Segundo magistrado, informações seriam vendidas para
detentos da Penitenciária José Edson Cavalieri por até R$ 30 mil; agente
ainda facilitaria entrada de drogas, armas e celulares nas celas
O
juiz da Vara de Execuções Criminais de Juiz de Fora, Amaury de Lima e
Souza, expediu mandado de prisão temporária contra um agente
penitenciário de 41 anos que trabalha na Penitenciária José Edson
Cavalieri (Pjec), no Bairro Linhares, Zona Leste. A prisão, segundo o
magistrado, ocorreu por suspeitas de que o funcionário público teria
levantado dados pessoais dele para serem vendidos a detentos da unidade
prisional. “Chegou, recentemente, uma notícia de que um agente
penitenciário estaria vendendo informações sobre o meu itinerário, das
placas dos meus carros, do local onde eu moro, para uma quadrilha de
presos já custodiados no sistema e que estariam insatisfeitos com esse
combate que a gente faz para evitar a entrada de droga, arma e celular
(no presídio), e também com a emissão de mandados de busca e apreensão
nas casas de presos. Porque, lá de dentro (da penitenciária), eles
continuam controlando o tráfico de drogas aqui fora. Então, isso deve
ter gerado uma insatisfação entre alguns detentos”, disse o juiz, em seu
gabinete, durante entrevista coletiva. Informações recebidas por Amaury
apontam que o material com o conteúdo da vida pessoal dele estaria
sendo oferecido por até R$ 30 mil.
A suspeita de que o agente
penitenciário teria feito esse levantamento surgiu durante investigações
da própria Vara de Execuções Criminais, iniciadas há seis meses. As
diligências começaram após o mesmo agente de 41 anos ser apontado como
um facilitador da entrada de armas, drogas e celulares na penitenciária.
“O nome dele foi citado insistentemente, várias vezes, por vários
detentos, em situação diferentes”, disse o juiz. Não há informações
sobre quanto o funcionário supostamente cobraria por facilitar a entrada
de objetos na unidade.
Nesta quarta-feira (08), durante
operação batizada de “Impacto”, além da prisão do agente, foram
cumpridos mandados de prisão temporária contra oito detentos da Pjec
suspeitos de ligação com o servidor público. Outros cinco mandados de
busca e apreensão foram cumpridos nas casas de presos e do funcionário.
Nesta última, no Bairro Grajaú, foram recolhidos pelo menos seis
celulares, além de notebook, câmera fotográfica, fitas de vídeo e
CD-ROM. Também foi feita uma varredura nas celas dos presos suspeitos,
mas nada teria sido encontrado. Os materiais e os detentos foram
encaminhados para a 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil, que vai dar
seguimento às investigações para averiguar as supostas relações entre o
agente penitenciário e os sentenciados. Conforme o juiz, nos últimos
seis meses, armas e diversas porções de droga foram apreendidas dentro
da penitenciária. Até o final da noite desta quarta-feira, os presos
ainda não haviam sido ouvidos no plantão.
Magistrado não crê em ameaça de morte
As investigações da Polícia Civil vão
apurar ainda a suspeita de que o agente preso teria feito outro
levantamento, desta vez sobre informações da vida de um colega da
Penitenciária José Edson Cavalieri (Pjec). Conforme o juiz Amaury de
Lima e Souza, este segundo agente era responsável por boa parte das
apreensões de drogas e armas que entravam na instituição. Devido à
atuação combativa, ele possivelmente também era visto com
descontentamento entre os presos envolvidos no suposto esquema.
Sobre o material que estaria sendo
levantado sobre sua vida pessoal, o juiz Amaury minimizou, afirmando não
crer na efetivação das ameaças de morte ou até de atentados contra sua
vida. “Não acredito que isso viesse a se concretizar. Acredito que seja
conversa fiada, mas temos que tomar cautela.”
A operação “Impacto” foi deflagrada pela
Vara de Execuções Criminais, com apoio da promotora Sandra Fátima
Totte, do titular do Tribunal do Júri, juiz José Armando Pinheiro da
Silveira, além das polícias Civil e Militar. Pelo menos 28 policiais
militares do Choque, Gate, Rotam e Rocca (Canil) participaram do
cumprimento dos mandados. Conforme Amaury, a direção da Penitenciária
José Edson Cavalieri também contribuiu com a operação. “É do interesse
de toda direção de penitenciária não deixar que esses itens, como
telefones, facas, armas e drogas, permaneçam lá dentro”, disse Amaury. A
Pjec, com capacidade para 360 presos, abriga hoje cerca de 390
detentos, segundo o juiz. Na unidade, estão abrigados apenas homens já
condenados pela Justiça.
Tribuna de Minas
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