sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Quem são e o que querem os grupos extremistas que propagam o terror

27/11/2015 05h00 - Atualizado em 27/11/2015 05h00

Ocidente tenta conter avanço de grupos como Boko Haram e Estado Islâmico.
Eles atuam em regiões do Oriente Médio, Ásia e África e têm ligações.

Do G1, em São Paulo
Após os atentados de Paris, no dia 13 de novembro, a França tenta formar uma coalizão internacional para conter o avanço do Estado Islâmico, um dos grupos extremistas que têm aumentado sua dominação em países do Oriente Médio, Ásia e África e ameaçam o Ocidente com ações violentas.
Grupos como Estado Islâmico, Al-Qaeda, Talibã e Boko Haram geralmente se consolidam em regiões de minorias excluídas, dentro de países que até hoje são ditaduras, monarquias absolutistas e com histórico de violação dos direitos humanos, afirma Jorge Mortean, professor de relações internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e mestre em estudos regionais de Oriente Médio pela Academia Diplomática Iraniana.
Eles são a origem de outras células terroristas e também formam alianças ou dão apoio institucional uns aos outros. Veja as relações entre eles:
Arte grupos extremistas (Foto: Arte G1)
Fundamentalismo religioso
Em comum, esses grupos têm o fundamentalismo religioso, baseado em uma interpretação radical da lei islâmica. “Porém eles para nada representam o Islã”, enfatiza Mortean. “O problema não é o Islã, são as forças políticas que usam o Islã para se manterem ditatoriais e que, majoritariamente, foram financiadas pelos países que hoje sofrem com esses grupos.”
Veja como surgiram esses grupos terroristas, como agem e seus objetivos:
AL-QAEDA
Estudo aponta que o ataque terrorista às Torres Gêmeas em setembro de 2001 teve a cobertura televisiva mais marcante dos últimos 50 anos. (Foto: Marty Lederhandler/AP (arquivo))Atentado às Torres Gêmeas em 2001 foi a maior ação da Al Qaeda (Foto: Marty Lederhandler/AP/arquivo)
Onde atua: principalmente Oriente Médio, África e Ásia
Origem: criado em 1988 por Osama bin Laden com homens que lutaram contra a União Soviética no Afeganistão.
Líder atual: Ayman Zawahiri, cirurgião egípcio que era o número dois da organização antes da morte de Osama bin Laden. É tido como o líder por trás da realização dos primeiros atentados suicidas da Al-Qaeda e das células independentes que se tornaram uma marca da rede terrorista.
Objetivo: Uma “fatwa”, espécie de decreto religioso, divulgada por Bin Laden em 1998 dizia querer unificar todos os muçulmanos para criar uma grande nação islâmica. Também afirmou ser dever de muçulmanos em todo o mundo declarar uma guerra santa aos Estados Unidos e todos os seus cidadãos, e a Israel. Planeja também destituir todos os governos “ocidentalizados” do Oriente Médio.
Relações: Suas células de destaque são a Frente al Nusra (Síria), AQPA (Península Arábica), AQMI (Magreb islâmico) e a do Iraque. Fez uma aliança com o Talibã, que permitiu que o território do Afeganistão fosse usado na preparação dos ataques de 11 de setembro de 2011. O Estado Islâmico teria surgido do braço do Al-Qaeda no Iraque.
Ataques: Desde 2002, a Al-Qaeda e seus grupos afiliados têm realizado ataques na Europa, EUA, Ásia, norte da África e Oriente Médio. Sua maior ação foram os ataques às Torres Gêmeas e ao Pentágono em 11 de setembro de 2001, nos estados Unidos. O braço da Al-Qaeda no Iêmen reivindicou o ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris, em janeiro deste ano.

