ÉPOCA – O problema está nas fronteiras ou no desvio de armas no Rio?
José Mariano Beltrame – São as fronteiras. Não tenha dúvidas. Neste ano, nós não apreendemos pistolas ou fuzis desviados da Polícia Militar ou da Polícia Civil. A CPI das Armas, na Assembleia Legislativa, (que investiga desvio nos quartéis e delegacias), é válida e apoiamos, mas as coisas são publicadas aos pedaços. Por exemplo, a munição da companhia da PM do Palácio Guanabara, sede do governo do Estado, foi usada em treinamentos e não, desviada. Eu me lembro de que meses atrás sumiram 28 pistolas ou revólveres do Batalhão de Choque. As armas estavam na escola de tiro na formação de cadetes. Também foram encontradas. O nosso problema é que o controle não é eletrônico, mas feito por meio de anotações em papel que às vezes some.
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ÉPOCA – De onde vêm os fuzis?
Beltrame – Normalmente vêm do Paraguai. Agora, nós temos Kalashnikok que são novos. Não é mais o cabo de madeira, mas o de polímero. É uma versão nova. Não é daquela leva que entrou aqui após a guerra de Moçambique e Angola. Eu sei que a Venezuela fez uma grande compra de fuzis. Não sei se 20 mil ou 30 mil unidades. Informação da Inteligência me diz que esses fuzis são distribuídos de maneira aleatória para os amigos do governo venezuelano. Não sabemos se entram no Brasil pela Amazônia ou se chegam pelo Paraguai também. Nós estamos pegando aqui fuzis novos, Ak-47. E essa arma tem uma peculiaridade que ninguém leva em conta: ela precisa de uma munição própria, 762 por 39. Então, trazem o fuzil e sua munição.
ÉPOCA – Os terroristas que atacaram Paris usaram o Ak-47...
Beltrame – Pois é. Com três Ak-47 mataram 70 pessoas. Agora, nós pegamos um fuzil por dia aqui no Rio.
ÉPOCA – O atentado de Paris muda algo no esquema de segurança das Olimpíadas de 2016?
Beltrame – Não. Absolutamente. Até porque, é bom dizer isso, a questão de terrorismo no Brasil é tratada pela Polícia Federal, Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e Ministério da Defesa. Nós aqui no Rio somos de força de resposta. Trabalhamos apenas sob uma demanda. Recebemos algumas análises que a Abin faz e nos envia. Depois desse atentado, não mudou o parâmetro de demanda contra o terror no Rio.
ÉPOCA – A grande quantidade de fuzis nas mãos de bandidos não aumenta a preocupação com a segurança dos jogos?
Beltrame – Primeiro, a gente tem uma preocupação com armas, não (especificamente) com armas para (eventual ataques) nas Olimpíadas. Depois de ver as dificuldades que as instituições têm de controlar as nossas fronteiras, eu parti para algo mais efetivo que possa nos dar uma resposta rápida: a alteração do Estatuto do Desarmamento para penalizar de maneira mais forte quem estiver usando armas de uso restrito, como fuzis, metralhadoras e explosivos, sejam industrializados ou de fabricação caseira. No momento em que o Congresso Nacional aprovar, nós podemos aplicar a lei principalmente aqui no Rio de Janeiro, pois nós estamos apreendendo um fuzil e cinco pistolas por dia.
ÉPOCA – Até agora que resposta objetiva o senhor teve do governo federal sobre reforço de segurança nas fronteiras?
Beltrame – Objetivamente, alegam que fazem operações na fronteira envolvendo o Exército. Eu não posso ficar parado, então partir para mudar a legislação. No momento em que pegamos uma pessoa com fuzil e condenamos a oito anos em regime fechado, vão pensar duas vezes antes de ter uma arma de uso restrito.
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