sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Abaixo o impeachment, mas cadê o emprego?

Mário Doti
Márcio Doti
mdoti@hojeemdia.com.br
   


“Dilma fica, mas tem que mudar a política econômica”. A frase é do presidente da CUT, Vagner Freitas, depois da manifestação contra o impeachment na quarta-feira. E aí reside o grande drama. Como trazer de volta os empregos sem enxugar gastos e arrumar a economia? É por isto que os embates entre a presidente Dilma e seu ministro da Fazenda eram esperados. O propósito do ministro era de assegurar algum número positivo, ainda que muito pequeno, para tentar um equilíbrio da economia, mesmo que a longo prazo. Mas, já àquela época se enxergava a grande dificuldade: o ano político em cima de uma crise política e a necessidade de despejar dinheiro para assegurar apoios, vitórias nos palanques municipais e, para completar, um processo de impeachment. Só ao ministro Levy não ocorreu que o desespero político levaria até mesmo ao suicídio econômico. Não será a primeira vez, foi isso que aconteceu no ano passado, durante o processo eleitoral. Mentiras, manobras, gastos infindáveis, além daqueles recursos que a polícia está agora levantando as origens. Levy já entrava ali, naquele momento, antes mesmo da troca do superávit por um déficit de R$ 120 bilhões, numa trajetória idêntica à de inúmeros ministros de Fazenda que se sucederam durante as crises econômicas que antecederam ao real. Entravam fortes, ditando regras, acabavam fracos e vencidos. Eram uma espécie de treinador de futebol a quem se atribui vitórias, mas, sobretudo, que pagam por derrotas nem sempre por eles provocadas.
A TEIMOSIA INCONSEQUENTE
A luta pelo poder passa por cima de tudo, inclusive do bom senso. Contrariando o ministro, a presidente Dilma estabelece um superávit primário de meio por cento, podendo cair a zero se a situação assim exigir. Seria o caso de uma catástrofe ou de uma epidemia e, cá entre nós, seria o caso de mais crises políticas e mais apetite eleitoreiro de aliados. Neste caso, ainda que empurrando a economia para o abismo, vale até abrir mão desses R$30 bilhões. Sem aprender as lições, a luta inconsequente por eleitores é ilusória porque a cobrança acaba vindo. O que já se enxergava, contudo, é que um governo às voltas com crises moral, política e econômica não consegue pautar-se pelo que exigem as situações. E, sendo assim, ao atropelar causas e consequências, os rombos vão gerando inflação, que produz retração, que assusta o mercado, provoca desemprego, faz cair a arrecadação e afugenta investidores, o que é sempre mais grave.
Se com dinheiro o governo consegue alimentar o apetite por favores e apoiamentos, com economia fora de controle se afasta o capital externo e os investimentos internos, sendo certo que tudo isso produz efeito dominó, aumentando desemprego, subindo preços e com tudo isso ampliando a crise política. Já não é pouco perceber que a ação das instituições de estado, a Justiça, o Ministério Público e a Polícia têm se pautado pela busca da restauração com o combate sistemático dos atos ilícitos e nocivos ao patrimônio público. Não é possível perceber de que modo pretende o governo atravessar o temporal e atingir a calmaria, contrariando regras básicas da economia. Faltam coerência, lógica, bom senso e respeito.

Nenhum comentário: