segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Apesar da beleza, delegada Karen Lopes mete medo nos corruptos das prefeituras mineiras

A loira de 26 anos já conseguiu indiciar onze pessoas frente de um núcleo de combate à corrupção no interior do Estado

por Glória Tupinambás | 01 de Janeiro de 2014
http://vejabh.abril.com.br/edicoes/apesar-beleza-delegada-karen-lopes-mete-medo-corruptos-prefeituras-mineiras-764197.shtml
Fotos Gustavo Andrade/Odin

De sandálias rasteirinhas, Karen de Paula Lopes conquistou seu primeiro emprego, há três anos, como vendedora de chope nas areias da Praia da Pipa, no Rio Grande do Norte. Com botas pesadas no pé, ela hoje escala paredões de rocha, pilota uma moto Kawasaki Ninja 250 cilindradas pelas estradas, disputa provas de motocross, faz trilhas num Mitsubishi Pajero TR4 e agarra o kitesurf — mistura de prancha com paraquedas — para curtir as ondas do mar. E é em cima de um poderoso salto alto de 14 centímetros que demonstra sua coragem e pulso firme como delegada. Formada em direito em 2009, a belo-horizontina, de 26 anos, foi aprovada em um concurso da Academia de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais (Acadepol), em outubro de 2012, e há cinco meses está à frente do Núcleo de Combate aos Crimes Praticados por Agentes Políticos Municipais da Polícia Civil. Sob sua mira ficam prefeitos, vereadores e funcionários públicos envolvidos em casos de corrupção no interior de Minas. A loira de cabelos longos e rosto delicado foi responsável pela abertura de 29 inquéritos que resultaram no indiciamento de onze pessoas por suspeita de desvio e mau uso do dinheiro público.
Karen tem uma atribulada rotina, que envolve diligências ao interior, interrogatórios, quebras de sigilos bancário e telefônico, além da análise de documentos. Cercada por sua enxuta equipe de agentes da Polícia Civil, ela atua em parceria com o Ministério Público de Minas Gerais e a Procuradoria Geral de Justiça para apurar denúncias de fraude nas prefeituras mineiras. O trabalho do núcleo já fez chegar aos tribunais casos de suspeita de corrupção das cidades de Viçosa, na Zona da Mata, e Alvinópolis e Biquinhas, na região central. “As investigações no interior ficaram mais ágeis, e temos conseguido fazer uma análise mais abrangente da criminalidade no Estado”, diz Karen. Segundo ela, já foi constatada, por exemplo, a existência de organizações criminosas que atuam com a conivência de diversas prefeituras. “Há um grupo de empresas especializadas em fraudar licitações, que sobrevive exclusivamente do mau uso do dinheiro público.”
Entre uma investigação e outra, Karen ainda atua em operações especiais da Polícia Civil e, quando convocada, vai às ruas coordenar a prisão de homicidas, traficantes, ladrões e outros criminosos. Sempre com uma arma a tiracolo — a pesada pistola calibre 40 da corporação ou o modelo compacto calibre 380 de uso pessoal —, Karen tem cara de brava. “Sempre fui respeitada no meu trabalho, mas já cansei de ouvir, no fim de uma ação, que sou muito novinha”, conta a delegada, que não abre mão de sua feminilidade por causa do ofício. Jamais sai de casa sem caprichar na maquiagem e conferir a combinação de brincos, colares e acessórios do figurino. O salto altíssimo é companheiro fiel no dia a dia da policial, de 1,54 (e meio, como faz questão de frisar) metro de altura.
Para escapar do rótulo de patricinha, ela costuma listar suas paixões radicais. Durante a semana, depois do expediente na delegacia no bairro Santo Agostinho, ela se divide entre pedaladas noturnas, corridas de rua e treinamento de escaladas. Nas folgas, refugia-se no mato ou no litoral. “Meu lugar é longe da selva de pedras”, diz Karen, que adora fazer trilhas, cavalgadas, rapel em cachoeiras e paredões, surfe e passeios de mochilão pela América do Sul. “Não gosto de ostentação e costumo viajar pegando carona em rotas de aventureiros”, conta. “Fiz isso de Santiago, no Chile, até a Terra do Fogo, em Ushuaia, na Argentina.”
A adrenalina é o que a move no esporte e também na profissão. Filha de uma juíza, Karen diz que escolheu seguir carreira na polícia porque buscava a falta de rotina. “Correr atrás de provas me instiga muito, e gosto de saber que sempre haverá um desafio pela frente”, explica. O grande sonho de sua vida é conhecer o mundo inteiro só com uma mochila nas costas. Casar e ter filhos é coisa que, pelo menos por enquanto, não está nos seus planos. “Não tenho na­­morado e ainda não penso em formar fa­­mília, pois não disponho de tempo para isso.” Ela prefere a companhia da “Ninjinha”, co­­­­­mo se refere à sua Kawasaki.

Na mira da loira

Desde julho, 29 inquéritos foram abertos por ela. Confira alguns casos

Em Viçosa, na Zona da Mata, a 246 quilômetros de BH, fraudes na licitação para o projeto de uma usina de resíduos sólidos levaram ao indiciamento do prefeito e de outros cinco servidores.

A 163 quilômetros de BH, em Alvinópolis, quatro políticos foram indiciados, entre eles o prefeito, por transplante de peças de carros oficiais em veículos particulares e desvio de recursos.

O uso de tratores da prefeitura de Biquinhas, a 276 quilômetros da capital, em terrenos particulares de outros municípios culminou com o indiciamento de um secretário municipal por prevaricação.
Provas de fogo

As aventuras preferidas da policial em seus momentos de folga

› Rapel nas cachoeiras da Serra do Cipó e nas matas de Itabirito.
› Kitesurf em Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro.
› Trilhas rurais e disputas de rali a bordo de um jipe 4 x 4.
› Passeios em alta velocidade nas estradas com sua Kawasaki Ninja.
› Escalada de paredões de rocha na Grande BH.
› Corridas de rua e pedaladas noturnas para aliviar o stress depois do expediente, nos dias de semana.
› Provas de motocross, ao lado do pai, numa moto Suzuki Srad de 750 cilindradas.

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