quarta-feira, 30 de setembro de 2015

“Feijão bichado” que circula via WhatsApp é mais um alerta falso

Checados

“Coovenf” e “Uniups”, que aparecem na denúncia, não existem

DOUGLAS MAGNO
Não acredite. Mensagem fala de contaminação pelo Trypanosoma cruzi em pacotes de feijão
PUBLICADO EM 30/09/15 - 03h00
De tempos em tempos, alguma mensagem viraliza pelas redes virtuais do Brasil. A bola da vez é um “alerta” que está sendo veiculado pelo WhatsApp e que trata da contaminação de pacotes de feijão pelo Trypanosoma cruzi, parasita responsável pela doença de Chagas. Em giro também em 2009 e em 2013, a mensagem já foi desmentida.
Vários indícios levam a crer que a mensagem, de fato, é falsa. O texto cita que os grãos infectados estão sendo entregues pela cooperativa “Coovenf” e que um profissional da “Uniups” – que deveria ser uma universidade – já examinou várias sacas do produto, encontrando as irregularidades. No entanto, as apurações da reportagem não acusaram nenhuma cooperativa com este nome e nenhuma instituição de ensino superior chamada “Uniups”.
De acordo com o infectologista Adelino Melo, membro da equipe do Hospital Felício Rocho, essa contaminação pela doença de Chagas por meio dos feijões não tem respaldo científico.
“O protozoário resiste ao congelamento, mas é muito pouco provável que ele resista ao cozimento, à fervura”, afirma.
Há duas formas de ser infectado pela doença de Chagas: pela picada do barbeiro, que é mais comum em áreas onde as casas ainda são de pau a pique, ou ingerindo partes do inseto junto com algum alimento, que deve estar in natura ou congelado. Por isso, já há casos confirmados de contaminação por meio do caldo de cana e do açaí não pasteurizados.
“O problema é que, junto com o açaí e com a cana, vêm os barbeiros. No processo de trituração da cana para se fazer o caldo ou no do açaí para o creme, tritura-se o barbeiro junto, e ele leva o tripanossoma”, esclarece o médico.
A mensagem que está circulando pelo WhatsApp também orienta a deixar os feijões de molho em água com vinagre por cerca de 20 minutos para eliminar os riscos. Mais uma imprecisão do texto, já que não há, segundo Melo, provas científicas de que o vinagre mate o parasita.
Áudio. Também no WhatsApp circula outra mensagem, bem parecida com a primeira, mas essa é de áudio. Uma voz feminina denuncia que “bichos” no feijão estariam causando sintomas como mal-estar, diarreia e vômito, levando pessoas à morte. A mensagem vem até acompanhada por fotos de feijões estragados.
Como no caso do “alerta” sobre doença de Chagas, as afirmações também não se sustentam. Além de não haver informações específicas sobre o tal “bicho”, é muito improvável que algum inseto ou microrganismo resista à fervura do processo de cozimento do feijão.

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