quarta-feira, 8 de maio de 2013

Só 11% dos médicos de Cuba passam em exame nacional

Saúde
Governo federal diz que quer trazer cubanos para trabalhar no interior
Publicado no Jornal OTEMPO em 08/05/2013

FOTO: REPRODUÇÃO
Protesto. Página no Facebook criada por estudantes de medicina do Piauí contra importação de médicos
BRASÍLIA. Um dia após o ministro Antonio Patriota (Relações Exteriores) anunciar que o governo estuda a entrada no país de 6.000l médicos cubanos, o Conselho Federal de Medicina (CFM) classificou a medida de eleitoreira e questionou a qualidade da formação desses médicos.
"Não somos contra o exercício do médico formado no exterior, mas ele precisa ser avaliado por programas como o instituído pelo próprio governo, o Revalida", disse Carlos Vital, 1ª vice-presidente do conselho.
No Revalida (programa oficial de revalidações de diplomas) de 2012, apenas 11% dos médicos formados em Cuba foram aprovados e tiveram os diplomas revalidados. Ou seja, dos 182 inscritos (majoritariamente brasileiros formados no exterior) apenas 20 foram aprovados. Apesar de baixo, o percentual está acima da média. Em 2012, a taxa de aprovação no Revalida foi de 8,7%.
O CFM ainda questiona a eficácia da política, já que dados levantados pela entidade mostram que, historicamente, os médicos com diplomas revalidados se concentram nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Questionado se não seria melhor que as cidades do interior recebessem esses médicos com diplomas estrangeiros, em vez de não ter nenhuma assistência, ele afirmou que não. "A pseudoassistência é mais grave que a falta de assistência. Quando você não tem um médico na sua cidade, pode buscar na cidade ao lado e ter um médico de qualidade adequada", justificou.
Vital também é contra a possibilidade de esses médicos trabalharem com supervisão, como em programas de estágios. "Não importa se o médico vem fazer estágio ou trabalhar com contrato, ele vai exercer a medicina e precisa ter seu diploma revalidado", afirmou. "Não somos contra o exercício no Brasil de médicos formados no exterior, apenas exigimos que eles sejam avaliados".
"É uma política feita próximo a um processo eleitoral (...) Não há outra explicação, até porque é (um preenchimento) temporário. Os médicos não ficam no interior", argumentou Vital.
O CFM defende a criação de carreiras de Estado para médicos, além de outras formas de melhor distribuir os profissionais pelo país.
Redes sociais
Estudantes se mobilizam
Estudantes de medicina de todo o Brasil estão usando as redes sociais para se manifestar contra a vinda de cerca de 6.000 médicos cubanos para trabalhar no interior do país. Pelo Facebook, um grupo de Minas Gerais intitulado "MG contra a revalidação automática de diplomas" já conta com o maior número de membros – são 6.803. Estudantes do Piauí também criaram o grupo "Manifestação contra a vinda de médicos estrangeiros" com o objetivo de pedir maior valorização do profissional de medicina. O grupo reúne 1.465 membros.
Flávio Henrique Bernardes, 18, estudante do segundo do período de medicina da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, contou que a maior parte da sua turma aderiu a algumas dessas manifestações. "Concordamos com a condenação feita também pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), uma vez que a solução para a saúde não está em trazer mais médicos, mas em melhorar as condições de trabalho no interior", disse. "Não estamos duvidando da capacidade dos médicos cubanos, mas a entrada de profissionais estrangeiros sem a revalidação do diploma compromete a qualidade do serviço".
O Diretório Acadêmico dos estudantes de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) informou que deve fazer uma reunião, na próxima semana, para discutir o tema. (Litza Mattos)

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