sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Quem planta inflação colhe... Juro!

Depois de acusar Aécio e Marina de defenderem os interesses dos banqueiros e de querer tirar comida do prato do povo, Dilma mostra que o palanque nada tem a ver com a realidade

JOSÉ FUCS
30/10/2014 19h14 - Atualizado em 30/10/2014 22h38
Cifrão (Foto: Thinkstock/Getty Images)
A elevação dos juros pelo Banco Central apenas três dias depois da vitória do PT nas eleições é sinistra, muito sinistra. Os mais exaltados ficaram “estarrecidos“, para usar a palavra preferida pela presidente Dilma Rousseff na campanha. Falam até em estelionato eleitoral, o que, convenhamos, é um exagero.  Ainda assim, se considerarmos que Dilma fez dos juros altos uma de suas principais armas contra Aécio e também contra Marina, esse salto súbito dos juros, para 11,25% ao ano, mostra a tremenda distância que existe no Brasil entre os palanques e a realidade. Afinal, não era a oposição, segundo Dilma, que iria aumentar os juros, se ganhasse a eleição?
No primeiro turno, Dilma exorcizou Marina quando ela propôs a autonomia do Banco Central. Ela se aproveitou do fato de que Marina tinha como uma de suas principais assessoras a educadora Neca Setubal, acionista do banco Itaú, e bateu forte na candidata do PSB/Rede. Disse que, se Marina ganhasse, iria tirar a comida do prato do povo e que ela defendia os interesses dos banqueiros.  Evidentemente, era uma mentira, até porque Neca jamais exerceu qualquer função executiva no banco, mas Dilma não parecia muito preocupada com isso e sim em “desconstruir” Marina, que havia saltado na frente nas pesquisas eleitorais.
Depois, Dilma seguiu a mesma estratégia com Aécio. Desta vez, usou como vilão o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, indicado antecipadamente por Aécio para o Ministério da Fazenda, caso ele vencesse a eleição. Como fez com Marina, Dilma afirmou que Armínio era o candidato dos banqueiros, que tinha sido responsável pela puxada dos juros no governo FHC e iria promover uma recessão para controlar a inflação. No debate da Record, no dia 19, Dilma foi mais longe, ao comentar a questão: “Vocês sempre plantaram inflação para colher juros”.
Agora, mal apurados os votos, ficou claro quem plantou inflação para colher juros. Em sua página no Facebook, a economista Monica de Bolle resgatou, ironicamente, as palavras de Dilma no debate. Depois de dar de ombros para a inflação, temendo que a alta dos juros afetasse o crescimento, anabolizado por estímulos de todos os tipos no último ano do governo Lula, Dilma teve de aprender pelo caminho mais duro aquilo que quase todo mundo do ramo já sabia:  com a inflação, não se brinca. 
Se Dilma tivesse deixado de lado a ideologia e subido os juros logo nos primeiros sinais de ebulição da inflação, talvez não precisasse elevar tanto os juros depois, como acabou acontecendo. Mas, com o PT, muitas vezes é assim. Em vez de fazer logo o que recomendam os técnicos mais respeitados do mercado, o PT primeiro tem que arrebentar a cara tentando mostrar que está certo e é dono da verdade. Só depois, quando as evidências revelam que as bruxarias heterodoxas do partido não funcionaram, é que eles voltam atrás e fazem aquilo que deveriam ter feito desde o início – sem jamais reconhecer os próprios erros, é claro. 
O problema é que a fatura tem de ser paga por todos os brasileiros – e não só aqueles que deram um voto de confiança para Dilma e o PT nas urnas, apesar de todas as falhas de gestão e evidências de corrupção ocorridas no atual governo. 
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