27/08/2014 07:36 - Atualizado em 27/08/2014 07:36
Luiz Costa/ Hoje em Dia
Para muita gente, não há limites para uso do aparelho, inclusive ao volante
Para muita gente, eles são quase uma extensão do corpo e passar um dia
sem usar é como sofrer uma amputação. O “vício” em smartphones tem
levado as pessoas a ignorar leis de trânsito, a desrespeitar o
regulamento das companhias aéreas e até a buscar ajuda psicológica.
No primeiro semestre deste ano, o uso do celular ao volante saltou do
terceiro para o segundo lugar no ranking de infrações de trânsito mais
cometidas pelos belo-horizontinos, ficando atrás apenas do excesso de
velocidade, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Nem mesmo os R$ 85,13 descontados do bolso e os quatro pontos
adicionados à carteira de habilitação dos infratores parecem surtir
efeito. Em dois dias, a reportagem do Hoje em Dia flagrou vários exemplos de descumprimento da legislação nas ruas da capital.
E a história se repete no restante do país. De acordo com o Ministério
das Cidades, utilizar o celular no trânsito é uma das principais causas
de distração no Brasil, aumentando em até 400% o risco de acidentes como
atropelamentos e colisões.
A imprudência é considerada equivalente à ingestão de bebida alcoólica
antes de dirigir e levou a pasta a criar um aplicativo que impede o
motorista de atender chamadas enquanto está ao volante.
Impactos reais
A falta de limites e o descontrole dos usuários mais viciados também
chegaram às alturas. Nos aviões, o uso de dispositivos eletrônicos é
proibido durante a decolagem e o pouso, mas é comum encontrar pelo menos
um passageiro teimoso, incapaz de permanecer offline por algumas horas
ou minutos.
O descumprimento da determinação tem obrigado comissários a adotar uma
postura mais rígida. A Associação Brasileira das Empresas Aéreas
(Abear), representante das companhias, afirma que ainda não foi
necessário alterar o procedimento padrão, mas ressalta a importância do
cumprimento dele, considerado uma medida de segurança, pois existe a
possibilidade de a frequência dos aparelhos gerar interferências nos
sistemas de comunicação das aeronaves.
Ansiedade
Segundo o psicanalista Jacques Akerman, a dependência que as pessoas
vêm desenvolvendo pelos aparelhos telefônicos já é considerada uma
patologia e, em alguns casos, precisa ser tratada com medicamentos para
conter a ansiedade causada pela abstinência.
Esse fenômeno tem até nome científico: adicção aos eletrônicos. “Existe
uma universidade em Berlim que já possui uma linha de pesquisa sobre
vícios nos aparelhos. É uma situação que está tomando uma proporção
muito grande”, diz.
Para Akerman, vários fatores podem justificar esse movimento, mas os
principais são a solidão e o narcisismo contemporâneos. “A tela do
celular é tomada com uma espécie de espelho.
Nele, basta apertar uma tecla para desviarmos daquilo que nos incomoda.
Na vida real, é um pouco mais difícil fazer isso”, afirma o
psicanalista.
Na mesma frequência do avião
Há quem defenda o contrário, mas, dentro dos aviões, é necessário, sim,
manter celulares e demais dispositivos eletrônicos desligados. O
coordenador do curso de ciências aeronáuticas da Universidade Fumec,
Deusdedit Reis, explica que os aparelhos que transmitem e recebem dados
podem causar interferência no sistema de navegação ou de comando das
aeronaves.
Os comandos para subir, descer e acelerar o motor dos aviões são feitos
por pulsos eletrônicos. “A faixa de frequência dos celulares pode
interferir neles, o que seria catastrófico”, alerta o professor.
Saiba mais sobre o aplicativo Mãos no Volante:
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