sábado, 15 de junho de 2013

Analistas acreditam que as manifestações só vão diminuir com abertura do diálogo

Mais jogo de cintura

Alice Maciel
Felipe Canêdo - Estado de Minas
Publicação: 15/06/2013 06:00 Atualização: 15/06/2013 07:20

Poucas bandeiras de partidos foram vistas no protesto no Rio de Janeiro (BRUNO JENZ/ELEVEN/Estadão Conteúdo)
Poucas bandeiras de partidos foram vistas no protesto no Rio de Janeiro
O futuro das manifestações contra o aumento das tarifas de ônibus está nas mãos dos governos. Especialistas avaliam que a repressão usada para conter o movimento, como a reação violenta da polícia, pode incitar ainda mais os protestos. O diálogo e o jogo de cintura para atender as reivindicações são as chaves para frear a onda que se espalhou pelo país e também evitar reflexos negativos nas eleições de 2014. Para além da questão do aumento das passagens, eles acreditam que a insatisfação com a qualidade dos serviços públicos é o motivo de os brasileiros estarem saindo às ruas.
“Se os governos se mantiverem insensíveis às manifestações, essa questão pode ser alongada e se tornar mais tensa. Dependendo do que ocorrer nas próximas semanas, pode haver algum efeito político-eleitoral daqui a um ano”, ressaltou o cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Manuel Sanches. Ele avalia que a violência e a repressão geram uma revolta maior que a já existente, fazendo com que o movimento deixe de ser contra o aumento de preços nas passagens e passe a ser contra o autoritarismo do governo.
O professor acredita que a participação de partidos políticos nas mobilizações é mínima e afirma que as manifestações são espontâneas, formadas pela sociedade, “martirizada pela precariedade dos transportes públicos”. Jovens e trabalhadores são os principais atores dessas mobilizações, aponta Sanches. Já o analista político Gaudêncio Torquato credita o crescimento das manifestações à atuação de partidos políticos como PSOL, PSTU, PCO e até à juventude do PT, mas pontua que “os jovens gritam refrãos contra a velha política e identificam os governantes de forma pejorativa”. Ele se disse surpreso pelo crescimento da violência e diz que quem “pôs fogo” na quinta-feira na passeata foi a polícia.
Torquato avalia que os protestos tendem a crescer se a economia se deteriorar. “Estamos vivendo uma grande crise que é a falência dos serviços públicos. Há um produto nacional bruto que é a infelicidade, que me parece estar aumentando agora. Os governantes estão fazendo uma leitura muito pequena dessa situação. Faço uma ligação com o Occupy Wall Street, com a Primavera Árabe. E acho que esses movimentos estão se avolumando também por conta das redes sociais que dão grande agilidade a eles”, lembra. Torquato argumenta que o país vive um momento excepcional do ponto de vista de movimentos e entidades políticas: “Nunca o Brasil esteve tão organizado do ponto de vista da sociedade”.
De perto
O professor de gestão de políticas públicas da Universidade de São Paulo (USP), Pablo Ortellado, que acompanha o movimento de perto e estava na manifestação de quinta-feira, acredita ser cedo para fazer previsões. “A manifestação gerou uma comoção muito grande na sociedade paulista. Em todo lugar agora a gente vê as pessoas comentando: na rua, no metrô, na universidade. É bem possível que isso vire uma grande comoção. Depois do que aconteceu, pode ser que isso se torne uma mobilização nacional”, afirma. Para ele, a ação “truculenta” e de “abuso generalizado” da Polícia Militar acabou legitimando o protesto.
“Foi uma manifestação incrivelmente pacífica, o tempo todo as pessoas estavam gritando ‘não violência’. E a polícia foi extremamente violenta, de uma maneira que me deixou chocado. Os números de feridos divulgados na imprensa não dão conta do que eu vi. Tenho certeza de que há centenas de pessoas feridas”, diz ele.
Jornalistas
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgou nota nessa sexta-feira lamentando que 17 repórteres tenham se ferido na cobertura, um deles pode ficar cego.A Fenaj classificou como inadmissível o que chamou de “tentativa de criminalização do direito constitucional de livre manifestação” e afirmou que a atuação da PM de “agressão indiscriminada” de cidadãos é incompatível com o Estado democrático de direito.

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