Editorial
Jornal Hoje em Dia
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O Brasil volta a viver um fenômeno que parecia há muito esquecido, a
estagflação. Que quer dizer que o país está com a economia estagnada, em
recessão, e os preços, mesmo assim, continuam subindo,
inacreditavelmente. E tudo por causa da falta de confiança. Da parte do
consumidor, porque ele não sabe como serão os dias futuros. Então,
prefere guardar dinheiro e reduzir as compras. Dos empresários, porque
não dá para formular planos de investimentos em um período de total
incerteza.
O Banco Central, conforme especialistas ouvidos nesta edição, perdeu
totalmente a credibilidade como guardião da inflação controlada. Esticou
a taxa de juros até não poder mais. E os preços continuaram subindo. O
governo vive de expectativas. Esperava que os preços livres caíssem com a
recessão, o que não vem acontecendo.
Os técnicos chamam essa situação de inflação por inércia, que é quando
um grupo de preços sobe e acaba puxando para cima os outros grupos. É o
pior dos tempos. Cria-se um clima de total incerteza, e cada um quer
“garantir o seu”. Mas isso não poderá durar eternamente. Grandes redes
varejistas afirmam que o faturamento tem caído porque o consumidor passa
a comprar a marca mais barata, e não aquela a que ele está acostumado.
E, conforme mostra outra reportagem nesta edição, passou a ser prática
comum o hábito de barganhar preços. É como se a população estivesse em
países árabes, onde o ato de pechinchar é obrigatório. Inclusive, nas
feiras, o vendedor até se ofende se não houver uma negociação por parte
do freguês. Infelizmente, não estamos nas Arábias.
Os aumentos atingem todas as áreas. Educação, energia elétrica,
fornecimento de água, taxa de condomínio, empregada doméstica,
combustíveis, passagem de ônibus, alimentação fora de casa e,
obviamente, os impostos. Nada escapa ao temido “dragão”.
Esse monstro mitológico parecia extinto desde os terríveis anos de
1990, quando o índice de inflação chegou a bater em quase 5 mil por
cento. Veio o Plano Real e conseguiu, após vários anos, finalmente
derrotar o fantasma dos brasileiros.
As forças da economia podem superar a atual situação, mas se não houver
um governo com credibilidade e atitudes firmes e coerentes, será um
trabalho hercúleo suplantar essa dura etapa.
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