quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Enfim, o cruel teatro de horrores no qual sucumbem os brasileiros

Acílio Lara Resende

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Jornal O Tempo
01 Aconteceu o que já se esperava: o acolhimento, pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do 35º pedido (34 foram por ele arquivados) de impeachment contra a presidente Dilma. E aconteceu não porque confiávamos nele, mas porque sempre desconfiamos dele. Assinado pelos juristas Miguel Reale Júnior (ex-ministro de FHC), Hélio Bicudo (fundador do PT) e Janaína Paschoal (professora), o pedido, de 200 páginas, foi lido em sessão do Congresso na última quinta-feira.

Instantes depois, a presidente Dilma Rousseff falou ao país e, com a costumeira arrogância, fez sérias acusações contra o presidente da Câmara, que, no todo ou em parte, serão, certamente, confirmadas. Ele, por sua vez, logo depois, em entrevista coletiva, afirmou que a presidente mentiu quando disse que o seu governo não barganha votos.

A afirmação de Cunha trouxe à baila o ministro Jaques Wagner, da Casa Civil: “Quem mentiu foi ele”, disse, referindo-se a Cunha, quando este afirmou que um aliado seu se encontrara com a presidente. E, depois, foi mais matreiro ainda: “O vice-presidente Michel Temer tem longa trajetória de democrata e constitucionalista. Como nós, Temer não vê nenhum lastro para esse processo de impeachment”. Mas o vice desmentiu o ministro carioca/baiano: “Não disse isso em momento algum da minha conversa com a presidente”.

Entre mentiras e verdades (as mentiras fazem parte do cotidiano da nossa prática política), o que de fato sobra é apenas isto: a presidente Dilma, reeleita para um segundo mandato em novembro de 2014, terá que responder a um processo de impeachment, cujas consequências, que serão sempre graves, ainda não estão claras.

A tentativa do governo de transformar o acolhimento do pedido de impeachment numa guerra particular entre o bem (Dilma) e o mal (Cunha) não ajuda em nada. É de um cinismo que brada aos céus.

As declarações de Lula e Dilma, mais cínicas ainda, de que impeachment é golpe são chorumelas. Impeachment é preceito constitucional, que exige razões políticas e jurídicas. Desmemoriados, não se lembram do que o PT fez a Collor, com Lula à frente do cordão, a Itamar e a Fernando Henrique? A política, então, não requer um mínimo de coerência, honestidade intelectual e respeito à história deste país?

A tentativa do governo de agilizar o processo com a suspensão do recesso parlamentar (que até tem razões de sobra para que seja defendida) não passa de manobra e levanta uma suspeita – a de que o pânico tomou conta da presidente, do PT e dos que a rodeiam.

O PMDB tem, nas mãos, uma oportunidade histórica nesse jogo macabro e podre da política brasileira. Já imaginou, leitor, se a chance fosse do PT? Certamente, a agarraria com unhas e dentes! Eis o dilema do PMDB: ou colabora com a defenestração da presidente, que, se ficar, não salvará o país de uma grande debacle, ou a ajuda a formar um governo de união nacional, no qual sua presença seria só figurativa.

É realmente triste ver e ouvir o que diz a presidente em sua defesa. Quanto mais se defende, mais se acusa. Poupem-nos, marqueteiros em ação: retirando-a do vídeo, a sua imagem ficará melhor.
A carta de Temer a Dilma foi ruim para ambos, mas definiu o perfil humano da presidente. Já pensou, leitor, como deve tratar os súditos? E diga-me: como foi mesmo que ela se elegeu presidente? Ah, Lula, se arrependimento matasse!

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