MBL, Vem Pra Rua e outros vencem cerco de setores da imprensa e levam milhares às ruas. Até o AI-5, baixado há 47 anos, foi cobrado de Kim Kataguiri, 19, e de Renan Santos, 31. Os militantes de esquerda das redações perderam a noção do ridículo. A imprensa, mais do que o governo, com raras exceções, foi a grande derrotada deste domingo. E, querem apostar?, será de novo na quarta, na passeata das esquerdas. Por sabujice!
O pior cego,
reza o ditado, é aquele que não quer ver. Era até este domingo. A
partir de ontem, o pior cego é o que mente sobre aquilo que vê — e sobre
o que não vê — para atender a uma ideologia, a um preconceito, a uma
causa ou, pura e simplesmente, à metafísica influente burra e militante
dos botecos onde se aprende que ser de esquerda é uma virtude — ou vá
lá, endossar ao menos os valores de esquerda. Apesar de amplos setores
da imprensa — e não que estes devessem ajudar, porque não é o seu papel
—, o Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua, em parceria com outros
grupos pró-impeachment, mostraram ser possível levar perto de 100 mil
brasileiros às ruas com uma semana, uma semaninha só, de mobilização.
E eles não
têm aparelhos sindicais financiados com dinheiro público. E eles não têm
movimento estudantil financiado com dinheiro público. E eles não têm
milícias fascistoides financiadas com dinheiro público, a exemplo de MST
e MTST. O Planalto diga o que quiser: sabe que os milhares deste
domingo são muitos milhões. São dois terços, no mínimo, da população. No
dia 16, as esquerdas vão para as ruas, sob a proteção subserviente
desses mesmos setores da imprensa. O governo sabe que o barulho que
farão será muito maior do que a sua real representatividade. O Brasil vê
mais longe. Em síntese: o país que quer Dilma fora é maior do que vê. O
Brasil que quer Dilma dentro é menor do que vê.
É espantoso
aquilo a que se assistiu neste domingo. O MBL, por exemplo, passou a
documentar as entrevistas, no que faz muito bem. A quase todos os
veículos, Kim Kataguiri e Renan Santos tiveram de responder a perguntas
sobre o AI-5, o Ato Institucional baixado pelos militares no dia 13 de
dezembro de 1968, há 47 anos, e que arreganhou a natureza ditatorial do
regime.
Cunha
admitiu a denúncia contra Dilma no dia 2 de dezembro. Os movimentos
pró-impeachment, compostos de pessoas que trabalham e mobilizam outros
tantos que também ganham a vida com o suor de seu rosto, costumam marcar
manifestações aos domingos para não criar embaraços adicionais à
economia do país e à vida das pessoas. Ora, o domingo seguinte à decisão
era dia 6. Em três dias, impossível organizar qualquer coisa.
Escolheu-se o domingo seguinte: este dia 13. O próximo, dia 20, já
estava excessivamente colado ao Natal. Por que diabos garotos e garotas
na faixa dos 18 aos 30 anos, na média (há gente com menos e com mais),
fariam uma homenagem ao AI-5? É uma ignomínia, é uma safadeza, é uma
pulhice fazer essa ilação!
O Movimento
Brasil Livre e o Vem Pra Rua, durante a ocupação do gramado do
Congresso, expulsaram da sua área um grupo que defendia uma intervenção
militar passageira. A maioria da imprensa preferiu ignorar o caso. Em
reiteradas entrevistas, dezenas, centenas de vezes, os rapazes e moças
deixaram claro que são contra qualquer interferência dos militares. Mas
lá estavam os jornalistas cobrando que falassem de novo. E, desta
feita, associando a questão militar ao… AI-5!
A pauta não é
apenas safada. É ignorante também. O AI-5 implicou manietar o
Congresso, torná-lo irrelevante, eliminá-lo do universo das decisões.
Quem, hoje, defende o impeachment, ora vejam, por definição, está a
pedir altivez do Congresso na sua relação com o Executivo. Os que pedem o
impeachment se opõem é ao AI-13.
Não foi só
isso. Os organizadores do protesto foram abordados por representantes da
SPTrans, da Guarda Civil Metropolitana e da CET. Qual era o busílis?
Ora, as manifestações na Paulista estariam agredindo o direito daqueles
que querem usar a avenida como lazer, segundo a política abraçada pelo
digníssimo alcaide. Sim, senhores! Até ciclistas dispostos a sair na
porrada foram mobilizados. Independentes como mercenários, vociferavam
contra o que seria uma usurpação. Como Fernando Haddad já expulsou os
pobres da Paulista aos domingos, agora seus ciclofascistas também querem
eliminar os que não rezam pela cartilha do PT e do prefeito.
E, ora
vejam, havia jornalistas fazendo uma espécie de segunda voz à
“reivindicação”. Quanto foi que vocês viram a imprensa fazer coro com
CET e Guarda Civil Metropolitana contra protestos na Paulista?
A emergência
de movimentos de inequívoco apelo e penetração popular, como o MBL e o
Vem Pra Rua, que, não obstante, não têm uma agenda de esquerda, deixa a
imprensa sem discurso. Os jornalistas, para cumprir a metafísica dos
botecos, querem pespegar neles a pecha de reacionários; bem, eles não
são. Querem pespegar neles a pecha de violentos; bem, eles não são.
Querem pespegar neles a pecha de defensores da ditadura militar; bem,
eles não são. Querem pespegar neles a pecha de adversários da
pluralidade e da diversidade; bem, eles não são.
Restou acusá-los de adversários dos ciclistas — o que, de resto, eles também não são.
De fato, há
47 anos, no dia 13 de dezembro de 1968, uma camarilha achou que poderia
eliminar a oposição, os adversários, os que não vergavam a cerviz. Os
que convocaram as manifestações deste domingo encarnam o melhor espírito
daqueles que organizaram a resistência pacífica ao AI-5 e que foram
vitoriosos. Os herdeiros intelectuais dos que escolheram o terrorismo
estarão nas ruas no dia 16 para defender o roubo virtuoso, a pedalada
virtuosa, o assalto institucional virtuoso.
Os que foram
fazer bullying com o MBL não sabem. Mas dia 13 de dezembro também é o
Dia do Cego e o Dia do Oculista. Além de ser dia de Santa Luzia, a
protetora dos olhos.
O pior cego é o que mente sobre aquilo que vê.
O pior cego é o que mente sobre aquilo que não vê.
Para
encerrar: que os chefes de redação não se acomodem no conforto de que,
se tanto MBL como petistas reclamam da imprensa, então é sinal de que
esta escolheu a virtude. Não!
Pode ser
apenas um sinal de que ela está como o desgraçado de I Juca Pirama, o
poema de Gonçalves Dias: “Rejeitado da morte na guerra/ rejeitado dos
homens na paz”. O fato de que se possa desagradar a dois lados que
disputam uma narrativa não implica que se esteja contando uma boa
história. Ou a verdade.
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