Entrevista
'O inimigo número 1 do governo é a sua própria base', diz Anastasia
Anastasia em entrevista a O TEMPO
PUBLICADO EM 28/12/15 - 04h00
Apesar de o PSDB defender o impeachment da
presidente Dilma Rousseff, Antonio Anastasia promete ser “justo” ao
julgar a ação caso o processo chegue ao Senado. O tucano avalia como
“mesquinha” a tática do governo de Fernando Pimentel (PT) de atacar sua
gestão à frente do Estado.Leia a entrevista
Se
o poder da decisão sobre o impeachment couber ao Senado, como o senhor
avaliará o processo? Pelo conteúdo que já leu, é a favor do impedimento?
OT
O
meu partido, o PSDB, tomou até uma posição pública, e, naturalmente,
sei que tem sido partidária. Aparentemente, de acordo com a opinião do
Tribunal de Contas da União, tivemos a ocorrência do crime. Não posso
dar uma resposta precisa, primeiro, porque vou julgar mais adiante. E
segundo, porque, de fato, a matéria ainda não chegou para análise. Até
pela minha condição profissional, no momento oportuno, claro que vou me
deter com muito cuidado, até porque me considero uma pessoa justa. Vou
analisar os dados com muita parcimônia, e nem sempre nós seguimos
orientação do partido. Temos de aguardar, não vou antecipar nada, nem
que sim, nem que não. Há essa inclinação, esse sentimento. Agora, se
porventura a presidente da República superar a questão do impeachment, o
que será do país? Ou, por outro lado, se ela for afastada, o que será
do governo Temer? Então, é difícil. Nós estamos em uma situação
complexa.
AA
Concorda com o rito do impeachment aprovado pelo Supremo Tribunal Federal?
OT
Sim.
Só discordo – claro que não tenho que discordar do Supremo –, mas o que
achei um pouco estranho, diferenciado, é a questão da composição na
Câmara, aquela determinação da formação da chapa única, indicada pelos
líderes. Não sobre a questão do voto fechado ou aberto, porque, como se
trata de uma eleição, eu acho que eleição pressupõe escolha, e,
normalmente, o voto para as eleições é sempre secreto. Mas não sou
especialista em regimento da Câmara, nem do Senado. Então, vamos ver o
que a Câmara vai resolver. Só achei uma coisa um pouco diferente do
normal.
AA
O senhor já começou a receber a pressão como congressista, da sociedade ou do partido, para aprovar o afastamento da presidente?
OT
Da
sociedade, já estou recebendo pressão, e não é de hoje. Só que as
pessoas não distinguem bem o que é impeachment, o que é afastamento, o
que é tirar. Mas querem que resolva. Querem tirar, tirar, tirar, mudar,
mudar. Muitos se sentem enganados. Isso na rua, em qualquer lugar que
você vá, com qualquer classe social.
AA
E essa cobrança é em virtude da crise econômica?
OT
Para
as pessoas mais simples, a crise econômica atinge em primeiro lugar.
Fui outro dia a uma lavanderia, e a funcionária me disse que estava em
uma situação difícil, porque foi demitida, estava cumprindo o aviso
prévio. Disse que está insustentável e coloca, naturalmente, a culpa no
governo. Então, o ambiente está muito contaminado. Você anda em qualquer
lugar, motorista de táxi, atendente, as pessoas perguntam: “Vai tirar
ou não vai tirar, quando vocês vão tirar?”. As pessoas estão cobrando
muito a solução e uma reversão da política econômica.
AA
"O que algumas vezes me espanta, e é o que todo mundo vê, são alguns discursos um pouco desconexos (de Dilma)"
Governistas
acusam a oposição de estar inflando, aumentando o tamanho desta crise,
inclusive dificultando projetos que seriam de interesse do país. Como o
senhor analisa isso, principalmente quanto ao senador Aécio Neves, que
tem um discurso às vezes raivoso e inflama uma situação que já é ruim?
