quinta-feira, 31 de julho de 2014

O jingle (im)possível

Vittorio Medioli


Jornal O Tempo
A tropa petista queixou-se “injustamente” de Fernando Pimentel por um motivo que à primeira vista e para o público em geral pode parecer um caso de traição à presidente candidata, Dilma Rousseff. Não tem nada disso. Mesmo partido, ambos nascidos em Belo Horizonte, “companheiros” de armas e credo ideológico. A falta de menção a Dilma nas primeiras e mais importantes peças de campanha espalha desconforto apenas para quem entende a letra morta, e não o grito do “silêncio”.
Dilma certamente não é, como Lula foi, “puxador de votos”. Pior, seu índice de rejeição é um “afastador de votos”. Ainda mais em Minas, que tem Aécio, como dizem os petistas, de “imperador” ao longo de 12 anos. 
Ao contrário, Pimenta da Veiga entra no vácuo da facilidade, dos mais de 50% de intenções de votos que recolhe do presidenciável Aécio Neves. Entre um e outro, ao veterano Tarcísio Delgado cabe o papel de correr por fora, e apenas começou a correr. 
“Falou Zaratustra”, que continua atual depois de milhares de anos, que “o interesse dita o comportamento”. Jogar-se de uma janela de um prédio tomado pelas chamas pode ser melhor que ficar dentro dele. Há sempre algo pior do que se pode fugir. Isso é “relativismo”, ou simplesmente “menos mal” do que se sonha abraçando um travesseiro.
A disputa pelo Palácio Tiradentes em Minas, depois de ter contrabandeado a candidatura de Vanessa Portugal, que recolhia já 7% das intenções de votos para governador – não pela popularidade, mas por ser a “terceira via” mais detectável no questionário das pesquisas eleitorais –, se afirma num nítido e desgastado bipolarismo, PT versus PSDB. Segundo turno? Depende de Tarcísio Delgado situar-se com credibilidade. Isso cabe a ele demonstrar.
Quem pesquisou o perfil do “governador ideal”, uma espécie de retrato falado do sonho do eleitor mineiro, encontrou, atrás dos 38% de brancos e nulos e dos 7% que “não sabem de nada”, que existe um majoritário desejo de renovação falando de modernidade, superação do Estado que muito cobra e nada dá em troco, da varrição da corrupção e burocracia – principais pés de cabra para arrombar o erário e continuar a esfolar o cidadão sem saúde, educação e segurança. O “retrato falado” teria votos para ganhar de qualquer um.
Desfeita a possibilidade de o eleitor “sonhar” com uma alternativa inovadora, resta escolher um ou outro.
Deveria ser Pimentel um kamikaze a se “casar” com quem mais tira do que atrai votos? Dilma tem que se viabilizar, ultrapassar este momento pelas ações pessoais, pois no refluxo que enfrenta pode levar consigo Pimentel. Pois hoje parece que enfrentar o “imperador” é entendido como enfrentar Minas.
A campanha caminha a favor de Aécio em Minas, sob o argumento de que Minas (inteira) voltaria ao topo do Planalto. Votar contra Aécio parece escolha impatriótica para o mineiro? Parece que sim.
A mineira Dilma ajudou esquecendo Minas como seu berço natal.
A reforma do Anel Rodoviário, o metrô, duplicações de rodovias, ações que generosamente foram distribuídas pelo Brasil, ficaram sobrevoando o Estado. Fábricas de automóveis e polos químicos, que Lula tirou de Minas como último ato do governo dele, ficaram sem reparação. O “imperador” Aécio teve ajudas indiretas ao se firmar como defensor de Minas e Dilma como ingrata. O que tem a ver
Pimentel com isso?
Pimenta da Veiga, costurado no amigo Aécio por 30 anos de compadrio, avança no vácuo dos 50% das preferências do imperador. 
Para Pimentel resta o “Aeciel”, Aécio e Pimentel. Tem que sorver esse cálice. Só o segundo turno o afastará da disputa presidencial PT e PSDB, Dilma e Aécio. Se esta acontecer. Dilma sabe, concorda e vê tudo como natural.
Se houvesse segundo turno também em Minas para governador, Pimentel estaria seguramente neutralizado, subjugado ao Aeciel. Mas o segundo turno para governador está longe de acontecer. A separação é para se encontrar lá na frente com mais força.
Para o PT “que conta”, isso foi estudado, certamente não pode ser explicado, mas poderá dar uma diferença de 2 milhões de votos no segundo turno para Dilma aqui, em Minas, se Pimentel ganhar no primeiro. Diferença fundamental. Pimentel está livre, assim, de fazer o melhor para ele, que representa o melhor também para Dilma depois de outubro. A jogada está dada no xadrez de Minas.
Esse é o caminho do (im)possível, a escolha eleitoral de um jingle sem Dilma.

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