Era rico e nem sabia »
Parâmetros adotados pelo governo abaixam a renda. Classificação não reflete a realidade e institutos seguem outras fórmulas
Zulmira Furbino -Estado de Minas
Publicação: 11/05/2013 06:00 Atualização: 11/05/2013 07:14
Zulmira Furbino -Estado de Minas
Publicação: 11/05/2013 06:00 Atualização: 11/05/2013 07:14
Lojas de eletrodomésticos lucraram com a melhoria da renda nos últimos anos |
Fádua Pinheiro Barcelos é professora de
história e trabalha como gerente no condomínio de 800 apartamentos onde
mora. Sua jornada é de 10 horas por dia. Com isso, ela consegue
rendimentos de R$ 2,3 mil. Ecônomica, tem um pequeno apartamento quitado
no Bairro Tupi, na Região Norte de Belo Horizonte. E também um carro
1.0, ano 2012, que comprou em 48 vezes de R$ 486. Mesmo assim, pelos
critérios de classificação de classes sociais no país, Fádua é quase
rica. Mas a classificação, que reflete as estatísticas do governo e do
mercado, não condiz com a realidade cotidiana dos brasileiros.
“Não me considero rica. Me considero doida por trabalhar 10 horas por dia para ganhar tão pouco”, afirma Fádua Barcelos. A nova proposta da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), da Presidência da República, para a determinação das classes sociais no país põe a professora no seleto grupo que fica entre a baixa classe alta e a alta classe alta brasileira, formada por pessoas que ganham individualmente entre R$ 1.503 e R$ 4.687. Pelos critérios do Instituto Data Popular, especializado nos novos consumidores brasileiros, a professora também faz parte da classe alta, quando a renda individual é levada em conta.
O professor de Economia da Unicamp e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) Márcio Pochmann diz que a defasagem entre a estatística e a prática pode ser explicada pela forma como os dados são coletados nas pesquisas. De acordo com ele, de maneira geral os levantamentos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para retratar a renda no Brasil levam em conta apenas o rendimento vinculado ao trabalho de modo geral, o que representa somente 46% da renda nacional.
“Essas pesquisas não conseguem obter informações plenas relativas a ganhos financeiros, renda com aluguéis, títulos financeiros, renda empresarial. Esse tipo de informação não entra nas pesquisas. Existe uma subinformação sobre a renda no Brasil”, sustenta. De acordo com ele, as consultorias que atuam no setor privado usam o critério de renda familiar ou per capita e, com base na remuneração dos indivíduos, estabelecem o que denominam de classes sociais. “Identificar um determinado nível de renda ajuda as empresas a entender a qual tipo de mercado seus produtos atendem. Essas classificações mercadológicas são importantes para o setor privado”, observa.
Encaixe perfeito
O problema é que as referências acabaram sendo apropropriadas por instituições ligadas ao governo, como o próprio Ipea e a Fundação Getulio Vargas (FGV), que a partir de informações colhidas pelo IBGE fazem a sua própria classificação de classe econômica e social, definindo quanto ganham ricos, pobres e remediados no país.
Para definir melhor o perfil do consumidor, a Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (Abep) criou o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB), usado pelos institutos de pesquisa que são seus associados. Além da remuneração, esse critério está baseado num sistema de pontos que leva em conta a posse de itens ou contratação de serviços (TV, rádio, banheiro, automóvel, empregada mensalista, máquina de lavar etc.) e o grau de instrução do chefe da família. De acordo com o CCEB, uma família da classe A tem renda média bruta de R$ 9.263. Já uma família da classe B1 tem renda mensal de R$ 5.241, a da B2 ganha R$ 2.674, da C1 R$ 1.685, a C2 R$ 1.147 e da D/E, R$ 776.
A classificação atual já não é aceita por parte dos pesquisadores brasileiros, que instauraram um debate sobre o assunto no país. “As pesquisas baseadas na renda do brasileiro apontam para um nível de rendimento muito baixo. Antes havia trabalhadores que eram pobres e que agora, por várias razões, como a expansão do emprego e do salário mínimo, tiveram a renda melhorada. Houve um alargamento das classes sociais, mas esses trabalhadores não mudaram de classe social por isso”, defende Pochmann.
“Não me considero rica. Me considero doida por trabalhar 10 horas por dia para ganhar tão pouco”, afirma Fádua Barcelos. A nova proposta da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), da Presidência da República, para a determinação das classes sociais no país põe a professora no seleto grupo que fica entre a baixa classe alta e a alta classe alta brasileira, formada por pessoas que ganham individualmente entre R$ 1.503 e R$ 4.687. Pelos critérios do Instituto Data Popular, especializado nos novos consumidores brasileiros, a professora também faz parte da classe alta, quando a renda individual é levada em conta.
O professor de Economia da Unicamp e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) Márcio Pochmann diz que a defasagem entre a estatística e a prática pode ser explicada pela forma como os dados são coletados nas pesquisas. De acordo com ele, de maneira geral os levantamentos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para retratar a renda no Brasil levam em conta apenas o rendimento vinculado ao trabalho de modo geral, o que representa somente 46% da renda nacional.
“Essas pesquisas não conseguem obter informações plenas relativas a ganhos financeiros, renda com aluguéis, títulos financeiros, renda empresarial. Esse tipo de informação não entra nas pesquisas. Existe uma subinformação sobre a renda no Brasil”, sustenta. De acordo com ele, as consultorias que atuam no setor privado usam o critério de renda familiar ou per capita e, com base na remuneração dos indivíduos, estabelecem o que denominam de classes sociais. “Identificar um determinado nível de renda ajuda as empresas a entender a qual tipo de mercado seus produtos atendem. Essas classificações mercadológicas são importantes para o setor privado”, observa.
Encaixe perfeito
O problema é que as referências acabaram sendo apropropriadas por instituições ligadas ao governo, como o próprio Ipea e a Fundação Getulio Vargas (FGV), que a partir de informações colhidas pelo IBGE fazem a sua própria classificação de classe econômica e social, definindo quanto ganham ricos, pobres e remediados no país.
Para definir melhor o perfil do consumidor, a Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (Abep) criou o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB), usado pelos institutos de pesquisa que são seus associados. Além da remuneração, esse critério está baseado num sistema de pontos que leva em conta a posse de itens ou contratação de serviços (TV, rádio, banheiro, automóvel, empregada mensalista, máquina de lavar etc.) e o grau de instrução do chefe da família. De acordo com o CCEB, uma família da classe A tem renda média bruta de R$ 9.263. Já uma família da classe B1 tem renda mensal de R$ 5.241, a da B2 ganha R$ 2.674, da C1 R$ 1.685, a C2 R$ 1.147 e da D/E, R$ 776.
A classificação atual já não é aceita por parte dos pesquisadores brasileiros, que instauraram um debate sobre o assunto no país. “As pesquisas baseadas na renda do brasileiro apontam para um nível de rendimento muito baixo. Antes havia trabalhadores que eram pobres e que agora, por várias razões, como a expansão do emprego e do salário mínimo, tiveram a renda melhorada. Houve um alargamento das classes sociais, mas esses trabalhadores não mudaram de classe social por isso”, defende Pochmann.
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