OT
Pelo
contrário. Estão reclamando, achando o Aécio muito ameno. “Vocês têm de
ser mais enfáticos, mais virulentos”. Eu digo: “Mais do que já somos?”.
Tudo na vida é equilíbrio. Somos oposição, mas uma oposição
responsável. Essa observação não procede, porque é o PSDB que tem
ajudado o governo. O inimigo número 1 do governo federal no Congresso é a
base, especialmente o PT. Quando chega um projeto econômico do governo,
os senadores do PT são os primeiros a subir à tribuna. Outro dia, o
líder do governo José Pimentel em uma votação avisou que a posição do
governo seria pelo “sim”. Ele votou “sim”, e os outros dez senadores
votaram “não”. Como o governo funciona? Quer dizer, não tem unidade.
Então, na verdade, o PSDB e outras siglas de oposição não têm nenhuma
culpa disso, até porque essa teoria que o PT criaram, quem levou a
situação a ter esse baque econômico foi a política suicida que eles
inventaram nessa matriz econômica e que já vem dando errado há muito
tempo. Então, chegou a esse ponto de impasse, eles próprios não sabem
resolver o problema e querem jogar a culpa na oposição. Quem tem de
resolver o problema é o governo, que tem maioria no Congresso. Nós ainda
somos muito, ao contrário de raivosos, serenos, aprovando várias
medidas. A DRU, por exemplo, nós vamos votar. A CPMF, não.
AA
"O que levou o país a esse baque econômico foi a política suicida que o PT criou e que vem dando errado há muito tempo."
O senhor, quando foi governador, tinha boa relação com a presidente? Como a vê hoje?
OT
Tivemos
um relacionamento de alto nível institucional entre um presidente da
República e um governador de Estado. Apesar disso, infelizmente, os
pleitos principais de Minas não foram atendidos. Mas, independentemente
disso, foi um relacionamento amistoso. Depois que deixei o governo, em
abril de 2014, quase dois anos atrás, nunca mais estive nem falei com a
presidente. Aí houve a campanha, fui para o Senado, sou senador da
oposição, nunca fui procurado. Então, não sei qual o grau que ela está
atualmente. O que algumas vezes me espanta, e é o que todo mundo vê, são
alguns discursos um pouco desconexos. E não sei o motivo.
AA
Como recebeu a notícia da condenação do ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB)?
OT
É
uma condenação em primeiro grau. Muitas pessoas fazem uma comparação
disso com as condenações do mensalão do PT, porque lá já saiu a
condenação em último grau. A decisão lá (no STF) era definitiva. Aqui,
haverá recursos, a condenação existe hoje e pode não haver amanhã, ou
pode ser outra. Então, teremos de aguardar. Mas não é um fato
determinado, não há uma decisão final. Ele, evidentemente, tem as suas
razões. Azeredo nos contou que – eu não conheço o processo – as
alegações da sua defesa não foram consideradas. É a alegação que ele
faz, e espera que sejam consideradas agora na segunda instância. Então,
temos de aguardar.
AA
"Somos oposição, mas uma oposição responsável. Essa observação não procede, porque é o PSDB que tem ajudado o governo."
O
senhor foi citado como suspeito de participação no esquema de corrupção
da Petrobras, revelado pela operação Lava Jato, em ação já arquivada. A
que atribui essa acusação?
OT
Não
há dúvidas de que houve uma armação para me atingir. Tentei investigar,
mas, a esta altura, como vou descobrir? Espero que algum dia isso se
esclareça, o objetivo de me inserir no meio de uma acusação de um
governador de Estado de oposição, que não tem nada a ver com a
Petrobras. Uma acusação cujo fato em si era tão fora da realidade, tão
fantasioso o descrito, não só em relação ao meu comportamento, que é
conhecido em Minas à exaustão, até em relação a qualquer outro. Você
imagina um governador de Estado ir a um lugar que não sabe onde era,
pegar dinheiro de uma pessoa que nunca viu na vida, quer dizer, é uma
coisa sem pé nem cabeça, mas houve evidentemente um propósito nisso. Foi
arquivado, e espero algum dia saber qual foi o objetivo em me
prejudicar. Era me enfraquecer politicamente? Tenho que esperar. Um dia,
espero que se descubra o motivo desse despropósito.
