Elza Fiuza-29/9/1992
Em 29/9/1992, o impeachment foi aprovado. Collor foi afastado e substituído pelo vice, Itamar Franco
Em 29/9/1992, o impeachment foi aprovado. Collor foi afastado e substituído pelo vice, Itamar Franco

Alguns dos principais deputados mineiros que votaram a favor do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 1992, não chegam a um consenso quando o assunto é a comparação com o atual cenário, em que a presidente Dilma Rousseff (PT) enfrenta um processo de impeachment.
Para Tarcísio Delgado, que na época era filiado ao PMDB e favorável à queda de Collor, a única semelhança é o nome impeachment. Ele relembra que Collor tinha se envolvido diretamente em casos de corrupção, e estava sozinho.

“Eram raras as vozes a favor dele. O processo no congresso teve muita polêmica, muita discussão, mas já se sabia que era só esperar o processo correr, e que não tinha muito o que fazer. Hoje há problemas, mas vai depender muito da opinião pública. Se houver uma pressão muito grande nas ruas, ela vai ser cassada”, opina.

Delgado destaca que a presidente tem rejeição alta e pouca credibilidade, mas a conduta dela é totalmente distinta da de Collor. Por isso, acredita que haverá uma campanha forte para defendê-la, ao contrário do que aconteceu em 1992.

“Ninguém foi para a rua defender o Collor, e na véspera do julgamento houve uma unanimidade nacional. Hoje Dilma é defendida por alguns nomes fortes. Apesar de o PT ter caído muito, ainda tem as lideranças sindicais, tem o Lula, que foi e é forte”, avalia.
Já o deputado Bonifácio de Andrada (PSDB) acredita que há instrumentos jurídicos que justifiquem a saída da presidente Dilma.

Em 1992, ele votou a favor do impeachment de Collor e afirma que repetirá o sim no caso de a cassação da presidente Dilma ir a plenário para votação. “O caso agora é até muito mais amplo que naquela época. Há indícios generalizados de corrupção e problemas sociais e econômicos começam a surgir por causa dos escândalos.

Além da série de irregularidades, há ainda as falhas legais, como as pedaladas”.
Também dono de uma cadeira na Câmara dos Deputados nos anos 90, Aloisio Vasconcelos, ligado ao PMDB, votou pela cassação de Collor.

Hoje, no entanto, ele afirma não ter tanta clareza da situação. “Estou afastado da política e é difícil para fazer uma avaliação. Mas a impressão é a de que não há clarividência com relação à Dilma. Com o Collor, o motivo era cristalino”.

Juristas

O jurista e professor de Direito Ives Gandra é um dos principais entusiastas do impeachment. Para ele, há bases legais, que relacionam os escândalos de corrupção na Petrobras à presidente Dilma, e isso seria suficiente para a cassação de seu mandato.

Por outro lado, o jurista Dalmo Dallari, que emitiu parecer contrário ao impeachment de Dilma, em 2015, argumenta que não há base jurídica para que a presidente seja afastada do cargo.

Caras-pintadas divididos sobre a impugnação da presidente

Os 'caras-pintadas' foram decisivos no processo de impeachment de Collor
Os 'caras-pintadas' foram decisivos no processo de impeachment de Collor. Foto: Ubes/Divulgação/Arquivo Hoje em Dia

Decisivos para a derrubada do ex-presidente Fernando Collor, em 1992, os caras-pintadas daquela época se dividem hoje sobre a possibilidade de impeachment de Dilma Rousseff.

Enquanto alguns dos que gritaram “Fora Collor” clamam também pela saída da presidente, outros se recusam a pintar o rosto de verde e amarelo e ir às ruas protestar contra o governo.

Musa do movimento dos anos 90, a empresária Cecília Lotufo, de 40 anos, foi uma das primeiras a colorir o rosto e escrever nele a palavra “Fora”. Aos 17 anos e cheia de vontade de contribuir para um Brasil melhor, ela foi a todos os protestos naquela época.
“As provas eram muito consistentes. Aquilo mudou minha vida e a história do país”, lembra.

Mais de 20 anos depois, Cecília não sai de casa para pedir a cassação da presidente. “Não que pactue com as decisões que o governo vem tomando. Mas o pedido de impeachment tem outro viés. Há muita especulação e jogo político”, diz ela, que hoje é casada, mãe de dois filhos e ativista social no bairro onde mora, em São Paulo. Também é uma das fundadoras do Moviment a ocupação dos espaços públicos.

A farmacêutica Márcia Escamilla Demestre era uma adolescente de 16 anos quando o pai, o engenheiro Alfredo Vidal a levou, junto com as irmãs, para o Centro de São Paulo, ponto de encontro dos caras-pintadas. Hoje, é ela quem estimula a participação da família, inclusive dos filhos pequenos.

“Aquilo foi um acontecimento muito marcante. E agora faço questão de levar as crianças para protestar contra o governo atual. O Brasil não aguenta mais esse coronelismo do PT. E o descontentamento com a Dilma é geral”, afirma Márcia, que se declara a favor da cassação do mandato da presidente.

Insatisfeito com o governo Dilma, o artista plástico Júlio Hubner repete hoje o ritual de mais de duas décadas atrás. Pinta o rosto de verde e amarelo e sempre participa dos protestos anti-PT com a bandeira nacional nas mãos.

“Fui a vários protestos contra o Collor na Praça 7, que era onde o pessoal se concentrava. E hoje estou em todas as manifestações contra a Dilma. Em nome do projeto de poder, o PT extrapolou todos os limites. O desfalque atual nas contas públicas é infinitamente maior que na época do Collor. É preciso uma mudança já”, diz.

Presidente no alvo