quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

R.S: Bombeiro será investigado

Delegado pede a prorrogação das prisões de envolvidos no caso e vai apurar a denúncia de que empresa contratada para elaborar o plano de combate a incêndio da boate Kiss pertence a um servidor da corporação
Brasília e Santa Maria (RS) — Deve ser prorrogada a prisão dos quatro detidos por suspeita de envolvimento no incêndio da boate Kiss, que deixou 235 mortos e mais de 100 feridos em Santa Maria. O delegado Marcelo Arigony, que cuida das investigações, pedirá à Justiça a manutenção da detenção dos dois sócios da casa noturna e dos dois músicos da banda Gurizada Fandangueira. Ele informou também que investigará se um bombeiro do município gaúcho é dono da empresa Hidramix Prestação de Serviço, contratada pela Kiss no ano passado para atualizar o plano de combate a incêndio.
Além de um flagrante conflito de interesses — já que o estabelecimento depende do Corpo de Bombeiros para obter alvará —, policiais militares da ativa são proibidos, por lei estadual, a terem outra atividade, mesmo que em outro ramo. No Rio Grande do Sul, todos os bombeiros são PMs. Eles se reportam à Brigada Militar. O bombeiro suspeito de ser dono da Hidramix é o sargento Roberto Flávio da Silveira e Souza. O Correio confirmou que ele dá expediente no Corpo de Bombeiros de Santa Maria. A empresa tem ainda como sócios Jairo Bittecourt da Silva, outro PM, e a esposa de Souza, segundo informações levantadas pelo jornal Zero Hora.
Corregedor da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, o tenente coronel Gilberto Fritz afirmou ao Correio que a situação é completamente irregular e que vai ser apurada em um inquérito policial militar (IPM) aberto na segunda-feira. "Eu desconheço tal informação, mas, se ela existe, será alvo do IPM. Posso garantir que nosso estado proíbe que um policial militar estadual da ativa tenha comércio, sociedade ou empresa. Ainda que não fosse na mesma atividade que a realizada na função pública, não pode", destaca. A proibição, de acordo com Fritz, está na Lei 10.990/97, que dispõe sobre o Estatuto dos Servidores Militares da Brigada Militar do Rio Grande do Sul.
O IPM instaurado na segunda-feira tem como objetivo apurar tudo que se relaciona às atitudes do Corpo de Bombeiros no incêndio — se houve omissão ou negligência na liberação da casa noturna, por exemplo. É um inquérito tocado por um oficial da Brigada Militar, que tem 40 dias para finalizá-lo. Ele pode pedir prorrogação de mais 20 dias, caso seja necessário realizar novos depoimentos ou novas colhida de provas. "A formação da prova é muito importante para nós. Vamos fazer tudo de forma isenta e transparente para verificar se há irregularidades no episódio do plano de prevenção e combate a incêndios", afirmou o tenente Fritz.
Ao ser informado pela imprensa da suspeita de que um bombeiro de Santa Maria teria trabalhado, de forma particular, para a Kiss na revisão do plano de incêndio, o delegado Arigony se mostrou surpreso. E confirmou que vai investigar. Na tarde de ontem, uma reconstituição com cinco testemunhas foi realizada pela equipe policial no que restou da boate. Todos foram unânimes em afirmar que a origem do fogo foi no teto do palco. Suspeita-se que um sinalizador utilizado pela banda Gurizada Fandangueira provocou o incêndio ao entrar em contato com a espuma que revestia o teto. O material é vetado por lei municipal para ser usado em casas noturnas.
Extintores
Outros depoimentos obtidos pela Polícia Civil revelam que um dos donos, Elissandro Spohr, também conhecido como Kiko, teria rebaixado o teto depois de um abaixo-assinado de vizinhos contra o barulho. Ontem, uma ex-funcionária da casa, Vanessa Vasconcelos, 31 anos, afirmou que Kiko pedia aos funcionários que retirassem das paredes os extintores por questão de decoração, mas a informação não foi comentada por autoridades que investigam o caso. Estão presos, além de Kiko, o outro sócio da boate, Mauro Hoffman; o vocalista da banda que se apresentava, Marcelo de Jesus dos Santos; e Luciano Bonila, montador do palco.
Por Renata Mariz / Amanda Almeida / João Valadares Enviado especial

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