AA
"Sob o ponto de vista pessoal, a despeito do sofrimento, acho que sob certo aspecto até me fortaleceu"
Como foram os dias do senhor do momento da citação ao arquivamento?
OT
Foram
dias horríveis, obviamente. Imagina você ser acusado, toca o telefone
aqui, e falam: “Lembra-se daquele atentado contra o papa? Foi você o
responsável por isso”. É o mesmo caso, porque é um fato que não tem
nenhuma relação. Veja bem, fui governador de Minas, fui vice-governador,
fui secretário geral de ministérios. Sobre coisas relativas ao que eu
trabalhei, estou sujeito a responder. Agora, um assunto completamente
estranho e distinto do meu cotidiano foi uma surpresa absurda,
transformada em uma coisa negativa, mas que se reverteu. Sob o ponto de
vista pessoal, a despeito do sofrimento, acho que sob certo aspecto até
me fortaleceu, porque percebi que você, na política, tem que ficar com o
couro cada vez mais grosso, lamentavelmente. E isso nem é meu estilo.
AA
"Não sou candidato porque acebei de me eleger senador e não vou ficar me candidatando a todas as funções que apareçam"
O
governador Fernando Pimentel disse que ficou assustado com a situação
em que encontrou a administração estadual. Ele disse que vendia-se uma
organização, e achou-se uma grande bagunça. Como o senhor analisa essas
declarações e esse primeiro ano do atual governador de Minas Gerais?
OT
É
natural que o partido que ganha uma eleição em oposição ao outro queira
identificar defeitos. Acho equivocado a pessoa administrar olhando para
trás. Em abril, o Banco Central publicou o boletim quadrimestral em que
o maior superávit entre os Estados foi o de Minas em 2014. Em matéria
de organização, Minas é exemplo no Brasil inteiro. Podem ter,
eventualmente, achado alguma coisa em uma área ou outra que funcionasse
pior. Não vou discutir uma coisa tão pequena e tão mesquinha. Agora, a
situação econômica do Estado piorou em razão da queda de receita. Em
2013, quando a crise se agravou, cortei secretarias, demiti gente, fiz
enxugamento. A crise piorou, a receita caiu, e o governo gastando com
propaganda. Houve até um fato raríssimo: uma sentença judicial proibindo
a propaganda. O governo atual não poderia gastar dinheiro falando mal
do governo anterior. Então, é um quadro que acontece, mas faz parte da
política.
AA
Então, avalia que o PSDB perdeu as eleições em Minas por quê?
OT
São
vários fatores. Um dia, vou escrever um livro sobre a eleição de 2014.
Na verdade, aconteceram muitas coisas que não cabe levantar agora.
Eleição é democracia, é alternância de poder, eu não reclamo.
AA
"Em matéria de organização, Minas é exemplo no Brasil. Não vou discutir uma coisa tão pequena e tão mesquinha."
Acha que o desgaste com os professores pode ter influenciado?
OT
Não,
porque uma coisa é professor, outra coisa é sindicato. O sindicato
tinha uma bandeira no meu governo, e nós fizemos a unificação da
remuneração, o subsídio. A remuneração continua globalizada, e não vejo o
sindicato reclamar. Então, é uma questão também de posicionamento
político. E, se houvesse esse desgaste em relação a professores, o
derrotado seria eu.
AA
Sobre as eleições de 2016, quem será o nome do PSDB?
OT
Essa
pergunta não sei responder. Não será comigo, porque não sou candidato.
Teremos um candidato forte em BH, objeto de convergência entre o
prefeito Marcio Lacerda (PSB) e o nosso grupo, liderado pelo Aécio. Não
sou candidato em nenhuma hipótese, porque acabei de me eleger senador e
não vou ficar me candidatando a todas as funções que apareçam.
AA
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