou a ruir. Deparamo-nos com a realidade que a maioria da população desconhece: que não podemos fazer a diferença, como esperávamos. Que a maior parte do nosso trabalho não iria dar em nada!
Atualmente, somos subutilizados como profissionais. Sequer temos atribuições e remuneração condizentes com o nível superior dos cargos, consagrado por lei desde 1996 e reconhecido pelo Ministério do Planejamento.

Como assim? O “FBI brasileiro” não reconhece seus bravos servidores policiais?”, poderia questionar alguém que só conhece a PF por sua televisivas operações. A resposta é simples: “NÃO!”

Tudo indica que o “sistema” não tem interesse em fortalecer e reconhecer a importância da categoria de escrivães, papiloscopistas e agentes da Polícia Federal.

Há mais de mil dias, os policiais federais estão negociando com o governo, através do Ministério da Justiça, Ministério do Planejamento e da própria Secretaria da Presidência da República e até agora foram “cozinhados em banho-maria”, sem nada de concreto ou perspectiva de mudanças, em curto, médio ou longo prazo.

A mídia, aparentemente comprada pelo atual “sistema”, limitou-se a divulgar a versão dos supostos transtornos da greve dos policiais federais, ocorrida no ano passado, a maior e mais longa de todos os tempos. Os jornais se esqueceram de informar à sociedade a verdadeira razão da greve, muito além de reivindicações salariais: o pedido de “SOCORRO”, por mais eficiência na prestação dos serviços de segurança pública.

Através de vários estudos já foi demonstrada a notória ineficiência do arcaico modelo de investigação criminal no Brasil, que tem por base o inquérito policial. Essa peça só existe no Brasil e, segundo os dados, não se presta a apurar autoria e materialidade de 95% dos crimes.

Soluções de aperfeiçoamento desse modelo já foram apresentadas e aparentemente engavetadas pelos dirigentes da PF, que alegam outras prioridades.

Os policiais federais estão batendo em todas as portas de gabinetes de autoridades políticas e expondo a situação em audiências públicas. Pelas ruas, gritaram e continuam gritando por SOCORRO. Até hoje, alguns parlamentares e formadores de opinião engrossaram o nosso coro. Mas até agora NADA!

Os índices de violência e criminalidade no Brasil aumentam vertiginosamente, enquanto milhares de inquéritos estão parados, sem solução e a população clama por justiça, por mudanças. Familiares de vítimas choram e sofrem na expectativa de soluções da polícia e NADA! Quem será a próxima vítima? Eu? Você? Seu filho? Seu amigo?

Início de 2013, como a maioria dos EPA´s, estou revivendo o antigo sonho, agora pesadelo. Desencantado, desmotivado, decepcionado e triste, em constatar que a Polícia Federal está morrendo lentamente e seus dirigentes e os governantes nada fazem para mudar essa situação.

Estou frustrado por descobrir que meu sonho de me tornar agente de Polícia Federal e contribuir para a mudança do País não passou de utopia. No jargão popular, é como “dar murro em ponta de faca”. De sentir que meu orgulho de ser federal (como na letra do hino da PF) está acabando, está morrendo...
Quem vai sentir as consequências não são apenas os policiais federais, mas todos nós, cidadãos!

Como a esperança é a última que morre, principalmente num país como o Brasil, onde a morte tem a violência e o descaso como aliados, resta torcer para que a sociedade organizada se junte a nós, no grito de “SOS Polícia Federal”.
*Paulo Sarudy Marques de Souza é Agente de Polícia Federal bacharel em Administração. Fonte: Agência Fenapef
Postado por Marcio Gerente (Administrador da Saga)


FONTE: http://www.sagapolicial.com

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