ESTADO ISLÂMICO, ISIS OU DAESH
Estado Islâmico assumiu autoria dos ataques em Paris na última sexta-feira (Foto: BBC/Islamic State)Estado Islâmico assumiu autoria dos ataques em Paris (Foto: BBC/Islamic State)
Onde atua: principalmente Iraque e Síria, onde controla seus maiores territórios, mas também tem ramificações atuando em países como Líbia e Egito.
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estado islâmico mapa - V02 (Foto: Arte/G1)

Origem: o grupo radical sunita – um dos ramos do islamismo – teria surgido do Estado Islâmico do Iraque e Levante, o braço iraquiano da Al-Qaeda. Porém, há especialistas que afirmam não haver indícios suficientes que comprovem essa relação.
Líder atual: Abu Bakr al-Baghdadi, que se autoproclamou califa – representante de Deus na terra – nos territórios da Síria e do Iraque. Foi ele quem rompeu com a Al-Qaeda para ampliar a atuação do seu grupo no território sírio. Quer estender seu califado para Arábia Saudita, Iêmen, Argélia, Egito e Líbia.
Objetivo: com uma forte estratégia de propaganda, o EI arregimenta jihadistas de várias partes do mundo para, segundo o próprio grupo, restaurar a ordem de Deus na Terra e defender a comunidade muçulmana contra infiéis – xiitas e não muçulmanos. Pretende criar um estado regido pelo califa e baseado numa interpretação radical da sharia, a lei islâmica.
Relações: Boko Haram (Nigéria) e Província do Sinai (braço do EI no Egito).
Ataques:atentados em Paris de 13 de novembro, queda de avião russo no Egito e atentados suicidas em Beirute.
TALIBÃ
Ônibus do exército afegão sobre ataque do Talibã neste domingo (26). (Foto: Shah Marai/AFP)Ataque do Talibã a onibus do exército afegão em janeiro de 2014  (Foto: Shah Marai/AFP)
Onde atua:  Afeganistão e Paquistão
Origem: o grupo foi criado pelo mulá Mohammad Omar em 1994 em meio à guerra civil no Afeganistão entre as diferentes facções que tinham combatido os ocupantes soviéticos. O Talibã governou o país com mão de ferro entre 1996 e 2001. Mulá Omar morreu em 2013, mas sua morte só foi anunciada pelo governo afegão neste ano.
Líder atual:Akhtar Mansour, que era chefe militar do grupo até a morte do mulá Omar, de quem foi amigo íntimo e pessoa de confiança. Também ocupou o cargo de ministro da Aviação durante o governo talibã no Afeganistão. É considerado moderado e aberto a negociações de paz.
Objetivo: retomar o poder no Afeganistão.
Relações: deu refúgio à Al-Qaeda nos anos que antecederam aos ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. Isso custou a saída do grupo do poder no Afeganistão após a campanha liderada pelos EUA contra a Al-Qaeda. Também tem uma rede militar atuando no Paquistão, para derrubar o governo e estabelecer um califado islâmico no país.
Ataques: é responsável pela maioria dos ataques que ocorrem no Afeganistão, alguns com vítimas estrangeiras. Também tentou assassinar Malala Yousafzai, que ganhou o Nobel da Paz em 2014.

BOKO HARAM
O Boko Haram luta para derrubar o governo e criar um Estado islâmico na Nigéria (Foto: AFP)O grupo Boko Haram quer derrubar o governo e criar um governo islâmico na Nigéria (Foto: AFP)
Onde atua: Nigéria
Origem: nasceu de uma seita fundada por Mohammed Yusuf, que atraía jovens do norte do país. Existe em diferentes formações desde os anos 90 e foi declarado grupo terrorista pelo departamento de Estado norte-americano em novembro de 2013. Boko Haram significa “a educação ocidental é pecaminosa” em hausa, língua mais falada no norte da Nigéria. Também se autodenomina Grupo do Povo Sunita para a Convocação e a Jihad ou Talibã Nigeriano.
Líder atual:Abubakar Shekau, que teve sua morte anunciada pelo governo da Nigéria em setembro do ano passado, mas reapareceu em uma gravação de áudio divulgada em agosto deste ano e que especialistas consideraram autêntica. É considerado extremista e violento, o que tornou o grupo mais destrutivo.
Objetivo: destituir o atual governo nigeriano e criar outro baseado nas leis islâmicas. Para o Boko Haram, os valores ocidentais são a fonte de todos os males sofridos pelo país. São contra, por exemplo, que mulheres frequentem a escola.
Relações: Estado Islâmico, ao qual declarou lealdade em março deste ano,  e Al-Qaeda.
Ataques: realiza uma série de ataques a escolas, igrejas e símbolos do Estado. Entre eles se destacam o sequestro de 276 meninas de uma escola em Borno, o ataque à sede da ONU em Abuja, capital da Nigéria, em 2011, e o atentado a bomba à igreja de Santa Thereza, em Madalla, no mesmo ano.

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