sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Eis a questão: impeachment ou governabilidade de volta


Orion Teixeira
Orion Teixeira
orionteixeira@hojeemdia.com.br


04/12/2015

De tudo o que foi dito, comparada ao “pior dos mundos”, a decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), será a oportunidade para que a presidente Dilma Rousseff recupere a condição de governante com governabilidade. Com a nova crise, Brasília e a política nacional terão que deixar o campo da mentira, barganhas e das ameaças. Agora, a polarização será entre os que apoiam Dilma e os aliados de Eduardo Cunha.

O governo levou quase seis meses completos para romper definitivamente com o peemedebista, que havia declarado o confronto em julho passado, quando espalhou pautas-bomba por todo o Congresso Nacional. De lá pra cá, o governo vem pisando em ovos, em resumo, deixando de governar para não confrontar Eduardo Cunha. Por medo do impeachment, “o pior dos mundos”, Dilma se submeteu a uma séria de humilhações e derrotas em nome da sobrevivência do mandato. Esteve a um passo do suicídio político, quando, por pouco, não livrava Cunha do risco de perder o mandato em troca do arquivamento do impeachment.

Governo é governo e, para sê-lo, tem que ter, antes de tudo, protagonismo e força política, como aconteceu no mandato passado; caso contrário, a situação de hoje, prevalece uma gestão frouxa, fragilizada e sem votos no Congresso. Como já perguntamos aqui, é hora de refazer a questão: o governo tem ou não tem apenas 171 dos 513 votos da Câmara para barrar o impeachment? Se a resposta ainda for negativa, o quadro é grave, mas não irrecuperável. Como disse o ministro Jaques Wagner (Casa Civil), Cunha decida o que quiser, e, ao governo, compete colocar o número no plenário correspondente ao seu tamanho e força.

Meios para trabalhar

No cenário político definido, ainda que de confronto, o governo terá meios para trabalhar e reaglutinar sua base. Não se trata de convencer aliados da insustentabilidade do processo de impeachment, porque o foco é outro, ou seja, quem é governo e quem está contra, quem é a favor da estabilidade possível ou de uma incerteza maior.

Nesse início do conflito, a situação política, claro, vai piorar, com efeitos ainda mais danosos à economia, porque a situação é de extrema insegurança, desde para quem pode perder o mandato (Dilma e Cunha) como para os 6 mil pais de família, que, diariamente, perdem o emprego em função da estagnação econômica. Pior do que isso, seria um governo refém de um presidente da Câmara chantagista e de uma oposição que prefere ver o sangramento da presidente até 2018 do que uma mudança pela normalidade.

O país não aguentaria isso nem o brasileiro merece continuar na incerteza e paralisia econômica e administrativa, que impediram 2015 de acontecer.

O jogo começa a ser jogado. O melhor conselho a Dilma foi dado por quem teria motivos para torcer por sua saída, o vice-presidente Michel Temer. Ela errou ao confrontar Cunha, na quarta-feira, tomou a réplica no dia seguinte e corre o risco de dar visibilidade maior à crise, mobilizando quem é a favor dela e também quem é contra. Sem a arma da ameaça na mão, Cunha jogou todas as suas fichas na mesa. Na próxima terça-feira, fará o teste sobre o acerto de sua decisão no Conselho de Ética, onde está para ser julgado por falta de decoro e outros malfeitos.
 

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