segunda-feira, 13 de maio de 2013

O apego ao poder é a tônica nas democracias latino-americanas

Acílio Lara Resende

PUBLICADO EM 21/03/13-http://www.otempo.com.br/opini%C3%A3o/ac%C3%ADlio-lara-resende/o-apego-ao-poder-%C3%A9-a-t%C3%B4nica-nas-democracias-latino-americanas-1.626 - Imagens meramente ilustrativas: Google Images
Tanto Cristina Kirchner quanto Dilma Rousseff foram rápidas no gatilho. São vividas e sabem muito bem que, muito melhor que participar de um velório sem corpo (o do ex-presidente Hugo Chávez, segundo insinuação maldosa divulgada há dias na internet, não apareceu porque ainda estava sendo embalsamado...), é homenagear o papa Francisco no Vaticano. Primeiro porque encontrarão lá alguém vivo e bem-recebido não só pelos católicos, mas por todos os povos da Terra. Todos viram nele uma pessoa simples e disposta a olhar sempre pelos pobres e humildes, em vez de usá-los como massa de manobra.
Cristina almoçou com o papa. No passado, ela e seu falecido marido mantiveram relações conflituosas com o então cardeal. O assunto do encontro ficou fechado a sete chaves e nem se sabe se, um dia, ele deixará a urna em que ficou depositado. Na despedida, ganhou dele um beijo. Dilma, que recebeu flores ao chegar ao hotel onde se hospedou em Roma, participou da bela missa que marcou o início do pontificado de Francisco. Ontem, teve encontro também reservado com o papa, ocasião em que confirmou o convite para que, em junho, prestigie com sua presença a Jornada Mundial da Juventude, no Brasil.
Cristina agiu corretamente, como manda o figurino da boa educação. E Dilma? De origem argentina, o novo papa tem tudo a ver com o Brasil, que, aliás, será o primeiro país, no mundo, a ser visitado por ele neste ano. Só isso justificaria sua presença em Roma.
Que a maneira despojada de quem sabe, ao adotar o nome de Francisco, que o poder só vale enquanto instrumento para a promoção do bem seja imitada por nós, mas, sobretudo, pelas duas.
É isso - o uso do poder pelo bem do povo - que deveríamos todos esperar de qualquer governante. Não é isso, porém, o que acontece por aqui. Ao contrário: o lançamento, por exemplo, da candidatura de Dilma à reeleição, feito há dias pelo ex-presidente Lula, em plena festa dos 33 anos do PT e dos dez anos de governo do partido, não foi apenas precipitado e malconcebido. Foi importante passo em favor, com certeza, da manutenção do poder, quaisquer que sejam os meios. Se der certo, ela continua no páreo para ser a substituta de si mesma; se não der, está aí o eterno presidente prontinho para se valer de velho mantra e, uma vez mais, engabelar os milhões de bolsistas deste imenso país que - ninguém nega - precisam ser acudidos, mas esperam, aflitos, por um projeto de nação, não só de poder.
Muita atenção, pois, senhores líderes populistas da América Latina: a eleição de um papa de hábitos franciscanos poderá esvaziar as vossas políticas eleitoreiras. Essa Igreja para os pobres e pelos pobres, mas que não esconde o objetivo de retirá-los de toda e qualquer pobreza, pode estar agora renascendo, a partir do nosso continente. É essa Igreja - que Leonardo Boff chama de "Igreja do Terceiro Milênio" - que poderá fortalecer em nós a ideia de que é com justiça social que se ajuda os pobres e não apenas com providências assistencialistas. E a justiça social é e será sempre indispensável à consolidação de um regime que pretenda ser democrático de verdade.
Tomara que, além do fortalecimento da consciência crítica entre os povos latino-americanos e, por consequência, do fortalecimento do regime democrático, o papa Francisco se volte, com igual intensidade, aos valores da educação. Ele tem tudo para fazer isso, pois foi no "fim do mundo" que o buscaram para cumprir essa missão.

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