quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Cunha emitia sinais no início desta madrugada de que pode acatar denúncia contra Dilma

Recado que Planalto recebeu foi outro: ele quer os três votos do PT a seu favor; nesse caso, Dilma não terminaria o ano com a cabeça a prêmio

Por: Reinaldo Azevedo
O deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, resolveu aterrorizar o PT até a última hora. No fim da noite desta terça e início da madrugada desta quarta, emitia sinais de que pode, sim, acatar a denúncia contra a presidente Dilma Rousseff, o que teria tudo para ser o marco inicial de um futuro impeachment. Se isso acontecer, Dilma encerra este 2015 com a cabeça a prêmio.
Que Cunha tenha mandado um recado ao Planalto, isso mandou. Que tenha deixado claro que há uma negociação em curso, não se duvide. Dos 21 votos do Conselho de Ética, ele espera contar com 12 ou 13 — e isso significa que, na sua contabilidade, estão os três votos dos petistas: Leo de Brito (AC), Zé Geraldo (PA) e Valmir Prascidelli (SP). O Planalto foi a campo para deixar claro que espera contar com a ajuda dos companheiros. É o preço para Cunha não admitir a denúncia contra Dilma. O deputado evidenciou que quer os três, nem um nem dois.
O petista Zé Geraldo já fazia ontem à noite o discurso do mártir do pragmatismo. Aventava a hipótese de ajudar a salvar Cunha em nome dos interesses da nação. Rui Falcão, presidente do PT, hipocritamente, foi ao Twitter para pedir o voto contra o presidente da Câmara. Pelo menos 36 deputados federais haviam assinado um manifesto contra o peemedebista. É jogo de cena. Todos querem salvar o mandato de Dilma. E, nesta quarta, uma das apostas para isso é votar em favor de Cunha. Ah, não se espantem: o PT já fez coisa muito pior.
A sessão do conselho foi encerrada nesta terça quando o placar estava sete a 1 contra Cunha, mas tudo quase conforme o esperado por ele próprio. Seis deles — Fausto Pinato (PRB-SP), Betinho Gomes (PSDB-PE), Nelson Marchezan Jr. (PSDB-RS), Eliziane Gama (Rede-MA), que substitui o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), Sandro Alex (PPS-PR) e Marcos Rogério (PDT-RO) — já estavam mesmo na lista dos oito que haviam deixado claro que se oporiam a Cunha. Paulo Azi (DEM-BA), o sétimo, no entanto, estava entre os três indefinidos. Cunha pode ser compensado dessa surpresa ruim para ele pela eventual mudança de posição do petista Prascidelli. O homem estava decidido a votar pela continuidade do processo, mas o Planalto pode tê-lo feito mudar de ideia.
Até os números desastrosos da economia — com encolhimento de 1,7% no terceiro trimestre em relação ao segundo e 4,5% no acumulado de 12 meses — está na equação.
O próprio Planalto acredita que o país caminha para, como direi?, algumas convulsões sociais episódicas já nos primeiros meses do ano que vem. O consenso é que não se chegou ainda ao pior. A recessão de 2016, que se imaginava leve, já se anuncia também como brutal. Muito bem! Nesse contexto, tudo o que não se quer é que haja uma denúncia contra a presidente na Câmara, num Congresso sabidamente rebelde, que derruba vetos presidenciais como uma facilidade inédita.
O PT está num mato, cercado de cachorros, seus irmãos, seus semelhantes. Cunha só pode ser salvo no Conselho de Ética com a ajuda do PT. Assim se tem a possibilidade, mas não a certeza, de que ele recuse ou engavete, por um tempo, a denúncia contra Dilma. Trata-se de uma desmoralização gigantesca. Se, no entanto, os membros do partido votarem contra Cunha, como Rui Falcão e parte da bancada petista fingem querer, aí há poucas dúvidas sobre o que fará Eduardo Cunha. E há praticamente a certeza de que, nesse caso, Dilma é impichada.
E ela o será, nessa hipótese, por um monte de fatores. Mas a recessão deste ano e a do ano que vem e os feitos devastadores no mercado de trabalho votarão em lugar dos deputados e senadores.

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