01/09/2015
Por: Malco Camargos*
Um dos principais desafios das Ciências Sociais é o desenvolvimento de
teorias para explicar o comportamento das pessoas quando vivem em
sociedade.
Do início das Ciências Sociais, no sec. XVIII, até hoje, milhares de
teorias foram desenvolvidas com esse fim. De lá para cá, com todo este
arcabouço teórico, temos uma única lei – chamada “Lei de ferro das
Oligarquias”.
Segundo ela, todos os governos que existiram, existem ou estão por
existir serão sempre de poucos e os interesses dos representantes não
serão os mesmos dos representados.
No Brasil, o deslocamento da imagem do Partido dos Trabalhadores (PT),
desde a sua fundação até hoje, exemplifica bem o funcionamento dessa
lei. Fundado em 1980, sua constituição se dá via lideranças sindicais,
intelectuais e membros da igreja. Com desempenho tímido nas primeiras
eleições de que participou, o partido só alcança a projeção nacional a
partir do bom desempenho de seu maior líder, o ex-presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições
presidenciais de 1989.
Com apoio eleitoral crescente em cada eleição disputada, o PT chegou ao
cargo máximo da República em 2002, com a eleição da próprio Lula a
Presidente. Já no exercício do primeiro mandato, com o partido às voltas
com escândalos como o do mensalão, começava a se evidenciar a distância
entre os interesses dos representantes e dos representados, como prega a
Lei de Ferro das Oligarquias. E, a cada novo mandato, parece que a Lei
faz valer mais a sua força.
De outro lado, depois de três mandatos consecutivos do Partido dos
Trabalhadores, as ruas começam a trazer novas lideranças antagônicas ao
projeto defendido pelo PT. Grupos como o Movimento Brasil Livre e o Vem
pra Rua, que organizam os protestos atualmente em várias cidades do
país, começam a se organizar para chegar ao poder através do voto,
lançando candidatos nas próximas eleições.
Não há dúvidas do sucesso dessas organizações na formação de uma
identidade anti-PT, mas ainda pouco se sabe sobre sua ideologia política
e sobre o modelo de gestão e políticas públicas que pretendem
implementar caso alcancem sucesso nas próximas eleições.
A visibilidade com os protestos pode ser um bom ponto de partida para
essas lideranças, mas, para fazer política, tem que ir muito além de
bradar palavras de ordem contra um partido, um governo ou mesmo contra a
corrupção, pois é sabido que não há quem defenda esse mal.
Agora, independentemente do que aconteça com o PT com o passar do
tempo, uma coisa é certa, como diz Michels, em sua Lei de Ferro das
Oligarquias: os interesses daqueles que hoje estão liderando as pessoas
nas ruas, caso tenham êxito e ocupem postos importantes de
representação, serão diferentes dos liderados que esperam maior
proximidade com seus representantes.
*Doutor em Ciência Política, professor da PUC Minas e diretor do Instituto Ver
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